Apesar da redução, comercialização de bombons disparou, sendo considerado pelo setor como o carro-chefe do feriadão
A crise econômica causada pela Covid-19 mostra mais um ano a real dimensão e os supermercados do Rio Grande do Sul registraram uma Páscoa atípica. Diferente de outros anos, em que os estoques de ovos de chocolate eram vendidos principalmente nos três dias que antecediam a data, desta vez, a maioria dos produtos foi comercializada com maior antecedência.
Segundo o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, as lojas do setor adquiriram um volume em média 15% menor de ovos de chocolate do que no ano passado. “O consumidor, receoso do grande movimento, na última hora antecipou as compras, ocasionando um esvaziamento das parreiras de ovos de Páscoa no último final de semana”, pontua. Carros-chefes de vendas neste ano, as caixas de bombons e pequenas cestas de produtos foram os itens mais procurados, e as vendas totais de Páscoa ficaram em média 5% menores do que em 2020.
Segundo Longo, ao contrário de outros anos em que os supermercados registravam uma sobra de cerca de 5% a 7% dos estoques ao final da data, em 2021 praticamente 100% dos ovos de Páscoa adquiridos foram vendidos até o domingo, 4 de abril. O presidente da entidade destaca também que o consumidor se mostrou inclinado a presentear mais pessoas, mas neste ano com itens menores e mais baratos. “No lugar do ovo de chocolate grande, o consumidor adquiriu três ou quatro caixas de bombons ou pequenos ovos, presenteando pessoas importantes do convívio. Percebemos que nesta Páscoa os gaúchos agraciaram os profissionais que fizeram a diferença durante a pandemia. A babá que cuidou das crianças, o porteiro que esteve na linha de frente garantindo a segurança do prédio, o colega de trabalho que se desdobrou para cumprir as tarefas. Os heróis do dia a dia foram mais presenteados”, sublinha.
Destaques em vendas, as caixas de bombons registraram crescimento de 8% em relação ao ano passado. Os pescados, comercializados em sua maioria congelados, também cresceram 5%, mostrando a importância da Sexta-Feira Santa para os consumidores.
Data não foi suficiente para recuperação
Como era de se esperar para o presidente do Sindilojas Regional Bento, Daniel Amadio, a comercialização apresentou retração na data. Segundo ele, a queda foi de 3% em relação ao ano passado. “A exceção foi os estabelecimentos que trabalharam com o principal produto da Páscoa, o chocolate. Estes tiveram um resultado melhor para o momento, pois se considerarmos o que foi estocado do produto, ficou inferior aos outros anos. Houve uma cautela maior na hora de negociar com fornecedoras, pelas incertezas que o momento apresenta”, sublinha.
Para Amadio, os meios eletrônicos ainda não se adaptaram à venda de chocolate, o qual depende do presencial. “Além disso, sabemos que 28% da renda familiar está comprometida com dívidas, o que reduz o poder de compra e de maior endividamento na hora de sair para adquirir os produtos”, analisa o presidente da entidade.
Ainda não é possível mensurar quando o setor recuperará as perdas acumuladas. O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Marcos Carbone reitera que “as flexibilizações pré-feriado ajudaram a amenizar suavemente a situação para alguns estabelecimentos de nichos específicos, porém são medidas paliativas diante do contexto macro enfrentado pelo setor: empresas com fluxo de caixa prejudicado, com quedas de faturamento, com perda de colaboradores”.
Ele questiona a validade de aplicar as medidas apenas no último dia útil antes do feriado pelo governo estadual. “Proposta incoerente diante do objetivo de reduzir aglomeração, pois obriga as pessoas a concentrarem as compras em um único dia. Muito melhor teria sido trabalhar a flexibilização de forma continuada. Muito mais do que medidas pontuais antes de datas comemorativas, é preciso que haja um plano de recuperação para o comércio. E, enquanto ele é elaborado, que sejam concedidas as mínimas condições de trabalho e manutenção de atividades para os empreendimentos do setor”, respalda Carbone.
Com o setor hoteleiro não foi diferente. Poucas reservas foram feitas durante o feriado em uma das cidades turísticas da Serra. A diretora do Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria (Segh), Márcia Ferronato, lamenta que a data passou no “vazio”.
Segundo ela, a taxa de ocupação girou em 11% da capacidade permitida pela bandeira preta, considerando duas diárias, de sexta a domingo. “Outro ponto a considerar é que tantas semanas com restrições, penalizando o turismo e a gastronomia, provaram que não é o setor que contamina, e que este modelo de abre e fecha não funciona. Seguimos na incerteza. O momento é desafiador, onde o combate ao contágio e cuidados com a saúde são primordiais, mas considerar a saúde mental e econômica dos negócios, empresários e equipes também é essencial”, ressalta Márcia.
Foto capa: Franciele Zanon