É normal uma pessoa ficar ansiosa por conta da resposta psíquica natural do ser humano frente a alguns acontecimentos. Quando a situação sai do controle, entretanto, é hora de procurar ajuda
O mundo está mudando e, com ele, o modo como o ser humano lida com a própria vida também está em transformação. Há algum tempo era pouco comum ouvir falar em ansiedade como algo que precisa ser diagnosticado, mas a palavra tinha o significado mais voltado para apreensão, preocupação ou inquietude.
Quando as pessoas estão na expectativa de que algo aconteça, costumam dizer que estão ansiosas. Segundo a psicóloga Renata Cimadon, essa é uma afirmação correta, pois a ansiedade é uma resposta psíquica natural do ser humano frente a situações de medo e excitação. “Ela cumpre funções cognitivas e emocionais, fazendo parte do sistema de defesa natural, que trata de garantir a sobrevivência do indivíduo. Todos, em algum momento da vida, já se sentiram ansiosos, isso é natural e esperado. Quem nunca ficou ansioso na véspera de uma prova, numa entrevista de emprego, antes de sair com uma pessoa especial ou ainda na hora de tomar uma importante decisão?”, indaga.
Apesar da resposta normal do corpo frente aos anseios do dia a dia, há também a chamada crise de ansiedade, que merece atenção e demanda tratamento psicológico ou psiquiátrico. O psiquiatra do Hospital Tacchini, Rodrigo Tramontini, explica que esses episódios são denominados como crises de pânico, que ocorrem como um alarme falso e inconsciente da mente, que tenta alertar sobre alguma ameaça, mesmo que ela não seja real. “São caracterizadas por medo ou desconforto emocional intenso e abrupto, nem sempre com uma causa aparente. São comuns palpitações, falta de ar, sudorese, formigamentos pelo corpo, aperto do peito ou no pescoço, tremores, tonturas e sensação de estar prestes a morrer, perder o controle ou enlouquecer”, pontua.
Para Renata, existem diversos fatores que podem a desencadear a ansiedade, porém, eles são bem individuais de cada sujeito. “Tem relação total com a história de vida de cada um. O que pode gerar uma crise para mim, pode não gerar em outra pessoa”, realça.
A ansiedade, segundo o Tramontini, não é uma doença quando ocorre pontualmente, até porque é necessário ter algum grau dela para defesa própria, motivação e planejamento do futuro. “Porém, quando ela é exagerada e persistente, pode se transformar em um transtorno. Nesse caso, há um prejuízo no funcionamento do indivíduo, que pode começar a apresentar sintomas persistentes e característicos, como preocupações excessivas, agitação, tensão muscular, irritabilidade, insônia, dificuldades de concentração e memória, cansaço e crises de pânico”, salienta.
Existem medicamentos que podem ser receitados por um psiquiatra para os casos mais graves, mas Tramontini sublinha que a necessidade de ansiolíticos deve ser avaliada pelo profissional. “Os remédios normalmente são prescritos quando há um prejuízo muito significativo ou caso não ocorra melhora com outras medidas, como psicoterapia ou mudanças de estilo de vida, por exemplo. Na maioria dos casos a medicação precisa ser usada apenas por um período, mas isso também deve ser avaliado pelo médico”, elucida.
Pandemia impactou na saúde mental
De acordo com Renata, após a crise causada pelo coronavírus, aumentou o número de pessoas que desenvolveram ansiedade e hoje precisam fazer terapia periodicamente. “A pandemia impactou todas as pessoas de diferentes formas, e cada indivíduo sofre, lida e reage também de um jeito próprio, mas abalou muito a saúde mental das pessoas num geral. Então é possível perceber um aumento considerável na busca por acompanhamento psicológico”, relata.
Momento de buscar ajuda
A psicóloga orienta que é preciso atentar para a frequência e intensidade dos episódios. “Quando a pessoa percebe que o nível passa a ser mais constante ou que gera sofrimento para ela, podendo interferir em outras áreas da vida, como sono, alimentação, estudo, trabalho, é importante buscar ajuda profissional. Um tratamento psicológico pode ajudá-la a compreender a história dela o que pode estar desencadeando a ansiedade e como fazer para lidar”, conclui.
Quando uma pessoa está sozinha e tem uma crise, como deve agir?
Tramontini destaca que o primeiro passo é aceitar a crise de ansiedade. “Na hora, pensar que você não quer ficar ansioso é muito pior. Depois, tentar tirar o foco dos pensamentos e das sensações e prestar atenção no ambiente a sua volta, podendo até descrever em voz alta o que você está vendo”, aconselha.
Ele também ressalta que é importante tentar continuar o que está fazendo e resistir ao impulso de sair correndo. “Senão você reforça o medo e pode começar a evitar situações e lugares relacionados a crises. Durante todo o processo, a respiração é fundamental: existem várias técnicas, mas o básico é inspirar pelo nariz e fazer o ar ir para o abdômen até estufá-lo bem, e então soltar o ar pela boca bem devagar e esvaziando o abdômen, pelo menos com o dobro do tempo de inspiração. Só volte a prestar atenção em si e nos seus pensamentos depois que você se acalmar”, frisa.
Se eu presenciar alguém tendo uma crise, o que devo fazer?
O psiquiatra orienta que a pior atitude é dizer que não é nada ou que a pessoa deve se acalmar. “Pedir para ela se acalmar costuma deixá-la ainda mais ansiosa. O melhor é manter a calma, falar devagar e fazê-la perceber que você está ali disposto a ajudar. Nesse ponto, orientar sobre os passos acima é o melhor a fazer”, assegura Tramontini.
Foto: Reprodução