Chuva da última semana dá um novo ânimo aos produtores

Um relatório técnico unificado divulgado pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e Emater-RS, sobre a estiagem e seus efeitos, estima que a chuva deve retornar ao Estado nos próximos dias, afugentando a estiagem e impedindo o avanço de perdas na agricultura. Na região, a chuva das últimas semanas já deu um novo ânimo aos produtores e nova ‘vida’ aos parreirais e demais culturas.

Entretanto, quando se fala na questão da uva, não foi só a falta de chuva que afetou a produção de uma maneira geral. Pelo menos dois fatores, de acordo com o chefe do escritório da Emater em Bento Gonçalves, Thompson Didoné, contribuíram para uma redução da safra. “Houve problemas na floração, com excesso de chuva, e tivemos perda de produção pela não fecundação do fruto. E, agora, principalmente o final de novembro e o mês de dezembro, tiveram um período em que houve falta de água: um déficit hídrico, chovendo menos que o esperado”, revela. Segundo ele a Emater hoje, oficialmente, trabalha em torno de 20% de perda recente, para mais, entre os dois fatores: chuva na floração e seca. “Esse dado é regional. Têm produtores de determinadas localidades que terão mais perda, mas esta é uma média de toda a região”, ressalta.

Microclima

Outro fator interessante da nossa região, além do clima, é a variação de temperatura de uma localidade ou outra. “As chuvas de verão podem acontecer em uma localidade e na outra não. Também temos uma questão em Bento que são os locais com microclima, onde a temperatura chega a diferenciar em torno de 4 graus, como exemplo: da sede de Faria Lemos para Alcântara ou Vale Aurora dá uma diferença de três a quatro graus, ou seja, é mais quente, mais abafado”, pontua. Em Bento, relevando estas considerações, o distrito que teve mais problemas foi o de Faria Lemos, na localidade do Vale Aurora. “É um vale, de microclima, mais quente que a maioria do município, onde choveu menos, além de também ter um relevo declivoso. Todos estes fatores, somados, interferem no agravamento deste pequeno período de estiagem. Então, sim, em vários vinhedos nós temos uva murcha, parreira perdendo as folhas e a produção, com certeza, afetada”, frisa. Neste início de colheita, ele indica que três são as variedades mais sensíveis ao clima, como a bordô, a Couderc tinto e a BRS Violeta. “O nosso grande medo era com a Isabel. Mais de 50% de área cultivada no município é desta variedade. Porém, com as chuvas das últimas semanas, já notamos que houve um aumento de baga. Claro que, com isso, não vai dar uma safra normal, mas já amenizou bastante. Porém, para termos uma avaliação mais precisa, temos que esperar mais uns 15 ou 20 dias”, avalia Didoné.

Quem também faz esta avaliação é o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, Henrique Pessoa dos Santos. De acordo com o profissional, quanto à chuva, o mês de janeiro está sendo considerando normal, se comparado ao mês de dezembro, onde choveu somente 37 milímetros. “Até agora, nos primeiros 16 dias do ano, choveu 67 milímetros. Algo positivo e que já amenizou a questão da uva”, revela.

Ainda, ele destaca que além destes fatores – do excesso de chuva na floração e da estiagem -, em algumas localidades há partes consideradas manchas de solo raso, ou seja, que não tem profundidade de solo suficiente. Este também é um fator para ser levado em consideração. “Com isso, se chove, a água não penetra no solo de forma adequada para disponibilizar a quantidade de água necessária para a parreira”, avalia. Segundo ele, com o impacto da redução do número de bagas, a restrição no tamanho destas, somado aos demais fatores, há uma estimativa de redução, na produção geral, de cerca de 25% até o momento.

Alternativas podem auxiliar na produção

Geralmente, a cada quatro ou cinco anos, uma estiagem é registrada. Neste ano, apesar das perdas significativas em poucas localidades, algumas orientações podem ajudar a amenizar a situação e auxiliar para que não ocorra desta mesma forma em outros momentos.

Didoné pontua que, em muitos dias de campo, promovidos pela Emater, se fala em preservar e proteger o solo com as plantas de cobertura. “Podem ser plantas nativas, ou até mesmo àquelas cultivadas no inverno. Este tipo de processo ajuda a manter a umidade do solo, contribuindo de forma positiva para a produção, pois evita a evaporação da água do solo”, pontua.

Outro detalhe, de acordo com Pessoa dos Santos, é que, em determinados casos, pode-se encontrar uma alternativa com a irrigação do parreiral. “Os produtores devem fazer uma avaliação e se a área é expressiva e compromete no final da produção, deve-se pensar em irrigação”, esclarece.