Entre perdas e resiliência, comunidades avançam com obras, apoio social e novos planos de prevenção para garantir um futuro mais seguro e menos vulnerável a desastres naturais

Seis meses passaram desde que as águas transformaram as ruas e os campos do estado em cenários de perda e desamparo. Em Bento Gonçalves, na localidade de Faria Lemos e Tuiuty, a terra cedeu e em Santa Tereza mais de 800 pessoas tiveram que sair de casa. Hoje, onde o silêncio substituiu o ruído das chuvas, a comunidade encontra forças para reconstruir. Com mãos unidas e olhares fixos no futuro, a região se ergue com planos para que essas tragédias se tornem lembranças e não repetidas provações.

Bento Gonçalves ainda trabalha para superar os impactos da tragédia. Com foco nas áreas mais afetadas, como Faria Lemos e Tuiuty, que sofreram com intensos deslizamentos de terra, a cidade se mobiliza para reconstruir infraestrutura e desenvolver um plano robusto de prevenção a novos desastres. As enchentes deixaram um saldo de 10 mortes e quatro pessoas ainda seguem desaparecidas, lembrando a comunidade da gravidade das mudanças climáticas e da vulnerabilidade da região montanhosa.

O Secretário Municipal de Segurança, Paulo César de Carvalho, destaca que o trabalho inicial se concentrou no resgate e na assistência às famílias. “Nossa prioridade foi salvar vidas. Depois, iniciamos a reabertura de vias e o auxílio aos moradores,” explica. Embora a situação tenha avançado, o município ainda realiza manutenções em estradas e pontes essenciais para a mobilidade. A ERS-431, uma das principais vias que dá acesso a Faria Lemos, foi reaberta, facilitando o trânsito na região.

Conforme a prefeitura, o Salão Comunitário de Faria Lemos, espaço estratégico durante maio para receber as vítimas, chegou a abrigar, no momento mais crítico, 104 pessoas desalojadas ou resgatadas. Atualmente, 50 moradores que têm a casa em zona de risco ou tiveram as moradias destruídas estão sendo beneficiadas com o aluguel social, disponibilizado pela administração.

Uma das respostas do município à crise foi a criação do Núcleo de Riscos Geológicos, que atuou de forma decisiva durante as enchentes. De acordo com Carvalho, o núcleo continua sendo essencial para a segurança, com apoio de especialistas de várias partes do Brasil no mapeamento de áreas de risco. “Registramos 284 deslizamentos e bloqueios em 84 estradas municipais, estaduais e federais. Essa força-tarefa tem sido crucial para implementar ações preventivas,” reforça o secretário.

Apoio governamental e medidas de reconstrução

Apesar do empenho local, o município ainda não recebeu fundos governamentais específicos para reconstrução de casas. O secretário afirma que a Prefeitura busca recursos federais e estaduais, contando com projetos já aprovados que totalizam quase R$ 15 milhões para diversas intervenções, incluindo drenagem, pavimentação e construção de pontes. Na área rural, projetos financiados pelo Governo Federal têm como foco a reconstrução de pontes no Vale Aurora, essenciais para o escoamento da produção agrícola e a mobilidade das comunidades locais.

A análise do Serviço Brasileiro de Geologia (SBG), atualmente em andamento, é mais uma medida para garantir a segurança a longo prazo. A expectativa é que o estudo forneça as bases para o desenvolvimento de um plano municipal de redução de riscos até 2025. “Esse documento será essencial para ações concretas de curto e longo prazo. O objetivo é mitigar novos desastres e envolver a comunidade na implementação de estratégias de prevenção,” explica Carvalho.

Moradia para desabrigados

Ainda em situação de vulnerabilidade, 47 famílias que perderam suas casas ou vivem em áreas de risco estão sendo atendidas pelo aluguel social, financiado pela prefeitura. O Secretário de Esportes e Desenvolvimento Social, Eduardo Virissimo, informa que a Prefeitura cadastrou, junto ao Governo Federal, 71 famílias para a reconstrução de casas, divididas entre as zonas urbana e rural. “Já fomos aprovados na primeira etapa, mas o processo para a construção das casas ainda não tem prazo definido,” observa Virissimo.

Além de apoiar as famílias, a Prefeitura busca reforçar a resiliência comunitária. Programas de treinamento em primeiros socorros e simulados de emergência estão em andamento, preparando servidores e voluntários para lidar com possíveis desastres futuros. “Estamos empenhados em educar a população sobre os riscos climáticos e a importância de práticas seguras, como evacuações rápidas e comportamentos de baixo risco,” destaca Carvalho.

Engajamento comunitário e resiliência

A comunidade tem se mostrado ativa e engajada no processo de recuperação. Durante a crise, as parcerias público-privadas demonstraram seu valor, fortalecendo o laço entre governo e população na busca por soluções rápidas e efetivas. Para Carvalho, o sucesso dessas parcerias deve ser preservado como uma prática de mitigação e recuperação a longo prazo. “Nosso objetivo é manter viva a chama da resiliência comunitária,” conclui.

Santa Tereza uma das cidades mais impactadas pelas forças das águas, viveu uma tragédia com uma das maiores enchentes da sua história. Ao todo, cerca de 900 moradores foram evacuados em função do alagamento e das destruições causadas pelas intensas chuvas. O vídeo da prefeita Gisele Caumo orientando a população enquanto uma ponte era arrastada pelas águas do Arroio Merrecão se tornou um símbolo do impacto devastador das enchentes. Hoje, seis meses depois, as obras e ações preventivas mostram um cenário de recuperação e esperança.

As enchentes afetaram diretamente os acessos ao município, mas, segundo a prefeita Gisele Caumo, todos os pontos estão liberados e transitáveis. O principal desafio inicial foi a falta de máquinas e caminhões para restaurar a infraestrutura devido à alta demanda na região. O mau tempo também atrasou os reparos, mas os esforços foram retomados com o tempo seco. O principal desafio, num primeiro momento, foi a indisponibilidade de máquinas e caminhões para realização dos serviços, devido à alta demanda, uma vez que inúmeros municípios foram afetados pela catástrofe climática. Outro ponto que dificultou bastante o início dos trabalhos foi o período chuvoso incessante entre maio e junho, que ocasionou o atraso nos serviços e a necessidade de refazer muitos deles”, declara.

Entre os desafios de reconstrução, destaca-se a ponte destruída que ligava o centro de Santa Tereza a importantes comunidades rurais. A reconstrução já foi aprovada pela Defesa Civil Nacional e, uma vez liberada, a obra levará cerca de quatro meses para ser concluída. “Foram 10 pontes afetadas, sendo uma delas, completamente destruída. A reconstrução desta ponte, especificamente, teve o projeto cadastrado e aprovado pela Defesa Civil Nacional. A documentação do processo de contratação já foi avaliada e aprovada”, explica a prefeita.

Seis meses após ser destruída por uma enchente, a ponte sobre o Arroio Marrecão, em Santa Tereza, terá sua reconstrução concluída dentro de um prazo de 30 a 45 dias. O município foi um dos mais afetados pelas fortes chuvas e enchentes que atingiram o estado entre setembro de 2023 e maio de 2024.
A reconstrução será feita com estruturas metálicas, mais resistentes e adequadas para suportar as condições da região. A nova ponte terá cerca de 30 metros de extensão e quatro metros de largura, permitindo a passagem de veículos pesados com capacidade de até 45 toneladas. O investimento total no projeto é de aproximadamente R$ 1,2 milhão.

Reconstrução de moradias

A reconstrução das moradias é outro ponto central da recuperação. Ao todo 24 famílias, que perderam suas casas, estão sendo realocadas para novas moradias no Loteamento Popular Stringhini II, construídas pelo programa estadual A Casa é Sua – Calamidade. A expectativa é de que as residências sejam entregues até dezembro. “A empresa iniciou a execução das fundações em radier das primeiras cinco casas. A previsão inicial apresentada pela construtora foi de entrega em 120 dias a partir do início das obras”, declara.

Para prevenir futuras tragédias, o pode público cadastrou um projeto para desassoreamento do Arroio Marrecão e busca implementar contenções nas encostas e estradas. A cidade também trabalha na atualização do Plano de Contingência e busca melhorar o sistema de monitoramento das chuvas, além de criar um cargo exclusivo para a Defesa Civil e contratar um geólogo para monitoramento de áreas de risco. “Sabemos da importância de realizar o desassoreamento do Rio Taquari, mas esta ação deverá ocorrer regionalmente, em todo o percurso da bacia hidrográfica, o que demandará investimentos estaduais e federais. Também estamos trabalhando na atualização do Plano de Contingência, bem como na busca de um sistema mais completo de monitoramento da precipitação pluviométrica à montante de Santa Tereza, a fim de termos informações mais precisas dos efeitos que possam ocorrer em nosso território”, explica Gisele.

Além disso, Santa Tereza estabeleceu parcerias com o governo estadual e federal para fortalecer a infraestrutura local contra enchentes, com melhorias e adequações para enfrentar desastres naturais com mais segurança. “Foram cadastrados planos de trabalho na Defesa Civil Nacional, a fim de obtermos recursos para realização de obras de recuperação, dentre as quais estão importantes contenções, que visam recompor locais danificados pelas enchentes e deslizamentos, como também proteger os locais (taludes, encostas e estradas) em futuros possíveis eventos extremos. Já no Governo Estadual, cadastramos um projeto de desassoreamento do Arroio Marrecão, o qual teve significativa contribuição nos danos causados à área urbana”, destaca.

Trabalhos em andamento

Após as catástrofes ocorridas, as estradas e estruturas da região foram severamente afetadas. Após os ocorridos as obras de reconstrução das estruturas essenciais tiveram andamento. Na quinta-feira, 17 de outubro, foi dado um passo significativo para a recuperação da infraestrutura da região com a assinatura da ordem de serviço para a construção da nova ponte na ERS-431, que conecta os municípios de São Valentim do Sul e Bento Gonçalves.

A ponte, localizada na localidade de Santa Bárbara, foi severamente danificada e acabou sendo arrastada pelas águas em setembro do ano passado. O colapso da estrutura gerou inúmeros prejuízos, interrompendo o acesso de moradores e dificultando a rotina de trabalho e transporte na região. Por um período, a população contou com uma solução provisória: uma balsa, que, além de ineficiente, impactou negativamente a economia local, especialmente com a proximidade da safra da uva, uma das principais atividades da região.

Atualmente, a obra está na fase de cura da concretagem dos novos pilares e da cabeceira no lado de Bento Gonçalves, realizados no dia 30 de outubro. Os novos pilares foram implantados após a constatação de fissuras nos antigos, garantindo a segurança necessária para a instalação da nova estrutura.

Em maio, a ponte sobre o Rio Buratti teve suas cabeceiras arrancadas pela força das águas, com a estrutura central permanecendo intacta. A cabeceira localizada no lado de Bento Gonçalves da ponte foi refeita com recursos do Unidos por Bento, que investiu cerca de R$ 75 mil na obra, cuja extensão é de 15 metros. Agora refeitas, elas não só reestabelecem a conexão entre os municípios como possibilitarão o escoamento de safras agrícolas, principalmente da uva.