Por mais que batamos no peito e brademos “eu me conheço”, a vida nos prepara certas provas, em especial aquelas morais, as quais nos colocam num brete – para usar o linguajar gaúcho – cujas decisões, diga-se, sempre considerado o livre arbítrio, irão nos definir primeiramente em relação a nós mesmos – ainda que neguemos – e igualmente em relação à sociedade da qual fazemos parte.
Provas não faltam: é o juiz de futebol que renuncia ao seu time de coração e apita aquele pênalti contra seu próprio time; é aquele magistrado que se dá por impedido diante de causa que tem interesse ou que tenderá a julgar por ideologia própria, e não pelos ditames da lei; é aquele troco recebido a mais devolvido com um sorriso; é postar-se naquela longa fila sem aproveitar o descuido ou fazer-se de “louco” – na verdade, mal-educado – sem ir se achegando sorrateiramente lá na frente…
Enfim, são tantos exemplos, uns mais simples, outros mais complexos, que definem aquele EU que julgo conhecer tanto, cujo reflexo das decisões, daquelas ações exteriorizadas, revelam, nas relações sociais, o conceito – ou ‘pré-conceito’ – daquela pessoa, cuja verdade ou mentira se desdobram e são próprias da natural imperfeição humana.
Se, por óbvio, o reflexo de nossas decisões no âmbito da vida privada desencadeia conceitos e preconceitos, imaginem em se tratando daqueles que exercem cargos públicos, em especial na política, cujas ações impactam positivamente ou negativamente a vida das pessoas. O que se espera, nesses casos, é que, no mínimo, passassem pelo crivo do filtro moral.
Não há de se negar que as decisões da presidência da República têm maior relevância e maior visibilidade e extrapolam as divisas de seu país. Basta ver a expectativa do mundo inteiro diante da posição final que dará Lula em relação ao fiel resultado das urnas na Venezuela e não àquele anunciado pela trupe criminosa do ditador Maduro.
O conflito moral do presidente deve estar grande, pois uma vida inteira ligada a um ParTido cujos fundadores companheiros amargaram e sempre condenaram as atrocidades da ditadura verde e amarela, simplesmente desaparece quando os mesmos atos de ditatura mudam de cor – a vermelha – e isso não é de hoj+e, pois estamos diante da perversa coerência ideológica acima dos valores morais e da própria lei.
Esta perversa coerência ideológica se refletiu recentemente na decisão pública do ParTido, ou seja, vergonhosamente enalteceu a “democracia” inexistente na Venezuela, reconhecendo Maduro como vencedor das eleições sem apresentar os documentos, as atas que legitimariam alegado resultado, sendo, portanto, contrários a real e comprovada vitória da oposição.
“Ser ou não ser, eis a questão”, servimo-nos da famosa frase dita pelo personagem Hamlet no drama de mesmo nome, escrito pelo consagrado escritor, poeta e dramaturgo inglês, William Shakespeare, a qual retrata dilema pelo qual, logicamente em outra versão – SER PRESIDENTE ou ser companheiro, eis a questão – passa agora o não mais candidato Lula e amigo do podre, desculpe-me, Maduro.
E embora possa pensar que se trate de um drama particular, engana-se profundamente, tão pouco se trata de um monólogo, mas, sim, de uma decisão de ordem pública que reflete o sentimento de moralidade e legalidade do povo brasileiro que representas perante o mundo, em reconhecimento da decisão da maioria, derrotando finalmente o regime ditatorial na Venezuela e reatando esperançosamente a democracia no país.
Com todo respeito, a decisão está fácil presidente, basta apenas defender a mesma coerência e legitimidade do resultado das urnas por aqui, em especial do atual mandato, portanto, faças por merecer, dando ouvidos e não de ombros à mesma voz de povo vizinho. Trata-se da democracia em todas as línguas, de todas as cores…não precisa desenhar.
Vamos em frente!