Em dias tão frios, famílias em situação de vulnerabilidade padecem para se aquecer. Isto porque, em muitos casos, faltam casacos, cobertores e até calçados que protejam das baixas temperaturas da Serra Gaúcha. Além disso, matar a fome pode ser um desafio diário para quem não tem condições de comprar o básico. É neste momento que a solidariedade entra em ação, pois doar um pouco pode significar muito para alguém que precisa.
Da Paróquia Cristo Rei, o grupo Cáritas realiza ação social ao menos uma vez na semana com o objetivo de ajudar pessoas do município. No local, na Rua Duque de Caxias, próximo à Maria Fumaça, há doação de roupas, como também a venda das mesmas por valor irrisório. O valor arrecadado é revertido em alimentos que também são doados. A coordenadora do grupo, Elenice Gasperin, conta que antes da pandemia havia 20 voluntários. “Hoje temos 12, porque aquelas senhoras mais idosas não quiseram mais voltar, a família não permitiu o retorno delas, algumas tiveram situações de saúde, então foi complicado”, explica.
Segundo Elenice, o espaço fica aberto para as pessoas, independente de que bairro moram, para possam buscar aquilo que necessitam. “Alimentos nós doamos para as famílias que moram nas localidades pertencentes à comunidade da Paróquia Cristo Rei. São 24 bairros da Zona Norte de Bento. Mas ninguém vai embora sem mantimentos, então dou alguma coisa e oriento para onde eles têm que se dirigir, São Roque ou Santo Antônio”, explica.
Aqueles que pertencem a bairros dirigidos pela Igreja da Cidade Alta dão o endereço e são visitados pelos voluntários. “Depois disso, cadastramos a família e a gente vai avaliando se está vindo de fora, se está sendo encaminhada para um trabalho, então ajudamos por alguns meses até dar uma estabilizada”, esclarece. A coordenadora também afirma que após conseguirem emprego, outras pessoas passam a ser ajudadas. Tudo vai de acordo com a situação de cada núcleo familiar, se há muitas crianças, problemas sociais ou idosos em situação de abandono.
Conforme explica a voluntária, a demanda aumentou muito desde que iniciou a pandemia, pois há quem esteja com dificuldade de conseguir trabalho. “Eles não têm uma carteira assinada, não tem benefícios. Também há gente de outros estados, principalmente do Pará e demais lugares do Nordeste, muitos vindo de outros países, os haitianos, os venezuelanos. Essas famílias a gente encaminha para a Santo Antônio, que lá tem a Pastoral do Imigrante, mas para buscar roupas é aqui que eles vêm”, assegura.
Nos últimos meses, uma das grandes preocupações de Elenice é a falta de doações de itens de inverno, que estão em falta no Cáritas. “Recebemos muitas peças de verão, uma roupa muito usada, com qualidade ruim, que infelizmente a gente sabe que alguns não têm onde descartar e colocam para doação. Não fazem a pergunta: ‘alguém vai usar essa roupa?”, lamenta.
Para que itens sem condições de uso não cheguem às mãos de quem necessita, é realizada triagem de tudo o que é doado. No local, há uma mesa para doações e roupas selecionadas para venda. “Com esse dinheiro, compramos os alimentos para ajudar as 350 famílias que temos cadastradas. Trabalhamos com a Pastoral da Criança do bairro Municipal, ela recebe do Cáritas cestas básicas, fraldas pediátricas, e também suplementos alimentares, que seria o leite daquela mãe que não tem condições de amamentar por uma situação dela ou do bebê. É tudo vindo dessa venda dessa roupa, que algumas vezes é R$1 ou R$2. De pouco em pouco, faz a grande diferença”, enfatiza.
Elenice sustenta que a equipe não trabalha com a Campanha do Agasalho. “Essas roupas vêm das nossas comunidades, de pessoas que vêm diretamente dar aqui para nós. Muitas vezes ouvimos que o Cáritas estaria vendendo essas roupas. Nós vendemos sim, mas elas não vêm da Campanha”, realça.
Apesar de cobrarem por alguns itens, quem chega sem condições de pagar, recebe doações. “A gente dá roupa independente se ela pode ou não pode pagar. A mesma coisa com os alimentos. Ninguém sai daqui sem nada, ao menos para aquele dia, eles vão ter alguma coisa para se alimentar”, garante.
Sobre a sensação de fazer o bem, Elenice confirma que é gratificante. “Estou nisso há mais de 12 anos e sempre quis fazer trabalho voluntário, mas não tinha condições. Sempre tive essa meta, que o dia que me aposentasse, partiria para o voluntariado. É cansativo, porque temos muito trabalho, tanto aqui no Cáritas como na Pastoral da Criança. Mas nos deixa com muita satisfação, porque a gente vê pelo pouquinho que fazemos por aquela pessoa, o quanto que ela tem de gratidão. Isso é uma coisa que quem quiser conhecer nosso trabalho, ser um voluntário do Cáritas, me procure. Estou aqui todas as quartas-feiras, para que a gente fazer com que elas conheçam e se integrem nesse grupo que está precisando”, ressalta.
Como doar
As doações podem ser entregues na Cáritas nas quartas-feiras à tarde, das 13h até as 17h; na secretaria da Paróquia Cristo Rei, que funciona em horário comercial; ou na paróquia, que fica aberta desde às 9h30, até as 19h, depois da missa. A ação solidária necessita de alimentos, fraldas, cobertores, roupas e calçados.
Ajuda para reconstruir a vida
O vereador Edson Biasi, há cerca de 10 anos, começou a arrecadar móveis e itens de casa para realizar doações a quem precisa. “Começou com pouco e foi ‘viralizando’, são todas coisas ganhadas. Nos últimos tempos estão sendo doadas para quem vem de fora para Bento, mas também tem pessoas daqui que buscam ajuda”, expõe.
Segundo Biasi, é bem simples para retirar os itens do local. A pessoa vai até o galpão, olha o que tem, e leva o que precisa. “Essa ideia surgiu com a fundação da Associação Churrasco Campeiro Família Alagoense e Ciriaquense. Primeiro a gente doava parte do lucro para instituições, aí começou a aumentar a circulação de coisas e fiz esse puxado para guardar”, lembra.
Ademais, o parlamentar também guarda roupas para doação em sua garagem. No mês passado realizou a doação de cerca de duas mil peças de roupas no bairro Fátima. “Vamos fazer, dia 24, doação no Santa Rita, no Salão da Comunidade, das 9h às 16h. Serão quatro mesas, para calçados, roupas infantis, femininas e masculinas”, menciona.
Para doação de móveis e roupas, entre em contato pelo telefone (54) 99948-8747.
Fotos: Thamires Bispo