Atividades locais movimentam a região, mas problemas como transporte e a segurança são pontos a melhorar, segundo moradores

Em São Valentim, uma pequena comunidade no interior, Hilário Lunelli, de 82 anos, é uma figura respeitada. Há mais de cinco décadas, ele é o responsável pelo churrasco nas tradicionais festas da comunidade. “Nasci e me criei aqui”, conta Hilário, com um brilho nos olhos ao relembrar suas memórias. “Trabalhei na estrada por muito tempo, mas desde 1970, minha história está ligada à Igreja e às festas, além de estar trabalhando com agricultura”, recorda.

Ao falar sobre seu trabalho como churrasqueiro, Lunelli lembra do início humilde, quando cozinhava em uma churrasqueira aberta, envolto na fumaça. “A gente fazia numa churrasqueira, depois construíram uma atrás da Igreja e, com o tempo, uma nova estrutura foi feita no salão”, conta. Ele também lembra dos colegas que já foram, como Francisco Peter e Luís da Costa, companheiros de trabalho em muitas dessas celebrações. “Vários amigos já partiram, mas a festa continua”, comenta com uma mistura de saudade e orgulho.

A festa do padroeiro São Valentim ocorre uma vez por ano, no dia 14 de fevereiro. Além disso, Lunelli participa de todos os eventos da comunidade, como casamentos e outras celebrações. “Sempre estive aqui, ajudando. Hoje, é tudo mais fácil com a energia elétrica e equipamentos modernos, mas no início era tudo manual”, diz.

Além de churrasqueiro, Lunelli trabalhou na agricultura e testemunhou o crescimento da região. “Quando começou, a população daqui era menos de 40% do que é hoje. Agora, tem mais loteamentos, e as primeiras indústrias chegaram nos anos 80”, relembra. Ele fala com orgulho sobre o desenvolvimento, mas destaca que a comunidade nunca para de crescer e melhorar.

Lunelli ainda registra mudanças na economia local. “Antes, tínhamos moinhos para o trigo, mas com o crescimento das indústrias, muitos desapareceram”, revela. Mesmo assim, ele permanece otimista sobre o futuro da comunidade que tanto ama.

O aposentado reflete sobre a importância de suas raízes. “Conheço todas as famílias antigas daqui. A gente cresceu junto com a comunidade”, conta. Para ele, o crescimento é constante, e sempre há espaço para melhorar. “Estamos bem, mas sempre pode melhorar um pouco mais”, conclui.

A vida em São Valentim

Além de Lunelli, outro personagem importante nas festas de São Valentim é uma cozinheira da tradicional Festa de Sant’Ana, que também compartilha suas experiências e opiniões sobre a vida na localidade. Há muitos anos residindo no local, Terezinha Fracalossi observa de perto o desenvolvimento da região e a importância das festas comunitárias na vida local.

“Eu nasci aqui, em São Valentim, e desde então acompanho o crescimento do lugar. Hoje, temos muitos loteamentos industriais e residenciais, o que trouxe progresso para a nossa comunidade”, comenta. Entre as demandas dos moradores, destaca-se a necessidade de uma ciclovia. “É algo que pedimos há muito tempo. Seria maravilhoso para nós”, destaca.

Envolvida nas atividades da Igreja, a cozinheira está há três anos dedicando-se à organização das festas e ao cuidado com o salão comunitário. “Cozinho, cuido da limpeza e organizo tudo com muito carinho. O que eu mais gosto daqui é o espírito acolhedor da comunidade. O pessoal é trabalhador, unido”, pontua.
Quando o assunto é a educação na localidade, ela vê com bons olhos o desenvolvimento das escolas. “Aqui, temos escolas municipais e até ensino em turno integral. Nossa filha estudou aqui e a educação tem sido de qualidade”, ressalta.

EMEF São Valentim se tornou escola de Ensino Fundamental em 2022. Foto: Marilei Anderle

Entretanto, há uma questão que ainda precisa ser resolvida: o transporte. “Depois da pandemia, os horários foram reduzidos, e temos poucos ônibus circulando, especialmente à noite. O transporte é mais voltado para as fábricas, e isso limita um pouco a nossa mobilidade”, acrescenta.

Apesar dessas dificuldades, ela mantém uma visão positiva da localidade. “Acredito que São Valentim está no caminho certo. É um lugar acolhedor, em constante desenvolvimento, e que oferece muita qualidade de vida para seus moradores”, conclui.

Agricultura e segurança

Adriano Andreis, agricultor de 35 anos, é outro morador que vê a localidade com muito carinho e orgulho. Nascido e criado no distrito, ele representa uma nova geração de agricultores que segue impulsionando a economia local e mantendo as tradições vivas. “Aqui é um lugar calmo, com uma paisagem bonita e muito verde. O que mais gosto é ver que muitos jovens também estão envolvidos na agricultura, o que nos incentiva muito”, evidencia.

Quando questionado sobre aspectos negativos da localidade, Andreis destaca que não vê grandes problemas. “É uma comunidade tranquila, onde as pessoas se respeitam e se ajudam. A única coisa que eu sinto falta é do policiamento comunitário, que tinha há algum tempo. Acho que seria interessante voltar, mas, no geral, a segurança aqui é boa”, observa.

Adriano, que mora no distrito junto com seus pais e avós, testemunha o progresso da localidade ao longo dos anos. “Vi um grande desenvolvimento, tanto na agricultura quanto no surgimento de novos negócios. Hoje, temos três mercados e várias empresas. O mercado de trabalho cresceu e não faltam oportunidades, tanto na agricultura quanto nas indústrias que surgiram”, garante.

Nova geração

Natieli Manfroi faz parte da nova geração da localidade

Natiele Manfroi, 17 anos, representa a nova geração de São Valentim. Estudante do Ensino Médio na cidade, mas moradora da localidade, ela vê com clareza os pontos positivos e os desafios que ainda existem na região. “Eu moro aqui desde pequena, mas estudo no Colégio Dona Isabel porque aqui não temos escola de Ensino Médio. Apesar disso, sempre estudei em escolas muito boas na comunidade”, frisa.

Entretanto, ela aponta algo que a incomoda: a falta de cuidado de algumas pessoas com o local. “O que me chateia é a falta de atenção que algumas pessoas dão ao que temos aqui. Temos um lugar maravilhoso, com uma natureza incrível e locais bonitos, mas parece que alguns não valorizam isso. Acho que devemos valorizar mais o que temos, não ignorar isso”, finaliza.