Em meio à rotina exaustiva, surgimento de casos em pessoas mais jovens e novas variantes do vírus preocupam colaboradores de instituições de saúde
População cansada de ficar em casa, restrições mais duras, aumento de casos e mortes em todo país, hospitais novamente lotados, descoberta de novas variantes mais transmissíveis do vírus. Esses e outros fatores fazem especialistas em saúde pública acreditarem que a pandemia no Brasil pode ter, nos próximos meses, um capítulo ainda mais trágico do que o observado em mais de um ano desde que o coronavírus chegou ao país.
Nas casas de saúde, os heróis seguem dando o melhor de si. Nesta edição, o Jornal Semanário apresenta o terceiro capítulo da série Heróis da Pandemia expondo a rotina e expectativas na visão de um médico do Serviço de Atendimento de Urgência (Samu) e uma enfermeira que atua na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA).
O médico do Samu Thyago Coser, 40 anos, afirma que o cotidiano continua exaustivo, devido ao surgimento de novos casos. “A gente sabe do primeiro, segundo e terceiro pico, que foi pior que os dois primeiros somados. Recém estamos dando a volta, mas vemos que os números se mantêm. Vêm aparecendo casos, não na mesma intensidade, mas ainda pacientes muito graves e entre a vida e a morte nas UTI’s da região”, pontua.
O capital humano de um hospital é o verdadeiro responsável por diferenciar a percepção do paciente sobre a prestação de cuidado com humanização. “O sentimento que tenho é de compaixão, pensando que a qualquer momento podemos estar na mesma posição, precisando de auxílio e atendimento. Tivemos colegas de profissão que lutaram contra o coronavírus e não venceram. Em contrapartida, a maioria passou de forma mais branda. Agora, com a vacina, temos a esperança de que, mesmo não tendo a certeza de que não vamos contrair a doença, teremos menos sintomas e agravos”, pondera o médico.
A mutação do vírus e as novas cepas têm sido uma das preocupações de profissionais da saúde. Coser indica que a enfermidade se mostrou com diferentes parâmetros em relação a outras. “A gente sempre tem expectativa de que melhore. Por outro lado, pessoas que se contaminaram recentemente podem se recontaminar. A gente entende a população, o cansaço do ano, de se manter em casa, mas ninguém pode relaxar, parar de ter o autocuidado e voltar a se aglomerar. O vírus ganha força muito rápido. Então, pode ainda ter um quarto pico e estar próximo. Temos que nos cuidar sempre, é o que peço. Cuidando de si é cuidar dos familiares e da população em geral. É uma corresponsabilidade de todos”, recomenda.
Jovens estão entre os últimos casos registrados
O cenário muda. O que antes, aparentemente, contaminava apenas pessoas de mais idade e com comorbidades, atualmente são os mais jovens que também sofrem com a doença. Para a enfermeira da UPA, Ana Paula Boldrini de Oliveira, 31 anos, está sendo outro momento difícil. “Estão agravando os casos, os mais jovens estão vindo. Foi o período em que lotaram os leitos e não tínhamos onde colocar os pacientes. Tivemos que reestruturar toda a UPA e salas para poder acomodá-los. É algo que traz muita angústia”, reitera.
Para ela, a pandemia se divide em dois difíceis momentos: a chegada de uma doença desconhecida e o agravamento de casos e reestruturação do ambiente de trabalho. “Há um ano não conhecíamos a doença, pegou a todos de surpresa, era uma novidade. Ninguém sabia como conduzir os pacientes. Foi um momento bem triste para todos os profissionais, porque a gente tinha medo de vir trabalhar, todo mundo em casa e não tínhamos o que fazer, a nossa opção era vir e tentar ajudar”, pontua Ana Paula.
Para enfrentar esses sentimentos que insistem em ficar, a enfermeira comenta que foi necessário se reinventar e buscar forças na família e nos colegas. “O medo continua, porque podemos levar o vírus para casa. É algo que vamos ir descobrindo juntos. Todos os dias tentamos dar o melhor pelo paciente. Os internos são muito gratos, então fico satisfeita em poder ajudar neste momento difícil”, pondera.
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