Cantinas que já estão recebendo a colheita, revelam boa qualidade das frutas

Devagar e ainda de forma inicial, os cachos de uva estão saindo dos parreirais e chegando até às cantinas. Algumas delas já receberam as primeiras frutas, que dão sabor e cor aos vinhos, espumantes e sucos de uva produzidos na Capital Nacional do Vinho. Apesar de a estimativa da produção, em números, não ser considerada de uma ‘safra normal’- devido aos fatores climáticos-, a projeção é de uma safra de qualidade, enologicamente falando, pois as uvas têm menos doenças fúngicas e com maior teor de açúcar.

Quem considera isso são os vinhateiros, que revelam as suas impressões desta primeira leva de frutas. De acordo com Ademir Brandelli, da Don Laurindo, a primeira entrada, de uvas mais precoces, estão com qualidade excepcional. “Com equilíbrio, acidez, açúcar, maturação e sanidade, que é muito importante. Então, essa condição climática que tivemos até agora, fez com que a qualidade da uva produzida até o momento esteja sendo de qualidade”, revela.

Segundo Brandelli, a comparação desta safra, até mesmo pelas condições climáticas, pode ser igual ou superior aos anos de 2005 e 2012. “Principalmente a de 2005 que, em termos de qualidade, foi uma das melhores que nós tivemos até então. O potencial, que até o momento podemos avaliar, tem tudo para ser excepcional em todos os sentidos. Na formação da baga, ela não tem engrossado muito até em função da pouca chuva, mas, em compensação vamos ter maior qualidade, pois tem mais concentração de tanino, de açúcar, acidez correta que é o que nós precisamos para elaborar vinhos de excelente qualidade. Então, todo enólogo e cantineiro está torcendo para que continue deste jeito, pois, desta forma, teremos vinhos de excepcional qualidade”, pontua Brandelli.

Qualidade

Quem também concorda com essa opinião é Roberto Cainelli Jr., da Vinícola Cainelli. Apesar de a safra ainda não ter iniciado lá, ele já consegue ter uma base de como será a colheita e avalia que, apesar dos fatores que foram prejudiciais com perda de produção em algumas localidades, a situação não é alarmante. “Vemos isso como um sinal de muita qualidade, além do que, tendo menos produção, favorece a maturação das uvas. Agora, as chuvas pontuais estão ajudando muito os vinhedos. Percebemos que essa condição de seca tem trazido muita qualidade à uva, a parte responsável pela coloração e aromas e também a maturação tecnológica que é a quantidade de açúcar e que depois lá na frente vai se reverter em álcool. Isso está se apresentando de forma muito positiva”, avalia.

Ele também concorda com a questão de sanidade dos frutos. “Quando temos menos condição de umidade ativa, a gente tem menos contaminação. Assim, vemos que estamos tendo uma bela definição de uma uva madura tecnologicamente falando, uma maturação fenólica muito boa e também muito sadia. Então, se o clima continuar desta forma, teremos uma safra histórica”, indica

Mauricio Copat, Responsável Técnico de Viticultura da Salton, diz que as baixas temperaturas após o período do inverno, em 2019, prolongaram o período de dormência da planta, atrasando a brotação. “Consequentemente, todo o ciclo foi afetado, incluindo o início da safra, já que a maturação dos frutos também ficou atrasada”, indica.

Porém, este atraso é visto como positivo pelo profissional. “Como as uvas se desenvolvem em ciclos próprios, é natural que algumas variedades amadureçam antes que outras e, diante disso, conseguimos administrar melhor o recebimento dos frutos, que se tornou mais espaçado, ao longo de toda a safra. Esse espaçamento favorece ainda o desenvolvimento dos frutos, que estão sendo colhidos em seu melhor ponto de maturação, garantindo o recebimento de uvas de alta qualidade, até o momento”, revela Copat. Ainda de acordo com ele, a estiagem, ou a baixa quantidade de chuvas nesse verão, vem favorecendo a maturação plena das uvas que estão alcançando o equilíbrio perfeito entre a acidez e o açúcar. “Esse equilíbrio é essencial na matéria-prima para elaboração dos espumantes, que são potencializados, se destacam justamente por apresentar essas características”, frisa.

Daniel Salvador, Presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE), diz que as primeiras impressões da Safra 2019 são resultado do feed back de vinhateiros. “Nada ainda é oficial, pois estamos apenas no começo da colheita. Entretanto, podemos dizer que durante a floração a quantidade de chuva influenciou diretamente numa pequena quebra no volume de uvas. Entretanto, o clima como um todo favoreceu e muito a qualidade das uvas”, esclarece.

Isso é visto como positivo pelo gestor da entidade. “A informação inicial de vinícolas que só elaboram espumantes é de que nunca se colheu uma Pinot Noir, por exemplo, tão sã e madura, o que certamente resultará em excelentes espumantes. Os produtores estão comemorando a qualidade”, pontua.

Ele corrobora que a tendência é de uma safra menor, mas de alta qualidade e que poderá ficar na história. “A graduação de açúcar está muito acima das médias de outros anos. De fato, até o momento estamos caminhando para mais uma safra histórica. Mas nada é oficial, pois é muito cedo. As tintas para vinhos tranquilos estão agora trocando de cor. Entretanto, é muito premeditado assegurar um desempenho que somente saberemos de fato ao final da safra”, ressalta.