Jane Krüger

Como assim, só “Setembro Amarelo”?! Devia ser “Ano Amarelo”. Porque, enfim, é
profundamente lamentável o que vem acontecendo. Segundo a OMS, uma pessoa tira a
própria vida a cada 40 segundos. Um relatório emitido pela ONU, apontou que o suicídio é a
segunda principal causa de morte entre jovens com idades entre 15 e 29 anos. Crianças
estão se matando como nunca antes. Cerca de 800 mil pessoas morrem desta maneira
todos os anos, superando o número de pessoas que falecem por doenças como câncer de
mama, malária, dengue e até mesmo as guerras (sabemos, no entanto, que os números
são bem maiores, pois muitos suicídios acabam passando por “acidentes”). Carecemos
falar mais sobre isso e não só em setembro! Se não queremos mais ver tantas mortes,
temos que falar mais da vida, sobre sua essência, sobre o que importa. Precisamos falar
verdades que doem, mas verdades podem curar e fazer viver. Então, vamos começar
discorrendo sobre algo fundamental, que é elementar, um direito sagrado: O direito da vida.
Ela é tua. Sim, dizem por aí:

– A vida é minha e eu faço dela o que quiser.
Será mesmo? Será que a vida só é daquele que a tem em seu corpo? Será que a
vida pertence só a você unicamente e verdadeiramente? Interessante que, vou mencionar
um único e simples exemplo, já ouvi de tantos pais, que ao falarem acerca de seus filhos,
dizem: Ahhh, meus filhos…são meu tudo, são minha vida!
E se a vida destes filhos de alguma forma é tirada, isto quer dizer, que parte da vida
destes pais também é “aniquilada”?! Estudos nos mostram enfaticamente que, quando uma
pessoa se suicida, pelo menos cento e vinte pessoas são impactadas de forma profunda
por essa tragédia. Traumas, ressentimentos, muita dor, culpa e infelizmente o efeito Copy
(onde outras pessoas sentem-se “motivadas” pelo exemplo e acabam por fazer o mesmo)
são alguns dos resultados gerados. O pior de tudo é que a dor de uma pessoa não termina
quando ela se mata. Ela se amplifica ainda mais, mas nas pessoas que ficam. Existem
casos, em que os pais ou familiares simplesmente não conseguem superar e continuar a
sua vida normalmente. Contudo, você pode muito bem me dizer: – Discordo, acredito sim, a
vida é minha, ninguém tem nada a ver com isso, tenho o direito de fazer com ela o que eu
bem quiser e ponto final.
Certo! Contudo, precisamos lembrar que, todo direito repercute, indubitavelmente,
também, em dever. Você tem o direito à vida por lei e estatuto e pelo que mais quiser
pontuar, contudo, assim como temos o direito, temos também o dever de cuidar, zelar pela
mesma com apreço e responsabilidade. É. Sei que esta palavra não é muito bem quista
hoje em dia: RESPONSABILIDADE! Entretanto, precisamos compreender, “a minha vida
não se trata só da minha vida”, e por que? Pelo simples fato que a minha vida impacta
vidas, SEMPRE! Estamos entrelaçados na teia da existência e é incrível como estamos tão
distantes desta consciência: a minha vida importa e muito! O que eu faço influencia
centenas de outras pessoas, para o bem ou para o mal. Para a motivação ou
desesperança. Diante disso, o que venho propor em nossa reflexão hoje, é entendermos
que, se a vida não está fazendo sentido, eu preciso parar e procurar compreender o por
quê, onde me perdi, onde me desconectei? Do que me afastei? De mim mesmo, dos outros,
da espiritualidade? Com quem me frustrei? A quem não perdoei? O que preciso de fato?
Viktor Frankl, o psicanalista do sentido da vida, ao falar com pessoas que não encontravam
mais prazer em viver e que não viam que “a vida lhes pudesse oferecer mais muita coisa”,
dizia:

Vocês estão fazendo a pergunta errada! A questão não é: O que a vida pode me
dar, mas, o que a vida espera de mim?
Como vocês já devem ter visto por aí e o sabem muito bem, depressão é doença e
não é frescura. O vazio existencial também é aterrador, mas ao meu ver, e me desculpem
os que vão me odiar pelo que vou dizer, mas ninguém, absolutamente ninguém tem o direito
de tirar a sua vida. Sabe por quê? Porque a tua vida a bem da verdade, não é tua. A tua
vida é sagrada. A tua vida pertence, sim, a D’us (com o nome que você dá à Ele) e um
pouco também pra todo mundo, teus pais, teus professores, teus cuidadores, os médicos
que te trouxeram a esse mundo e vai ver lá quanta gente deu do seu tempo e da sua vida
para que você pudesse viver e chegar até este momento de sua história. Você deve a sua
vida para todos aqueles que de alguma maneira te serviram e ajudaram e, do mesmo modo
que estes fizeram por ti, outros dependem de sua existência, do teu “servir” de alguma
maneira, para ser, se desenvolver e viver também! Você, talvez, não sabia até agora de
forma tão profunda o que venho, ousadamente, mas com muita humildade lhe dizer: Você
impacta o mundo sim e muito mais do que possas imaginar. A tua vida importa! Então, pelo
amor de D’us, pelos amor dos teus pais, filhos, amigos, vizinhos e mais uma carrada de
gente que estás agora a lembrar, ao invés de pensar em se matar, procure ajuda, busque
profissionais da saúde mental, procure o padre, o pastor, a vizinha, quem quer que seja,
mas honre a vida que lhe foi dada e ao invés de se vitimizar frente à todas as adversidades
que tem passado na vida, você possa se responsabilizar, assim como Abraham Joshua
Heschel dizia, “numa sociedade livre alguns são culpados, mas todos são responsáveis” e
então, possas compreender genuinamente: “Com a tua vida você pode literalmente salvar
vidas, agora, se escolhes a morte, assuma também a verdade, não só teu assassino serás!”