O verde predominante das inúmeras parreiras que se destacam com facilidade, indica que a economia de São Valentim é baseada na agricultura. Entretanto, o distrito também está se desenvolvendo na área do empreendedorismo. Além do surgimento de indústrias, os próprios moradores estão investindo no próprio negócio. Tudo isso tem gerado novas vagas de emprego na região.
O microempresário Amarildo Tibola, 56 anos, veio do município de Davi Canabarro, em 1978, junto com a família. Começou a vida profissional trabalhando em uma empresa de móveis, que encerrou as atividades anos depois. Posteriormente, ele e o irmão tiveram a ideia de abrir o próprio empreendimento, na mesma área.
A empresa, que abriu as portas em 1988, inicialmente funcionava em Bento Gonçalves. Depois, a família optou por transferir para São Valentim. “Decidimos empreender aqui, porque moramos aqui e também para evitar gastos, porque quando começamos na cidade, a gente pagava aluguel”, conta.
Tibola, que conhece bem a localidade, afirma que há geração de empregos. “Estamos com dificuldades, assim como muitos, devido a falta de matéria prima, mas tem muitas indústrias que já fecharam o ano e não conseguem vender, porque não tem mais produção e isso é bom, gera mais empregos”, analisa.
Em relação a mão de obra, ele acredita que está em falta. “Com a abertura dos distritos industriais e residenciais, a tendência é desenvolverem mais, com isso, vai vir muita gente trabalhar e morar aqui”, afirma.
Quem tem a mesma opinião é o Adilson Maito, 51 anos. Ele é proprietário do primeiro supermercado de São Valentim, que abriu as portas há mais de duas décadas. “Na época, vi a possibilidade de crescimento, porque não tinha nenhum estabelecimento comercial na minha área, que é supermercado, então resolvi encarar esse desafio e sou bem-sucedido até o momento”, assegura.
Maito afirma que, principalmente no setor industrial, está faltando trabalhadores. “O pessoal precisa e não encontra. Quando acha, tem alguns com menos vontade, outros com mais. Realmente está sendo uma dificuldade encontrar funcionários, principalmente os mais capacitados. Trabalho para quem tem vontade, tem”, afirma.
Quando o assunto é São Valentim, Tibola acredita que é um dos locais da região que mais vai se desenvolver. “É uma terra prospera, que tem tudo para crescer e isso já está acontecendo. É incrível a quantidade de gente que está vindo para cá. Toda semana duas ou três pessoas aparecem perguntando onde tem lugar para alugar aqui”, conta.
A Casa Postal Vinícola e Bistrô, fundada no local há mais de 60 anos, está passando de geração para geração. Começou com o Ernesto Postal e hoje, está sob os comandos do filho Gilberto Postal e do neto, Élison Postal.
A empresa, embora familiar, também gera empregos diretos. “Além do meu pai e da minha mãe, temos mais cinco pessoas trabalhando com nós, duas ficam na parte do bistrô e três na viticultura”, conta Élison.
Sobre a mão de obra, Postal afirma que é não é fácil encontrar funcionários novos. “Me parece que está faltando mão de obra, inclusive na agricultura. Nós empregamos três pessoas nessa área e é bem difícil encontrar substitutos ou mais pessoas. Um dos motivos é a faixa etária alta, não está tendo renovação desses trabalhadores. Outro motivo é que a oferta de emprego em outros setores acaba restringindo o que viria para a agricultura”, afirma.
Com uma empresa antiga e consolidada, Postal acredita que vale a pena escolher a localidade para empreender. “São Valentin fica perto do centro de Bento, está ao lado da rodovia, então para as indústrias e administração de empresas é tudo próximo. Aqui tem estrutura e vários locais apropriados para esse fim”, afirma.
Além disso, o empresário também enxerga no local a possibilidade de investimento em turismo. “Nosso roteiro é mais jovem que outros, mas apresenta crescimento constante, de 20% ao ano. Então, acho que tem demanda por esse tipo de empreendimento, por hospedagem, por hotel que a gente não tem aqui e acho que teria espaço para um”, analisa.
Segurança
Com o aumento de empresas e consequentemente de pessoas circulando no interior, a segurança não pode ficar comprometida. Por isso, Tibola conta que a comunidade, em parceria com a prefeitura e a Brigada Militar, se organizou para adquirir câmeras de segurança. “Foram feitas rifas para vender e juntar dinheiro para comprar. Foi uma união de forças. Inclusive já estão sendo instaladas em seis pontos. Esse monitoramento vai ajudar bastante”, conta.
O empresário Maito afirma que há alguns anos a segurança da região aumentou, principalmente com a ajuda da patrulha rural. “Está funcionando muito. Praticamente deixou de acontecer assalto. Antigamente tínhamos sérios problemas. Passamos tempos muito difíceis. Já fui assalto aqui, minha casa foi arrombada. Era fora do comum, mas dos últimos anos para cá acalmou muito”, afirma.
Ainda que Maito elogie o andamento da segurança na região, foi a favor da instalação das câmeras de segurança. “Toda comunidade colaborou na venda das rifas, para poder arrecadar fundos. Vão ser colocadas em pontos estratégicos, diz.
Postal também se diz satisfeito com a segurança de onde trabalha e mora. “Temos policiamento que passa por aqui e a gente não se sente inseguro. A nossa casa e o nosso empreendimento ficam com as portas abertas e a gente não tem receio que fique, então acredito que estamos tranquilos quanto a isso”, comenta.
Safra 2021
Enio Lunelli, 66 anos, mora em São Valentim desde 1954. Assim como a maioria dos membros da família, dedica-se a agricultura. “Trabalho com meu irmão e com meu sobrinho”, conta.
Lunelli começou a dedicar-se a vitivinicultura ainda novo, com 13 anos. De lá para cá, ele afirma que as condições de trabalharam melhoraram muito, com o avanço da tecnologia. “Eliminou a mão de obra pesada e facilitou bastante”, afirma.
Em relação a próxima safra, o agricultor afirma que a expectativa é positiva, entretanto, alerta que falta chuva. “Precisamos de mais umidade agora”, aponta.
Postal também está otimista para a safra do ano que vem. “Sempre que tem previsão de tempo menos chuvoso, a qualidade da uva é excelente. Claro, a quantidade diminui um pouco, mas ganhamos em qualidade”, assegura.
Cresce o número de fiéis
O padre Daniel D’Agnoluzzo Zatti, pároco da paróquia São Roque, responsável pela comunidade São Valentim há mais de quatro anos, afirma que depois que a Igreja reabriu as portas, aumentou o número de moradores da comunidade que estão indo às missas. “Tivemos muitos moradores que voltaram, porque antes da pandemia não frequentavam. Eles se perguntavam durante a pandemia certamente pelas questões essenciais do ser humano”, conta.
De acordo com o padre, novos membros na Igreja é uma demonstração de esperança. “Parece que existe aí muita esperança em relação a esse toque que a pandemia está dando para que as pessoas reflitam sobre o sentido da existência”, avalia.
O padre também afirma que a comunidade local cada vez mais valorizará a religião. “Porque se dão conta de que os valores mais profundos que tocam a existência humana são os religiosos, eles que dão base para valores de humanização”, diz.
Investimento em educação
O morador Maito é pai de quatro filhos, por isso, sentiu na pele a necessidade de ser colocada uma creche em São Valentim. Atualmente, a mais perto do distrito, fica no bairro São Roque, em Bento Gonçalves. “Eu tinha que sair correndo daqui, de manhã cedo, para levar até lá. De tarde, fechava o meu mercado antes das 18 horas para conseguir chegar a tempo de buscar as crianças”, relata.
Além dos moradores, Maito percebe que é uma demanda também das pessoas que trabalham lá. “Tem muita gente que vem trabalhar aqui, então seria importante ter uma creche, porque as pessoas viriam trabalhar, largavam a criança e pegavam no final do expediente”, analisa.
O agricultor Enio também gostaria que o interior recebesse investimento na educação. “Precisamos de um colégio de segundo grau. A população aumentou muito aqui, vem gente de tudo que é lugar nos últimos anos”, afirma.