Paulo Geremia e Elton Gialdi apoiam esta vocação e defendem plano diretor integrado no trecho de Bento Gonçalves a Carlos Barbosa
Plano diretor integrado entre os municípios (especialmente Bento Gonçalves, Garibaldi e Carlos Barbosa, além de Farroupilha) para o trecho, atenção a pequenos produtores – com medidas de orientação e não só punitivas- ações coordenadas e estratégicas, alternativas para o turismo familiar e não só adulto e, principalmente, manutenção da importante originalidade que marca o turismo na microrregião, são algumas das medidas apontadas por um dos pioneiros a investir na vocação turística às margens da BR 470, empresário Paulo Geremia – fundador e diretor presidente do Grupo Di Paolo- e pelo presidente do CIC -BG, Elton Gialdi, que precisam ser tomadas de imediato em conjunto para tudo dar muito certo. Inclusive, afirmam, essa vocação turística será fundamental para a segurança e o combate ao tráfico, tanto na rodovia quanto nos municípios de entorno. Dois grandes empreendimentos turísticos já estão desenhados ali -Dissegnaland e Boulevard Convention- com inaugurações previstas em dois anos, agregando valor a todos os projetos existentes e futuros nesse trecho da Rodovia, que já está sendo chamado de Complexo Turístico Integrado e deverá ser uma espécie de International Drive, com estabelecimentos 24 horas, iluminação, câmeras de monitoramento, nova infraestrutura e investimentos em paisagismo.
Paulo, foste um dos pioneiros a acreditar nesse potencial turístico às margens da BR 470, na época só RST 470, e o próprio Vale dos Vinhedos ainda era praticamente só uma ideia. Conta um pouco desse teu início, do que te atraiu a investir às margens da Rodovia, te levando a abrir outros mercados, inclusive fora do país.
Paulo– Iniciamos nos anos 80 na BR470, onde era a Casa do Pão e Vinho da família Salton, então realmente tenho acompanhado há muitos anos e de perto a rodovia. Investi ali porque toda rodovia que une interior à capital tem potencial e nós inclusive perdemos uma parte disso pela má manutenção pois quem vinha de Passo Fundo passava muito mais por aqui do que passa hoje. Então, pela melhoria da outra via e pelo descaso do lado de cá temos muito menos movimento. A não ser de Paraí para cá, os demais hoje vão à Capital por Lajeado, o que é um prejuízo nosso e bem grande. Quando trabalhei no Pão e Vinho, morei naquela casa por alguns anos, conheci isso muito bem. Lembro quando o presidente Figueiredo veio para a Fenavinho, passaram todos os carros ali na frente, nessa rodovia. Quando investi no trecho foi também pela oportunidade de estar próximo ao Vale dos Vinhedos, que sinalizava crescimento. Todo mundo tem assuntos na capital e isso faz com que a rodovia tenha uma vocação comercial e agora, que viemos falar do turismo, integrando Carlos Barbosa, Garibaldi e Bento, ela deveria ser planejada, e muito bem planejada. Quando a gente viaja, vê o centro das cidades turísticas. Aliás, em primeiro lugar, seria preciso tirar os carros da avenida principal no centro da cidade para que as pessoas locais e o turista pudessem ter essa liberdade no passeio deles, e não só dos carros, em uma ou duas ruas. E essa ligação da rodovia pelo turismo, que vai unir três cidades, tem uma responsabilidade ainda maior, acredito que vamos conversar muito agora, porque todo o progresso traz vantagens se houver responsabilidade e comprometimento no todo e não só no interesse particular. Nós iniciamos o Grupo Di Paolo em 94, entre Bento e Garibaldi, em território de Garibaldi, no Castelo Benvenutti, onde todo o prédio é turístico também, combinando com a culinária. No início já pensávamos na Sopa de Capeletti, no galeto al primo canto, na salada de radicci, na polenta brustolada, aquela coisa bem da nona que nos tornou reconhecidos pelo guia Quatro Rodas. Isso nos divulgou no Brasil todo, fez com que logo pudéssemos expandir para Caxias, no shopping Iguatemi, depois aqui onde de início foi o Canta Maria e hoje é Di Paolo. Depois abrimos em Gramado uma casa onde o turismo já está mais consolidado e cada vez vai aumentando mais a projeção. Em seguida abrimos outra em Caxias e o grande passo foi dado em Porto Alegre, no Laçador, perto do aeroporto, uma casa maravilhosa, assim como no Wallig também. Fomos para a região de Santa Maria e Santa Catarina, em Itapema, onde está meu irmão Roberto, e daí para São Paulo, com uma casa na avenida dos Bandeirantes e uma no bairro Pinheiros, bem próximo ao Instituto Tomie Ohtake. Acreditamos que São Paulo ainda vai abrigar mais casas Di Paolo. Na década de 2000 abrimos um empreendimento nas Ilhas Canárias e foi uma bela experiência, depois tivemos a complicação da gripe aviária, que não ficou mais galeto, aí fomos para as carnes e frutos do mar, depois nos desligamos, mas o importante foi que valorizamos muito mais o Brasil por três motivos: oportunidade de negócios, mão de obra e matéria prima. Por fim abrimos a Casa de Lourdes, em Caxias, que é muito bonita, nela aplicamos todo esse conhecimento nacional e internacional para fazer todas as normativas e bem distribuídas em um ambiente, um espaço, que construímos desde o chão, uma casa modelo, onde faculdades, pessoas que estudam gastronomia, visitam como uma viagem de conhecimento.
Segundo líderes empresariais da região e empreendedores, em três anos o trecho entre Bento e Carlos Barbosa terá um cenário completamente diferente, com investimentos de vulto ao longo da BR 470. Como vocês vêem a vocação turística desse trecho da rodovia, que está sendo chamado de Complexo Turístico Integrado, uma espécie de International Drive da Serra Gaúcha? Que mudanças na infra-estrutura devem ocorrer?
Elton– Vejo com naturalidade a evolução da BR470 para o turismo. O Paulo foi um visionário; há 25 anos ele já observou esta tendência de a margem da rodovia ser um ponto interessantíssimo. Claro, é uma região com forte tendência de movimentação, como o Paulo bem falou. A ligação às grandes cidades, seja Porto Alegre ou Caxias do Sul, também fomenta muito a garantia de ser bom negócio aos investimentos na Rodovia. Então eu vejo com muita naturalidade esse fomento na BR470, até por que toda a nossa região está passando por um momento de muito empreendedorismo em turismo. Creio que nos próximos anos os entretenimentos e o turismo, irão decolar muito. Está se passando por uma grande mudança de matriz, de geração de renda, talvez se vá deixar um pouco a fábrica tradicional, indústria tradicional e gerar mais empregos, mais desenvolvimento e renda através do turismo. Nossa região se desenvolve naturalmente um pouco mais do que outras. Bento tem diversas atrações como o Vale das Antas, Caminhos de Pedra, mas realmente aquela condição ali na BR470 é estratégica, é a chegada de Bento Gonçalves. Tem muito a se desenvolver nos próximos anos.
Paulo– Até para a memória, quando iniciamos alí – e veja como era possível- a vinícola Miolo ainda estava no seu primeiro pavilhãozinho. O seu Darci entregava o vinho de fusca. Servíamos nas taças o vinho trazido em garrafões. Depois vieram as garrafas em 1997 e olhe hoje o Vale dos Vinhedos, os Caminhos de Pedra… Essa ligação com Barbosa foi escolhida com essa visão há mais tempo. Quando a Maria Fumaça optou por esse caminho confirmou três municípios unidos por um passeio. Todos os turistas que vêm a Bento e vários que vão a Gramado fazem o passeio de Maria Fumaça. Então veja a oportunidade que tem essa rodovia de se tornar referência para a chegada de todo mundo e para levar ao restante do Brasil uma imagem positiva de maneira integrada. O caminho que tem que ser feito hoje é integrar essa rodovia ao turismo passando pelas transformações necessárias para isso acontecer. Já foi falado de se criar todo um paisagismo, e exemplos não faltam por aí, mas que seja realmente de beleza e conservação, bem localizado. As marginais devem ser feitas, mesmo que não haja duplicação. Os acessos comerciais são sempre pelas marginais. Isso a gente vê quando vai para Santa Catarina, aquelas marginais que funcionam, que têm os seus controles de velocidade.
Elton– Paulo, você falou algo importantíssimo; o planejamento que a gente quer no trecho. As coisas não podem surgir ao acaso para não haver um crescimento desordenado. São apenas 9km entre Bento e Garibaldi, duas cidades muito próximas, se não tomarmos um cuidado as cidade por si só se unem daqui há alguns anos sem planejamento. A estratégia dos prefeitos e governos municipais é cuidar destes pequenos detalhes para poder valorizar ainda mais a região. O que o Paulo falou das vias laterais é de extrema importância, pois daqui a pouco vamos ter uma via de tráfego rápido interno e será preciso, por uma questão de segurança, a tranquilidade das vias laterais adequadas, que trarão inclusive beleza ao local.
Paulo– Outro detalhe: nada melhor do que uma rodovia iluminada, para termos segurança e a beleza toda de uma rodovia turística, em local que precisa estar muito bem iluminado, com todo o aparato. E rótulas, elas funcionam. Hoje em Gramado tudo vive em rótulas e funciona. O que não se pode mais ter é uma rodovia em que é preciso olhar para os dois lados ao mesmo tempo para cruzar. Os acidentes no trevo junto à SCA são recorrentes e aí tem logo uma entrada para o Vale que não é tão boa. Imagine isso com tráfego maior do que já temos, tem que se fazer uma rótula enorme ali, com entradas e saídas. Na frente do Castelo Benvenutti foi resolvido, não da melhor forma, mas foi resolvido. Em 25 anos socorremos muitas pessoas ali. Existem as maneiras de fazer, o investimento não é tão alto. Temos que ter uma união, e se depois terá pedágio ou não, ok, mas o poder público, o DNIT -agora que é federal- vejo que tem facilidade em resolver e é uma estrada de muito fluxo, que vai aumentar muito. É preciso essa praticidade vão passar mais cargas, caminhões, ônibus… E as marginais são o que mais vamos usar dos dois lados; tem que ter inclusive sobre onde a Maria Fumaça passa, fazer as pontes com marginais. Veja o problema ali em São Leopoldo onde acabam as marginais no Rio dos Sinos; têm que se fazer já as pontes laterais, sobre a ferrovia, não é muito. Ouvimos isso no dia a dia de quem vem, é um risco de acidente, não passa mais que um carro indo e voltando e alí já tem muita coisa, indústria, comércio, postos de gasolina. Temos uma grande chance de fazer aqui um grande projeto bem feito.
Elton– Uma das bandeiras do CIC-BG, juntamente com a CIC Serra, e agora há pouco tempo nos unimos à Federasul, é exatamente essa que estamos buscando, de melhorar a infraestrutura de toda a Serra. Estamos chamando de anel viário, que abrange a subida de São Vendelino para Barbosa, que são em torno de 16 km de rodovia estadual, a RS 441, mais Barbosa a Bento que já se torna BR470. Temos um objetivo de duplicar a via mediante concessões, incluindo a RS 122 de São Vendelino a Farroupilha e fazendo o elo que liga as duas à RS453, de Garibaldi até Farroupilha, fechando com isso o anel viário. Temos toda essa batalha movimentando não só o DNIT, visando esse sonho de ter a duplicação até a entrada de São Valentin. Estamos pleiteando junto ao governo estadual pois há um plano de concessão de venda das rodovias da EGR, uma delas é a RS122. Essa concessão já abriria a possibilidade da empresa vencedora fazer os investimentos necessários nesse anel viário, que seria a duplicação da RS446, da RS122 e da RS453, com o que já estaríamos muito bem servidos de rodovias. A sociedade está muito mais coerente e madura de que não existe Papai Noel. Se quisermos rodovias mais adequadas, seguras e decentes para rodar, vamos ter que conversar sobre concessões, privatizações, pagamento de pedágio. Já está provado que o estado não tem os recursos para fazer os investimentos, então temos que ser coerentes. O que queremos do governo estadual é agilidade, que não se leve mais 10 anos para acontecer. Essa duplicação está atrasada há 30 anos, se vermos o volume de carga, de tráfego, muito pesado, não são só veículos leves que passam nessa rodovia. São muitos caminhões, cargas que vêm dos outros municípios, estamos atrasados nesse processo e pedindo agilidade no implemento de concessão. E acima de tudo que seja algo legal, adequado, decente em termos de preço de pedágio. Entendemos que houve exageros no passado, trazendo muito prejuízo para hoje, para o diálogo, pois agora, quando se fala em pagar pedágio, todo mundo acha que vai pagar para andar em estrada ruim.
Paulo– Que se faça algo coerente. Veja, em Caxias, tinha sido escolhido como praça de pedágio um lugar que não era adequado, ao contrário do que se vê em qualquer concessão no mundo. Na Europa, quando tu vais sair é que pagas o pedágio; não dá para explorar a cidade, se beneficiar sem a justa proporção.
Elton– Veja o grito do povo, às vezes, é 1% quem grita e os outros 99% ficam calados. A gente percebe que o pessoal fala: ah, não quero essa praça de pedágio aqui, pois tem pessoas que trabalham logo no outro lado do pedágio. Vamos avaliar o seguinte: quantos carros regionais dos que passam por ali. Representam que porcentagem do total dos veículos? Então é muito mais fácil a concessionária administrar aquela parte com excessões do que achar que o mundo acaba por causa daqueles poucos veículos. É muito simples chamar ao diálogo. É mais fácil falar que vai ter um cartão específico, um abono. São detalhes, questões que podem resolvidas na conversa.
O Complexo Turístico Integrado irá beneficiar e alcançar também áreas próximas além de municípios próximos como Monte Belo, Santa Tereza e Pinto Bandeira. De que forma acreditam que poderão se beneficiar?
Paulo– O espaço das estradas que acessam a BR 470 também deve ser trabalhado. Temos a do Vale dos Vinhedos, infelizmente é uma estrada estreita, precisa de acostamento, ciclovia, por que assim ela já hoje é perigosa. Se quisermos aumentar o fluxo de turistas, precisamos pensar em aumentar a estrutura por onde eles vão passar. Vale, Caminhos de Pedra, o volume de carros já é muito grande, além da Maria Fumaça, além do que já falamos, além de vários outros lugares. O maior fluxo é nos sábados e domingos, quando a rodovia precisa de segurança redobrada para todos e hoje ela não está à altura de uma rodovia que vá atender o número de turistas. Então, integrar essa rodovia agora entre Bento e Barbosa ao turismo exige pensar que ela também vai ampliar demandas a mais nas demais vias que a acessam. Assim como todo paisagismo, toda a iluminação, também têm que ser para essas vias, isso gera segurança e o turista leva a imagem de recomendar. O turismo consegue crescer se o visitante levar uma boa imagem aos parentes, vizinhos, amigos e é isso que devemos pensar.
Elton– A mim causa desconforto e incômodo. Na RS444, na parte do Vale dos Vinhedos, eu vejo o seguinte: como queremos vender Bento para o mundo? Tem vocação turística? Tem. Podemos desenvolver, crescer muito, gerar recursos, valores, através dessa vocação turística? Podemos. Mas temos que cuidar de alguns pontos. A entrada da RS444, no lado que vem pelo Barracão até a Alameda Fenavinho, que entrada é essa? Alguém que venha de outro município para Bento e entre de carro pelo Barracão… acabou a magia. Vai ter a impressão de ter entrado numa cidade cheia de problemas sociais, é uma via sinuosa, de pista simples; se lá na entrada alguém vem atrás de um caminhão,não passa mais por ele até aqui em cima, tem que seguir a procissão até aqui, com casas sendo construídas em cima da rodovia, sem uma calçada de segurança para as crianças, para as pessoas que vivem ali… temos que começar a nos sentir incomodados com isso. Temos que ver essa questão como um problema da nossa cidade, do nosso município. Mas a rodovia é estadual e não tem nada que possa ser feito? Tem. Uma conversa com o estado para tentar resolver esta questão. Esta entrada está totalmente prejudicada. Devíamos ter uma estrada bonita, que te abrace quando tu chegas em Bento e na verdade o que tu vês é uma rodovia, com mazelas que não têm nenhum vínculo turístico, aptidão turística, parece que se está entrando em uma cidade da grande Porto Alegre.
Paulo– O aeroporto de Porto Alegre fez uma pesquisa e diz que em torno de 40% -e na média e alta temporada chega a 50%- dos passageiros que chegam são para o turismo da Serra e a maior locação de carros é ali, então todo mundo vai vir de carro; a não ser que venha com um pacote de companhia, vem de carro próprio ou locado ali. Para ti ver a riqueza que vem de fora, o que o turismo acrescenta ao Rio Grande do Sul.
Elton– Imagine um turista que está lá em Gramado, pega o carro para vir a Bento conhecer o Vale dos Vinhedos e ele entra por essa estrada aí… ou seja, é um detalhe importantíssimo que a gente tem que cuidar. Se não cuidarmos dos detalhes não conseguiremos cuidar das grandes questões.
O trecho da BR 470 já está sendo chamado de Complexo Turístico Integrado, ou seja, integrando vários municípios, tomando por base Bento, Garibaldi e Carlos Barbosa. Acreditam que essa integração de interesses possa também acontecer no plano político, além do plano privado dos empreendedores que estão apostando no seu investimento ali?
Paulo– É necessário um plano diretor, que contemple esse trecho da BR 470. Os três municípios terão que se integrar para depois não estarmos reclamando. Um plano diretor que contemple a natureza, a beleza, a construção e que não veja apenas o interesse comercial de construção e de business. Claro que é tudo o que o investidor quer, mas ele tem que ser trabalhado para este construtor se dar bem em cima de planos, de modelos de como vai ser a construção, reservando áreas verdes, que não tenha só edificação. Em Gramado o Plano Diretor já foi refeito algumas vezes e há sempre aquela discussão entre o município e a sustentabilidade do turismo, então, há maneiras de se preservar, de haver uma estética em tudo isso com a sustentabilidade, respeitando captação de água, caso contrário nos tornaremos só empreendimentos, o que não tem harmonia com a natureza. O turismo também vai querer ver com os olhos do lado bem feito, do bem planejado na rodovia. O roteiro Caminhos de Pedra é um dos grandes exemplos, pois foi construído para isso, com a sede pronta, com incentivos e tudo que foi buscado da colonização italiana, que foi restaurado, mantendo a sua característica original. Restaurantes bem adaptados ao que já existe, mas de uma maneira bem elegante, bonita. Vejo com muito bons olhos o projeto que contemplou tudo isso. A estrada lá é confortável pelo fluxo que tem, embora o início pelo Barracão seja complicado, mas está tudo bem encaminhado. Acho que ali a construção está harmônica com a natureza, com passeios de bicicleta por aí se vê que é uma alegria e é isso que vamos buscar juntos na BR 470. Na Europa existem as rodovias amplas para quem quer agilidade e os acessos às cidadelas mais estreitos, mas bem cuidados. Lá são várias opções e funciona. Aqui acredito que no Vale dos Vinhedos há muitas situações que não são exploradas, de entrada e de saída. Ali são acessos pouco indicados, dá para se fazer mais acessos e o Vale ser preservado com os parreirais como está sendo, as vinícolas fazendo seu papel como estão fazendo -de gerar produtos que competem com outros vinhos do mundo, com o turismo. É um exemplo de degustação, de ambientes, de locais internos e externos que integram a beleza de cada local com o turismo, resultando num trabalho maravilhoso com várias opções de gastronomia e produtos turísticos, que também devem ser dentro de uma demanda. Acredito que a demanda aumentou, mas a oferta aumentou até um pouco a mais. Veja que há regiões em São Paulo com restaurantes que podem ter 100 lugares. Daqui a pouco deve-se ter estas nossas rotas protegidas para não haver um fluxo demasiado e que não é de boa imagem. Estes detalhes é que devem ser cada vez mais estudados e colocados em planos diretores. Ou seja, ter uma visão política dos três municípios integrada com relação a um plano diretor deste trecho específico da BR 470, pensado não somente no interesse privado, que é um interesse bom, saudável, mas também no interesse político de que isso tenha uma regulamentação. O turista não quer saber onde é a divisa de cada município; ele quer saber de conhecer tudo que é bom e sentir a vantagem de cada lugar que ele vai. Trabalhei muito isso com Gramado e Canela no sentido de unir e lá temos hoje um exemplo de uma rodovia que é unida. Hoje o pessoal mora em Canela e vai trabalhar em Gramado e o turista faz o trajeto também tranquilamente, porque toda a margem dela está estruturada, bonita, as casas, o comércio, fazendo um crescimento até bem veloz, como a gente está pensando aqui e lá está funcionando. Tem produtos turísticos muito bons naquelas duas cidades, mas politicamente há muita divisão e isso é um problema. A política dos municípios também tem que ter essa união para que a atração seja boa para todos, haja esta sustentabilidade e não aquela atração por benefícios de construir mais alto, de fazer mais e mais ocupação de solo. Precisa haver realmente uma união mais integrada dos municípios.
Elton– Uma visão responsável daquilo que a gente planeja pois temos uma vocação turística que nos foi dada por Deus, nosso relevo nos beneficia muito, temos uma natureza bela que é algo fantástico. Precisamos caminhar para uma responsabilidade coletiva no sentido de direcionamento, do que se quer induzir. Não pode simplesmente um cara chegar ali e querer construir um galpão. Tem que respeitar um Plano Diretor, ver se o que vai fazer é harmônico, se cuida da estética da região, se está na área que contempla a melhoria, o desenvolvimento daquele local, não se pode simplesmente liberar por liberar, tem que haver a visão daquilo do que se quer ao natural também. O turismo nos próximos anos vai se desenvolver, uma vez que a economia no Brasil vai melhorar, e as pessoas irão querer viajar mais. É viável ampliarmos a nossa área física em conjunto nesse trecho da rodovia que já tem bons restaurantes, boas vinícolas.
Paulo– Para ver como a BR 470 tem muita vocação turística, a Forestier foi a que mais induziu turismo nos anos passados com um local maravilhoso, e a Chandon também, localizada à frente, ainda tínhamos o Esqui. Quando iniciei, muitas famílias iam se hospedar nos chalés do esqui. Tínhamos já essa vocação de grande desenvolvimento turístico ali.
Elton– Parei na frente dos portões da Maison Forestier, e fiquei contemplando aqueles parreirais, aquele vale, aquela entrada, com as árvores. É um local magnifico, privilegiado. O finado Scussel ia apresentar um projeto grandioso, mas no dia anterior ele faleceu. Aquilo tem uma potencialidade, uma área boa, tem natureza livre…
Paulo– Várias vezes fui lá com a equipe do restaurante, para integração, jogamos futebol, tinha tudo construído em pedras. Os primeiros tanques de inox, para vinhos brancos especialmente, foram colocados ali. No tempo da Forestier houve muito conhecimento e muito turismo. Foi o auge do turismo, principalmente aquele trazido pelas companhias e depois veio o grande número de particulares, que é o turista especial. E temos que buscar lá atrás o Tarcísio Michelon, foi ele o pioneiro a acreditar no potencial turístico dessa região, a fazer muitas ações e, claro, integrado ao vinho, à Maria Fumaça. Assim como também o poder público, teve momentos em que contribuiu bastante para fazer com que acontecesse tudo isso. Nós temos muito a fazer em cima do que já foi feito, mas seguir com consciência e planejamento.
O Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública ligaram o sinal de alerta vermelho para Bento Gonçalves. Segundo o Atlas da Violência 2019, o município ocupa a 9ª posição no Estado dentre as cidades com maior quantidade de homicídios registrados, sendo o mais violento da Serra Gaúcha, no comparativo per capita. Associado a isso está também o levantamento da Polícia Rodoviária Federal apontando que a BR 470 está entre as quatro estradas mais vulneráveis do país para o crime de exploração sexual infantil. E que, dos 19 pontos mapeados, três ficam justamente entre Bento e Carlos Barbosa. É possível que o desenvolvimento do Complexo Turístico Integrado na BR 470 possa ser a melhor opção para esse trecho inclusive no sentido de contribuir no combate a essa realidade que nos assusta tanto?
Paulo– A droga. Sabemos que é a origem de quase todos os homicídios, as execuções. É o que tem que ser combatido a nível de governo federal e estadual, está se fazendo. Não é um problema de Bento Gonçalves, não é um problema que Bento deixou criar. Ele vem de fora, se instala e é o governo federal e estadual que vão combater o crime organizado, a droga, é nisso que nós acreditamos muito nesse momento. Já diminuiu muito, em Porto Alegre, a execução. Quanto à rodovia e a exploração sexual infantil, acho que ninguém da minha idade fez mais este trajeto do que eu para saber dos seus problemas, fui muito a Porto Alegre e trabalhei em Caxias. O que teríamos que instalar, além da iluminação na rodovia, são câmeras de segurança. Porque esse é um “cliente” que não quer ser visto. Se colocarmos câmeras, eliminamos todo esse mal e as câmeras vão servir para toda a segurança também. Hoje isso é algo fácil de fazer. Então nestes pontos onde há incidência desse tipo de exploração, o principal é coibir o “cliente”.
Elton– Ana, o que me chama a atenção é a exploração sexual infantil. A PRF indica três pontos dessa exploração no trecho, a gente ao passar vê situações de prostituição, mas o que me deixa perplexo e mais preocupado é que atinge menores. Quanto aos índices de Bento, tenho um acompanhamento muito próximo junto à Brigada Militar, todos os meses nos envia as estatísticas. Na verdade, o único ponto que a gente está perdendo na luta da segurança pública é a drogadição. Nos demais índices -roubo a pedestre, roubo a estabelecimento comercial, roubo a residência, etc- estamos tendo apontamentos favoráveis nos últimos anos, pelo menos nos últimos dois anos temos melhorado muito nossos índices. Só que os homicídios são o que pesa mais. Nós estamos até fazendo, com o apoio do CIC e a liderança do Consepro, o lançamento de uma campanha que vai nascer aqui em Bento mas vamos ter generosidade suficiente para enviar a todos que quiserem propagar uma campanha educativa. Só existe o interesse do tráfico em abrir “filial” aqui em Bento porque existe o consumo, essa é a lógica do negócio. Você não vai abrir ponto de venda em um lugar onde não existe consumo de produto. Com a droga é a mesma coisa. Os bandidos vêm para Bento Gonçalves querer disputar pontos de venda porque aqui existe um consumo atrativo. Queremos fazer uma campanha junto aos colégios do ensino médio, faculdades, cursos, até casas noturnas no sentido de conscientizar aquele consumo de droga, aquela compra. Aquela compra daqueles R$ 50, R$ 100, ou R$ 1000 em drogas para se divertir está fomentando toda uma violência regional. É um problema social. E quem consome está colocando em risco inclusive um ente querido seu em função deste fomentar, deste apoio financeiro que está dando com a compra daquele entorpecente. Na verdade está fomentando uma violência que pode ser contra a sua mãe, seu pai, um ente querido, um irmão, um amigo. Essa campanha já tem muita coisa pronta para ser iniciada. Estamos identificando os colégios e os operadores que normalmente serão o capitão, os delegados da Brigada e e da Polícia Civil que tenham esta aptidão para ir ao encontro de jovens e demonstrar na prática a realidade, o que acontece. Queremos fazer esta campanha muito parecida com a campanha do Tabagismo feita no Brasil nos últimos 20 anos com excelente resultado. Precisamos massificar a informação para esse jovem. Mas não adianta você ir lá um mês, falar e nunca mais voltar. A cada dois meses tem que ir mostrar, salientar e assim, quem sabe, a gente prepara a sociedade para evitar esse tipo de consumo/comercialização reduzindo por consequência também o índice de violência/homicídios na nossa região. Mas é um caminho duro, longo, que exige muita persistência, pois trata-se de um problema crônico Nacional.
Ana – Há uns 20 anos o Consepro fez um trabalho semelhante, com base num levantamento conduzido pela Vânia Caprara. Naquela época havia uma situação preocupante com a droga, muito forte, não tanto quanto agora, com guerra de facções. Mas o consumo era alto e muitas crianças estavam envolvidas no tráfico. Na época a campanha surtiu efeito…
Paulo– Lembro disso, tempo do Jovino Demari presidente do Consepro, inclusive eles demonstravam o que era maconha, cocaína, o desconhecimento sempre é pior. Eles iam com a droga ao vivo para mostrar aos pais o que era, pois é uma informação, e a droga já estava aí.
Elton– A curiosidade é o que leva o jovem a entrar nessa…
Vocação turística é então um caminho sem volta para a BR 470? Vislumbram em que prazo vai ocorrer uma mudança de cenário no paisagismo da rodovia?
Elton– Depende de alguns fatores. O mercado imobiliário aqui é um pouco superestimado e isso acaba prejudicando um pouco o desenvolvimento, pois a pessoa que tem uma área de terra, um terreno, acaba se acomodando, não investe, não faz melhorias, não faz investimentos. E para vender aquilo o cara quer uma babilônia de dinheiro. Isso é um fator que influencia muito. Outro fator é a economia; estamos visualizando uma retomada, talvez de forma lenta, gradativa, talvez mais uns dois anos até termos um ritmo de crescimento mais sustentável, mais seguro, para esses investimentos mais expressivos que se imagina na BR470, necessários se quisermos atrair o turismo, um público elevado de turistas. Têm quer ser nessa linha os investimentos ali, até por que os valores reais daquelas áreas exigem que se faça investimentos mais expressivos.
Paulo– Já tem bastante coisa alinhada, que vai garantir o sucesso. A hotelaria está crescendo muito e a gastronomia também está variada. Acredito que hoje já tenhamos mais empreendimentos de gastronomia do que demanda, embora na alta temporada seja suficiente. Então, o que precisamos hoje são justamente atrativos turísticos que realmente façam a diferença, produtos turísticos que também atendam as crianças, não só adultos. Temos os Caminhos de Pedra atendendo melhor crianças em vários locais, mas o vinho é mais turismo de adultos. A Maria Fumaça também, para crianças, como experiência, mas essas experiências ainda são muito pouco para tudo que outras cidades turísticas já oferecem. E nós somos muito originais no que fazemos, nisso temos que dizer que somos realmente bons. Temos autenticidade, originalidade, bem interessante tudo isso, mas vamos precisar expandir em projetos turísticos com opções para toda a família, para toda a época do ano, o que dá sustentabilidade para estas estruturas. Também estamos deficientes em estradas. Agora o aeroporto de Porto Alegre já está bem melhor, mas as estradas estão insuficientes para o turismo que a gente quer.
Elton– Imagine se tivéssemos toda essa estrutura viária como a gente imagina e sonha, com pistas duplicadas e laterais. Um casal na sua melhor idade, numa quinta à tarde, quer sair da grande Porto Alegre e aí pensaria “ah, vamos passar um final de semana na Serra”, porque ele viria tranquilo, na sua pista dupla.
Paulo– Sem falar que, assim como na praia ou em Gramado, esse mesmo casal apreciaria ter moradia aqui também, vai interessar ter um apartamento, ou uma pequena casa de campo, como muitos em Bento têm apartamentos em Porto Alegre ou na praia. Veja o que foi o desenvolvimento a 20km do mar; condomínios maravilhosos. E aqui vai acontecer igual desde que se dê essa infraestrutura viária, pois é maravilhoso viver no mundo do vinho, do turismo, da gastronomia, da boa hospedagem. É nisso que eu acredito muito.
Por sua experiência e visão de mercado, Elton e Paulo, que nichos, ou tipos de negócios -como negócios complementares, serviços,- deverão surgir ali a curto e médio prazo a partir da divulgação ou início de atividades dos grandes empreendimentos que já estão sendo implantados, além dos atrativos especialmente gastronômicos e vinícolas que já existem nesse trecho com bastante sucesso há vários anos?
Paulo– Em primeiro lugar não podemos esquecer da parte da cultura. Onde agora tem o posto do SIM era para ser uma grande recepção turística. Houve um desacordo com a Petrobrás, mas os próprios operadores da Maria Fumaça sabem que ali seria nossa melhor recepção turística, com espaços e áreas construídas. Esse serviço ao turismo cada vez mais vai sendo profissionalizado, valorizando a realidade, a verdade de tudo que se tem a apresentar. São pontos que não podem ficar de fora. A cultura da região é muito grande, forte e farta em tudo que fazermos. Temos muita coisa feita, mas ela não pode ser esquecida e essas cidades têm muita cultura, muita coisa que se pode acrescentar ao que já existe. Essas áreas, tanto em Garibaldi quanto em Barbosa, têm um interior muito rico que também deve ser integrado ao turismo, à venda de seus produtos. Essa integração ao turismo traz renda e mais padrão de vida para todos, desde que cultura e produtores não fiquem fora do processo. O turista quer levar produto, quer conhecer tudo, quer o que temos de melhor, mas quer autenticidade, quer levar originalidade.
Elton– Concordo, é a sua essência. O turista aqui adoraria ver a nona fazendo um pão colonial num forno a lenha. É isso que ele quer ver, as coisas da terra, a origem de tudo. Fiz na Itália uma visita a uma queijaria do interior. O próprio agricultor lá tem suas vacas, a sua queijaria e mostra como faz, sem frescura, sem a secretaria da saúde em cima dele, estrangulando-o e impedindo-o de fazer e vender seu queijo. Aqui no Brasil, e principalmente no Rio Grande do Sul, temos que destravar isso, estas questões que às vezes o produtor faz uma marmelada, uma figada, e é tão estrangulado nas normativas e exigências que fica mais fácil largar de mão de produzir e ir trabalhar num supermercado. Então vejo dois fatores primordiais para a nossa região toda: por exemplo, Barbosa, no interior, poderia ter laticínios, pequenas queijarias. Aqui em Bento, além dos vinhos, o pão colonial, a figada caseira, isso tudo é importante, mantendo a cultura original viva no interior. Por outro lado, nos centros das cidades, como Bento, 00Carlos Barbosa e Garibaldi, é preciso criar um ambiente atrativo ao menos para tirar uma foto. Quando viajamos gostamos de fazer isso nas outras cidades. Aqui não é diferente, mas temos atrativos? Ter um mercado público muito atrativo, por exemplo. Garibaldi possui essa questão bonita do Vintage, tem um centro muito charmoso e faz uso disso. Bento tem uma joia rara que precisa ser mais lapidada; ela começou a ser lapidada e deu uma estagnada. A gente precisa pegar aquela Via del Vino toda, lá da escadaria do colégio até a Caixa Econômica Federal e realmente torná-la uma via turística, mudar um pouco o conceito.
Paulo– As pessoas vão vender muito mais, elas precisam de mais espaço no centro da cidade. O que se tem que pensar, no local, beneficiando-o para que o turismo não se torne um incomodo, parte de uma conscientização de que todos têm os seus benefícios. Se tivermos uma via mantendo os acessos aos moradores mas sem todo o tráfego do dia a dia já seria uma tranquilidade para quem mora também porque é um ganho ter um banco, as flores, sentar e desfrutar junto do turista com tranquilidade. É uma questão de trânsito e conscientização pois o local é que tem que receber o turista bem. Não se pode hostilizar. Temos que integrar pois todo mundo sente benefícios do turismo. O posto de gasolina ganha, a padaria ganha, a loja ganha, o conjunto todo, tudo direta ou indiretamente tem valor a mais no que se produz. Isso vem a mais e o turista fica no município, de várias maneiras ele fica. Nós temos a vocação. A Fenavinho ajuda muito pois integra a cultura, o vinho, convida gente do país todo e isso é uma divulgação. Todo mundo gosta das nossas feiras, está bem harmônico isso. Agora precisa fazer com que a comunidade viva isso.
Elton– Tudo que já se fez aqui surgiu quase que ao natural nessa região. Já pensou se tivéssemos alguma ação indutora disso? Ou seja, se tivéssemos algumas ações coordenadas, que mexessem na proposta como cidade? Talvez essas sejam as dificuldades de movimentações estratégicas de uma cidade que sempre teve um viés mais industrial, comercial, e que hoje precisa desenvolver esse viés do turismo.
Paulo– Eu gostaria que toda a população de Bento anualmente fizesse uma viagem pelo Brasil para ver o quanto a nossa região será valorizada, o quanto irão ouvir falar de Bento Gonçalves, de toda a Serra Gaúcha. É incrível a boa imagem que o Brasil tem de Bento Gonçalves. Temos muita coisa boa já encaminhada, nossa vocação está bem conhecida pelos móveis, vinhos, pelo povo receptivo, pela gastronomia, pela cultura, temos muita coisa boa na mão, muito para comemorar. Veja o que foi o crescimento das vinícolas, o Vale nos sábados e domingos é cheio de gente feliz em conhecer nosso lugar. Temos o frio e temos o calor na colheita da uva. Não existe aqui época ruim. Sempre é bom vir para Bento Gonçalves, Garibaldi, Carlos Barbosa e toda a Serra Gaúcha para passear, se sentir bem e bem acolhido.
Elton– Constatamos isso quando viajamos. Quando se vai para a Itália, “ah, Toscana!” Não canso de dizer que temos aqui uma Toscana, melhorada até, se for ver. Há alguns dias almocei em Flores da Cunha numa cantina, uma vinícola, linda! E pensei: como somos privilegiados por morar a 50 km de um local destes…
Paulo– Depois de inaugurar a Di Paolo em Porto Alegre, um fato me chama muito a atenção. Talvez não seja nem 10% dos porto-alegrenses que conhecem o Vale dos Vinhedos. Uns 30% ou 40% conhecem Gramado, talvez até mais. Mas Gramado construiu o Natal Luz, agora tem o festival de Cinema, o Chocolate, uma construção muito forte para você ir e voltar no mesmo dia se quiser. Por mais que se divulgue tudo que nós temos, às vezes as pessoas não vêm. Então o nosso compromisso é tratar bem, é servir bem, fazer com que ele se sinta com vontade, que tenha uma experiência memorável para falar aos outros, cobrando o justo e bem claramente, pois às vezes se pode pecar por cobrar pouco e não entregar uma boa qualidade. O turista sabe o valor justo, ele não se importa em pagar o justo, mas quer fazer valer cada centavo para sentir que não foi nem explorado e nem que foi uma insatisfação, pois ele está de bem. Ele quer o sabor, a gastronomia, o produto, o atendimento. Em qualquer lugar do mundo é assim, ele sabe que funciona: o valor justo e entregar o que se promete, o que está dentro daquele valor.
E tendo em conta essa evolução na BR470, Paulo, consideras a possibilidade de fazer novos investimentos ali?
Paulo– Acredito que vão se abrir oportunidades até por que já estão sendo construídos grandes negócios ofertando espaços. Vamos estudar, sim, mapear quais são os locais que poderiam ser melhores. Acreditamos que o Vale dos Vinhedos pode ter novos investimentos, talvez tenhamos que separar alguns produtos como só grelhados num local, galetos e grelhados em outra casa pois talvez esse seria um grande negócio, grelhados ir para um lugar específico, ao invés do sistema em sequência que a gente tem hoje; o grelhado à la carte servindo no ponto que o cliente quer, na hora que ele quer, com toda a qualidade de carnes, acredito que vai abrir uma demanda em cima disso e é um momento em que cai um pouco o rodízio e a churrascaria, está menos procurado, pois é muita variedade. Mas a porção servida à mesa para um, para dois, vemos acontecendo muito em todas as cidades. Temos condições de fazer um bom grelhado e acredito que seria um grande negócio para o grupo todo. Só precisamos saber onde é o melhor local. O Vale promete muito, os Caminhos de Pedra também têm muito a crescer ainda e eu diria que temos a vocação na BR470, de cuidar bem daí, talvez seja o grande momento.
Elton– É a porta de entrada de Bento Gonçalves.
Paulo– Sabemos o quanto foi importante, quando nos localizamos no Benvenutti. Naquele ano abrimos em janeiro e teve uma Movelsul em março que nos impulsionou, nos tornando conhecidos pelo Brasil todo, pois ali passavam várias pessoas para almoçar e jantar. Teve também uma Fenavinho naquele ano, se não me engano, então tivemos no primeiro ano dois eventos que nos permitiram não termos problema de clientes, pois dali para frente ficamos muito conhecidos. Para ver a importância dos eventos em Bento para que a gente fique conhecido. E realmente a BR470 é a ligação para a Capital, ali há um maior fluxo, principalmente de gente de fora do estado e da capital.
Algo que não perguntamos e seria importante divulgar? Uma mensagem para a população e para investidores?
Elton– Quero só falar da satisfação que é morar aqui. Nasci em Anta Gorda, cresci em Triunfo, perto de Porto Alegre. Viemos para cá há 27 anos, é uma região que eu amo muito. Como é bom estarmos falando sobre empreendimento, crescimento, desenvolvimento dessa região, pois é uma região que tem essa vocação empreendedora, de crescer, se desenvolver, de gerar emprego, renda. Há outras regiões que padecem eternamente, com dificuldades de se desenvolver, prosperar, cidade que estagnaram ou até retroagiram ao longo dos anos. Que bom que temos essa população, esse povo, essa possibilidade de estarmos aqui falando de futuro promissor.
Paulo– Sou muito grato à região especialmente a Bento, nasci em Guaporé -Dois Lajeados- mas eu pude me tornar parte desta cidade, desde a ExpoBento, Fenavinho, CIC, Cidadão de Bento Gonçalves do que muito me orgulho e agradeço. Hoje tenho um negócio por ter saído de casa e aprendido uma profissão, de garçom, completo 40 anos de profissão. É uma comunidade que já recebeu muita gente de fora para estar junto e somar. Temos que agradecer aos nossos antepassados que começaram um projeto vencedor aqui em Bento Gonçalves com nossas indústrias e vinho e com tudo, pois daquele início lá acredito que estas novas gerações estão fazendo por merecer. Desejo que Bento fique no cenário, se mantenha, junto com Carlos Barbosa e Garibaldi, muito pujantes também, as comunidades se unam para o melhor. Temos tudo isso, as feiras que envolvem setores unidos fazendo a diferença e temos que continuar fazendo isso. Temos ali na frente uma Feira do Vinho também, internacional, que escolheu Bento Gonçalves como sede não por acaso. Bento se estruturou, tem potencial.
Mapas do projeto
Acompanhe a entrevista concedida à rádio Rainha FM sobre o assunto
Pesquisa
A Dissegna realizou uma Pesquisa sobre a Vocação Turística da BR-470, que poderá ser conferida clicando aqui.