Ativista da causa explana como funciona a rede de proteção aos pets em Bento Gonçalves
Recentemente, um cachorro foi encontrado em situação de maus-tratos e recolhido de uma residência no bairro Santa Rita, em Bento Gonçalves. O caso ocorreu no dia cinco de dezembro, quando policiais foram ao local depois de receberem denúncias. Ao chegar lá, se depararam com o cão sem condições de higiene, alimentação e demais cuidados. Ele foi encaminhado para uma clínica veterinária para ser tratado. Porém, sexta-feira, 17, o animal acabou falecendo devido a idade avançada.
Dentro desse âmbito de proteção e resgate a pets, Fernanda Juliana, uma ativista da causa animal, idealizou o grupo “Help Pet Bento Gonçalves”, no Facebook, para servir como um canal de denúncias sobre casos semelhantes ao que ocorreu em início de dezembro. Ela é atuante no tema e explica que já enfrentou muitos desafios para cumprir com o dever que assumiu.
Da denúncia ao acolhimento
Fernanda explica que o trabalho de protetores independentes na cidade surte bastante efeito na proteção animal. Segunda ela, a tarefa que transcorre da denúncia até o recolhimento e ajuda ao pet “é um trabalho de formiguinha, mas lentamente as pessoas estão acordando para os casos de maus-tratos e denunciando”, percebe.
Quanto ao ato de denunciar, a ativista defende que o advento de algumas tecnologias beneficiou o dia a dia de quem se importa e atua na causa. “A internet causou uma verdadeira revolução no ativismo. As postagens sobre animais que precisam de resgate causam comoção nas redes. As pessoas fazem a denúncia. Com sorte, algum voluntário aparece para ajudar”, analisa.
Na hora de recolher os animais, ela lembra que se deparou com vários tipos de maus-tratos, que vão desde pets deixados sem água e comida, até situações mais extremas, como mutilações, queimaduras, esquartejamentos e estupros. Essas cenas, segundo Fernanda, são constantes durante sua luta contra violência.
Perigos na ação voluntária
No momento em que é denunciado um pet em condições deploráveis, protetores independentes aparecem, tentando resgatar o animal. Ao longo dessa tentativa, porém, pode surgir algum risco para eles. Fernanda relata que já teve armas apontadas para a cabeça em situações de recolhimento. “Tive que trocar de carro e de número de telefone devido as ameaças constantes”, lembra.
Pessoas que lidam com o resgate do animal acabam passando por uma carga emocional alta, pois interagem com os indivíduos que cometem esses crimes com cachorros, gatos e demais seres. A preocupação segue após recolhimento, pois protetores ainda precisam pensar aonde levar o pet, se ele vai precisar de atendimento veterinário, remédios e um possível novo lar.
Esforços do poder público
A Prefeitura de Bento Gonçalves, através da Secretaria da Saúde, auxilia nas castrações de animais na cidade e, neste ano, houve um investimento de R$ 160 mil para realização das operações. Isso é destacado por Claudiomiro Laurindo Dias, que está à frente da Secretaria do Meio Ambiente (SMMAM). Segundo ele, já foram realizados 1.027 procedimentos desse tipo.
Dias menciona que a pasta auxilia na fiscalização em algumas denúncias de maus-tratos, dando apoio ao Conselho do Bem Estar Animal. “Com o código de proteção animal, que está em tramitação na Câmara, será possível ter ações mais efetivas. A Secretaria também irá retomar no próximo ano as ações de posse responsável nas escolas, com conscientização sobre o bem estar animal e adoção”, explica.
A respeito de auxílio do poder público, Fernanda diz que existe urgência em ser criado um Departamento do Bem Estar Animal dentro da SMMAM. Um local que sirva para receber denúncias, averiguar casos e encaminhar pets para tratamento, quando necessário. “Sem dúvida o auxílio humano e financeiro seria muito bem vindo se a prefeitura disponibilizasse”, comenta.
Ações da polícia
Os maus-tratos são considerados atos criminosos contra um outro ser. Dentro disso, quando uma ocorrência chega ao conhecimento das instituições de segurança, há uma série de ações a serem feitas. A Polícia Civil, por exemplo, tem como prática a abertura de inquérito e a investigação de autoria do delito.
O delegado Renato Nobre, da 1ª Delegacia de Polícia Civil (DP) de Bento, esclarece que muitas denúncias têm chegado recentemente. “Nos últimos casos que aconteceram na região, foram três inquéritos policiais, sendo que dois deles efetivamente tiveram os maus-tratos e as pessoas foram indiciadas pelo crime, com pena de dois a cinco anos”, informa.
No que diz respeito às competências públicas da 1ªDP e outras frentes de segurança pública da cidade, Nobre afirma que tudo vem sendo realizado da maneira cabível. “A polícia investiga sim, relata o inquérito e encerra o procedimento no âmbito policial”, pontua.
Fotos: Patrulha Ambiental/ Patram