Produtores e entidades gaúchas intensificam sua campanha pela suspensão do uso de herbicidas hormonais, como o 2,4-D, responsáveis por perdas significativas em vinhedos e outras culturas

A demanda, que ganha força com o apoio de parlamentares e entidades do agronegócio, busca um período de recuperação para as culturas afetadas e a busca por alternativas mais seguras. O presidente do Conselho de Vitivinicultura do Estado do Rio Grande do Sul (Consevitis), Luciano Rebellatto, detalhou os impactos e as motivações por trás da proposta. “São praticamente dez anos, se não mais, que a gente vem tentando, alegando que existem prejuízos muito grandes provocados por esses produtos hormonais”, afirma Rebellatto. Ele ressalta que o problema não se restringe à uva, atingindo também oliveiras e a fruticultura em geral, devido à deriva do produto. “Ele não atinge o seu alvo e acaba sendo levado pelo vento ou por influências climáticas a outros locais, cultivares e pomares, o que acaba atingindo, prejudicando. Como herbicida, claro, o nome já diz: ele mata ervas daninhas e mata, então, no caso ali do assunto agora, as videiras e outros pomares”, explica.

Uma década de prejuízos
Ao longo da última década, tentativas de regramentos mais rígidos por parte da Secretaria da Agricultura do estado não surtiram o efeito esperado. Normas sobre velocidade do vento, umidade, temperatura e a obrigatoriedade de informar o momento da aplicação foram implementadas, mas os prejuízos persistiram. “Não tivemos sucesso, continuamos com muitos prejuízos, principalmente na uva”, lamenta Rebellatto.
Com a situação se agravando, o tema ressurgiu com mais intensidade, impulsionado por audiências públicas em diversas regiões e o engajamento de parlamentares como o deputado Elton Weber. Diante da dificuldade em obter uma proibição total, a proposta de suspensão surge como um caminho intermediário. “Esse pedido foi realizado para possibilitar a recomposição das videiras, ou seja, elas conseguem ter um espaço ali, uma janela sem ter esse contaminante. Talvez esse tempo seja indeterminado, talvez seja de três anos, não há uma determinação de intervalo, mas nesse período que a gente tem a suspensão, conseguimos uma recuperação das entidades de videira ou das frutas em geral”, detalha o presidente do Consevitis.
A indústria, segundo Rebellatto, também tem colaborado, buscando ativamente um substituto para os herbicidas hormonais, a fim de garantir a produção de grãos sem causar danos a outras culturas. O presidente cita o exemplo da vinícola Bárbara Eleodora, em Minas Gerais, que cultiva soja e uva a menos de dez metros de distância, demonstrando a viabilidade da coexistência entre as atividades sem prejuízos mútuos. “É possível, sim, trabalhar com grãos e sem causar prejuízos à videira”, enfatiza.

Coexistência e valor agregado
Apesar dos conflitos, Rebellatto faz questão de ressaltar que o setor da uva não é contra a produção de soja ou os produtores de grãos. “Nós estamos falando é do produto, do principiativo que existe dentro desses herbicidas, que pela sua volatilização muito fácil ou pela viagem dele junto às influências climáticas de uma forma muito fácil, ele acaba prejudicando os vizinhos ou as outras atividades. A premissa fundamental que norteia a discussão é que nenhuma atividade deve ser superior à outra ou deve, para se manter, prejudicar as outras”, esclarece.

Desafios e a importância da conscientização
O Consevitis reconhece que não possui poder de fiscalização, mas foca na conscientização e no diálogo com as entidades que detêm essa prerrogativa. “Não há alguém que seja melhor do que o outro. Nós somos todos produtores reais. O que nós temos é que encontrar uma situação em que possamos os dois produzir sem um prejudicar o outro”, defende Rebellatto.
Apesar da soja ser um dos maiores produtores em volume, o presidente do Consevitis destaca o valor agregado das culturas como a uva e a oliveira. Ele ressalta que a fruticultura emprega significativamente mais pessoas do que a monocultura de grãos, contribuindo para o desenvolvimento local. A proposta precisa, agora, da aprovação do governo do estado. O monitoramento da eficácia dessa suspensão, ainda será definido, com a escolha de um órgão para os testes de análise, bem como para a fiscalização da medida.