Setembro Amarelo é o mês dedicado à conscientização e prevenção do suicídio, uma das principais causas de morte no mundo e também no Brasil. A campanha, criada em 2015 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV), busca quebrar tabus, incentivar o diálogo e orientar sobre a importância de procurar ajuda. Ao longo do mês, instituições públicas, entidades de saúde, escolas e empresas promovem palestras, rodas de conversa e ações educativas voltadas para a promoção da vida e o cuidado com a saúde mental.
De acordo com a psicóloga Fernanda Krüger, a ação nos lembra de falar sobre a saúde mental e salvar vidas. “O objetivo principal é quebrar o tabu em torno do suicídio, mostrando que pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas de coragem. É um convite para a população olhar para si mesma e para o outro com mais atenção e acolhimento”, explica.

Sinais de alerta
Diante desse cenário, é de extrema importância que as pessoas se atentem aos sinais. Fernanda destaca alguns:

  • Mudanças bruscas de humor;
  • Isolamento;
  • Fala frequente sobre morte ou desesperança;
  • Queda no rendimento escolar/profissional;
  • Abandono de atividades prazerosas;
  • Aumento no consumo de álcool ou drogas.
    Segundo ela, esses sinais não devem ser ignorados, pois são alertas claros de que a pessoa está precisando de apoio.

Como abordar esses assuntos com os filhos?
A psicóloga explica que a melhor forma de acolher é praticando a escuta ativa, sem julgamentos. “Evitar frases como ‘isso é bobagem’ e, em vez disso, dizer: ‘Eu percebi que você não está legal, quer me falar sobre isso? Aconteceu alguma coisa?’. Proporcionar momentos de conversa, até mesmo falar de medos, dificuldades e fraquezas de nós, enquanto pais, pode ajudar a tornar este espaço mais acessível. Nunca, em hipótese alguma, minimize ou invalide um sentimento. Crianças e adolescentes precisam sentir que podem falar sem medo de críticas. Adaptar a linguagem à idade e maturidade é fundamental”, orienta.
Segundo ela, quando alguém está em sofrimento, o essencial é oferecer a presença e o acolhimento. “Não é necessário ter todas as respostas, mas demonstrar disponibilidade, evitar julgamentos e incentivar a busca de ajuda profissional fazem diferença. Também é importante conversar ou avisar alguém próximo para ficar atento”, aconselha.

Momento difícil x depressão
Fernanda explica que é importante diferenciar a tristeza passageira de um quadro depressivo. “Momentos difíceis costumam ser temporários e o sujeito consegue retomar sua rotina com apoio e com o tempo. Já quando a tristeza é persistente, acompanhada de outros sintomas como insônia ou dormir demais, perda de prazer, falta de energia, pensamentos ou comportamentos destrutivos, entre outros, é sinal de que precisa de ajuda profissional. A diferença está na intensidade, duração e impacto na vida diária”, expõe.

Importância da orientação
O espaço estudantil tem um papel fundamental ao acompanhar de perto o desenvolvimento emocional dos jovens de acordo com a psicóloga Liengred Barbosa Cardoso. “Mais do que palestras pontuais, é necessário criar espaços permanentes de escuta, fortalecer vínculos, capacitar professores e investir em programas de promoção da saúde mental. A presença de psicólogos nestes espaços também é relevante, pois garante suporte profissional no cotidiano e em momentos emergentes, podendo ainda orientar a busca pelo acompanhamento nos níveis de atenção em saúde mental”, instrui.
Além das escolas e universidades, o ambiente de trabalho é onde os adultos passam a maior parte do tempo e, por isso, precisa ser saudável e acolhedor. “Quando há excesso de cobrança, assédio moral ou falta de reconhecimento, o ambiente se torna um fator de risco. Por outro lado, quando existe valorização e políticas de acolhimento, o trabalho fortalece o cuidado em saúde e pode ser uma fonte de proteção. Empresas que promovem escuta ativa, programas de estímulo à qualidade de vida e relações saudáveis contribuem diretamente para a prevenção”, menciona Liengred.
As redes sociais têm grande impacto na vida das pessoas, sendo utilizadas na vida cotidiana. “O tempo de exposição prolongado pode aumentar sintomas de ansiedade e afetar a autoestima, especialmente quando se passa a ter uma comparação com realidades que não correspondem à nossa. Muitas vezes, os conteúdos exibidos são recortes idealizados, distantes das condições sociais, econômicas e culturais da maioria das pessoas”, explana a psicóloga.
Por isso, ela orienta a importância de refletir sobre o que consumimos e sugere: “Diversificar as fontes de informação, seguir perfis que promovam conteúdos que não nos exponham ao sofrimento e estabelecer limites de uso. Assim, as redes podem deixar de ser espaço de comparação nociva e se tornar um ambiente de aprendizado, apoio e conexão saudável”, argumenta.
Segundo Liengred, campanhas públicas são uma forma da orientação chegar a mais pessoas. “Elas mostram que todos podemos precisar de apoio psicológico em algum momento da vida. Ao difundir informações de fácil acesso, principalmente da atuação dos espaços de saúde mental, as campanhas contribuem para quebrar estigmas e abrir portas para que mais pessoas busquem ajuda sem medo de julgamento”, expressa.

Preparação
De acordo com o capitão Gustavo Kist, comandante da 3ª Companhia de Bombeiro Militar, é fundamental abordar o Setembro Amarelo por meio de ações junto à comunidade. “Muitos quartéis promovem palestras, atividades educativas em escolas, rodas de conversa e campanhas de conscientização. A ideia é quebrar o tabu e mostrar que pedir ajuda é fundamental. Em nível estadual e até nacional, diversos Corpos de Bombeiros realizam iniciativas de sensibilização e orientação”, destaca.
Kist ressalta que a corporação está preparada para atender esse tipo de ocorrência. “O treinamento faz parte do currículo do Curso Básico de Formação de Bombeiro Militar e é constantemente reforçado para que saibamos lidar com situações de crise. Recebemos instruções de abordagem verbal, técnicas de contenção segura e protocolos de apoio emocional. Não somos psicólogos, mas aprendemos a escutar, manter a calma e criar um ambiente de confiança até que a pessoa seja encaminhada ao suporte especializado”, completa.

Município
De acordo com Maurice Bouwary, coordenador do setor de Saúde Mental da Secretaria da Saúde, psicólogos e equipes que atuam tanto nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) quanto nos centros de atendimento especializados do município realizam ações voltadas à conscientização e ao cuidado em relação ao sofrimento psíquico.
Além disso, a Secretária de Saúde, mantém uma constante parceria com a Secretaria de Educação, oferecendo suporte sempre que solicitado. “Essa colaboração visa garantir que profissionais e alunos tenham acesso a orientações e recursos que favoreçam o desenvolvimento de uma saúde mental saudável no ambiente escolar”, explica Bouwary.
Segundo o coordenador o município dispõe de uma rede de atendimento em saúde mental que inicia na Atenção Básica, com apoio do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF eMulti), cuja equipe multidisciplinar auxilia os profissionais da linha de frente no manejo dos casos. Quando necessário, há encaminhamento para serviços especializados.

Apoio emocional

Centro de Valorização da Vida (CVV) 188
SAMU: 192