Não é só o gato que tem. Eu mesma já gastei várias delas: uma, ainda bebê; outra, no auge da juventude, e diversas, no trânsito. Não sei quantas vidas ainda me sobram, mas acho que vai dar para o gasto, ainda mais com a ajuda do anjinho da guarda, que está sempre de prontidão.
Já a cachorrinha aqui, de casa, é dona de uma longevidade inacreditável. Ela driblou o fantasma da foice tantas vezes que desisti de processar a perda, psicologicamente falando. O que mais desejo é que ela vire estrelinha como num passe de mágica, sem dores e dramas.
Nossa cachorrinha foi batizada de Babi. À medida que a alergia foi progredindo, as vogais do seu nome foram se fechando. Passou a ser Bebê e agora, Bibi, numa forma de acolhimento afetivo.
É isso mesmo. Ela tem prurido congênito, talvez resultado de irresponsável manipulação genética, que a levam a se coçar continuamente. Além disso, Bibi sofre os efeitos da velhice. Está totalmente surda, com catarata avançada e perda de equilíbrio. Não desvia dos obstáculos quando anda, não sobe nem desce escadas e, ultimamente, nem o degrau da calçada para a rua consegue saltar.
Por conta dessa problemática, descuidei da solucionática. (Créditos ao Dadá Maravilha, que, nos anos 70, respondeu aos repórteres após um jogo: “Não me venham com a problemática que eu tenho a solucionática”). Enfim, deixamos de fazer nossos exercícios diários, que se resumiam em uma volta pela quadra, duas vezes ao dia.
Mas, como já disse, Bibi tem me surpreendido. Depois de cada baque, ela se levanta renovada e corre ziguezagueando e balançando disposição com seu rabinho pelado de tanto coçar.
Então, cedendo às pressões internas e externas, resolvi retomar nossa rotina de caminhadas. Já na primeira volta, ela exibiu sua vitalidade e só empacou em frente a uma casa que deixava escapar um cheiro estonteante de fritas – ela pode ser surda e “cegueta”, mas tem faro… faraônico.
Bibi dominava a competição e volta e meia latia “Olé!”, enquanto eu tentava ultrapassar as formigas. Me senti um Rubinho da vida, só que pobre.
Foi a gota d’água. Era imprescindível (re)agir. Então, resolvi dar um basta ao sedentarismo através do Grito do Ipiranga – embora estivesse mais perto do Botafogo. Que nem D. Pedro I, ergui meu celular e bradei “CIRCUNFERÊNCIA OU ESPORTE!”. Ainda estou analisando as alternativas.