No bairro, a tranquilidade diminuiu nos últimos anos, junto com o aumento de construção de novos lares. Dolmires José Visentin, Luiz Trevisol e Odila Teixeira De Melo, contam sobre quando vieram morar na localidade
O Bairro Santo Antão foi projetado para servir como uma espécie de reserva verde para Bento Gonçalves. Desde sempre, a comunidade local preocupou-se em garantir uma convivência harmônica com a natureza, que garante um ar mais saudável a todos os moradores do município, tendo a cobertura de vegetações como característica. Atualmente, muitas casas de alto padrão mesclam com as tradicionais residências mais antigas.
Dolmires José Visentin, 79 anos, mais conhecido como ‘Menin’, e a esposa, Odila Bavaresco, 78, vieram morar no bairro no final dos anos 1980, quando a natureza era a anfitriã e poucas casas rodeavam a localidade. A laranjeira que plantaram naquela época, hoje toma conta da fachada da residência e exibe lindos frutos. “Não tinha iluminação pública, água e telefone, nas noites de inverno haviam muitos vagalumes e naquele tempo não tinha problemas com criminalidade”, recorda.
Quando comprou o lote, somente sua quadra tinha calçamento e muitas ruas não existiam. O casal guarda diversas fotos para recordar as décadas passadas, inclusive uma parede cheia de retratos de família, que contam um pouco sobre suas histórias. Na época dos lotes, foi Dante Larentis que vendeu para Vicentin, já com o calçamento incluso. “Ele arrendou uns 10 lotes lá na firma, a preço de um cruzeiro e disse que fazia a prestação, em 40 vezes para pagar. Se eu sabia, comprava tudo. Naquela época não parecia que ia crescer tanto, mas evoluiu”, declara.
De acordo com Visentin, o bairro teve um grande desenvolvimento nas últimas décadas, várias industrias abriram e muitas residências foram sendo erguidas, bem diferente de quando chegaram no local. “No começo tinham umas quatro ou cinco construções, uma cancha reta que possuía uns 500 metros onde tinha corrida de cavalos, no sábado e domingos os caras vinham apostar, corriam de duplas e os ciganos acampavam aqui na frente, puxando os cabos de luz aqui de casa, eram várias barracas”, relata.
Para subir até sua casa, o aposentado se deparava com algumas situações. “Tinha uma subida que era puro barro, meu carro atolava quando eu vinha do centro. Muitas ruas eram de chão batido”, detalha. Além disso, a região possuía diversos parreirais, das famílias tradicionais de agricultores que se instalaram no local antes de Visentin. “Eu e minha esposa buscávamos uvas nos vizinhos, os moradores sempre foram muito amigos. Aqui também dava geadas fortes, agora é muito calor”, afirma. De acordo com o aposentado, o cantar dos pássaros e o voo dos beija-flores fazem de suas manhãs, as melhores que ele poderia imaginar.
O casal não tem filhos, mas agradece por todas as pessoas que passaram por suas vidas, muitas são consideradas sua família. “O pai celeste não nos concedeu um bebê, mas todos os amigos são como filhos. Há pessoas que, se não apareço, me questionam pelo tempo que fiquei sem vê-los”, agradece. Além disso, há pessoas especiais que se foram, mas que sempre estarão no coração de Visentin. “Tenho uma recordação, o livro O Caçador de Caramujos, do Remy Valduga. Considerava ele como um padrinho, pois durante uma missa de João Batista na Igreja de Cristo Rei, há muitos anos atrás, estavam realizando um batismo e em certo momento o padre disse que quem estava ao lado, a partir daquele momento, seria considerado seu padrinho. No sábado, quando soube que ele faleceu, fui pegar um livro para ler”, lamenta.
Alguns elogios e sugestões de melhoria referentes ao bairro são anunciados por Visentin. “O serviço de coleta de lixo é muito bom, passando nos dias certos e os garis são muito bem instruídos. Não há farmácias, então seria importante ter uma por aqui”, pede.
A religiosidade segue forte
A primeira capela do bairro Santo Antão foi construída de madeira, em 1896, no terreno doado por uma família da região. O sino era sustentado por um campanil com nove metros de altura, separado do prédio da capela. A igreja velha deu lugar à atual, inaugurada em 1928, em razão de precisar ser reformada e de oferecer pouco espaço para as missas na comunidade.
Conforme Visentin, a comunidade religiosa é bastante participativa. “Aqui a gente tem a nossa Capela e os moradores são assíduos nas missas que ocorrem em dois domingos do mês. Além disso, participam quando tem algum evento, então aqui considero uma irmandade”, conta.
Precisa-se de lazer
Tudo mudou desde que Luiz Trevisol, 78 anos, saiu de São Valentim, onde trabalhou por muitos anos em uma pedreira, e veio residir no bairro Santo Antão. Há 40 anos, construiu seu lar e só depois de 10 anos veio morar na residência. “Tinha mato e bastante tranquilidade, agora tem casas por todos os lados e muitos terrenos a venda. É um local muito bom de morar, mas está ficando mais movimentado por conta dos novos loteamentos que surgem ao redor. Acho que logo terá um condomínio fechado aqui perto”, menciona.
Para ele, a saúde está muito boa, mesmo precisando se deslocar para outros bairros para se consultar. “Os moradores precisam ir até o 24h e o atendimento é ótimo, mas seria mais próximo irmos até a Unidade Básica de Saúde (UBS) do Santa Helena”, reflete. De lazer, Trevisol ressalta que não tem mais opções para os idosos, somente as missas na Capela Santo Antão. “Uma vez tinha jogos de baralho no salão, era uma boa diversão para as pessoas, mas os encontros pararam, assim como em outros bairros”, lamenta.
O barulho como inimigo
O fluxo de carros é constante na rua Nelson Carraro e os muitos caminhões que transitam pelo local, fazem o dia a dia de Alcides Longhi, 77 anos, um pouco barulhentos. “Resido nesta rua há 30 anos, com o tempo foi perdendo o silêncio que tinha lá no começo, muitos carros passam em alta velocidade. Quando tinha meu bar, era uma época boa, pois não haviam tantos veículos passando”, lembra.
Longhi nasceu na colônia e mudou-se para o Santo Antão aos 46 anos. “Fiquei cinco anos de aluguel e depois comprei um lote, onde construí minha casa. Tinha um bar e mini mercado, fiquei uns 15 anos com esse comércio, levantava as 6h da manhã e deitava as 23h da noite. No sábado, que poderia descansar, o pessoal da Carraro queria que eu atendesse, então eu abria”, recorda.
Para ele, poderia se ter um espaço para a saúde no bairro, facilitando o acesso para os moradores. “Não tem posto de saúde aqui, então vou me consultar no Santa Helena”, diz. De acordo com o comerciante aposentado, o transporte público passa a cada meia hora e a coleta seletiva vem nos dias certos.
Novos Moradores
O casal Odila Teixeira De Melo, 66 anos e Angelin Machado de Melo, 70, estão há 50 anos juntos e moram no bairro a pouco mais de quatro meses. Optaram pela casa onde estão para ficarem próximo à parentes, que residem no Santa Helena. Antes, eram do interior de Alpestre, cidade na divisa com Santa Catarina, onde plantavam feijão, milho e soja.
Segundo a agricultora aposentada, a vida na colônia era sofrida e eles faziam tudo manualmente. “Tínhamos bois e carroças, arado. Também plantamos fumo durante quatro anos. Era sofrido, mas era divertido, pois a gente tinha força, trabalhamos o dia todo e de noite íamos fazer filó. Criamos seis filhos, cinco estão em Bento Gonçalves e uma em Alpestre, vieram para cá jovens para estudar e procurar emprego. Trabalhando e estudando até se formarem. Construiram famílias, cada um tem um ou dois filhos. Os vizinhos vêm conversar com a gente, são pessoas legais”, frisa.
Para Odila, o bairro Santo Antão é tranquilo e destaca que, de vez em quando, passa a polícia fazendo ronda. “A segurança é boa e o povo é querido, trabalha muito”, finaliza.