O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que o retorno do horário de verão é uma “possibilidade real”, embora a decisão final ainda não tenha sido tomada. Em coletiva de imprensa realizada na quarta-feira, 2 de outubro, Silveira explicou que a confirmação do retorno deve ocorrer somente se o cenário de estiagem no Brasil não apresentar melhorias, com uma possível implementação prevista para novembro.
“O horário de verão é uma possibilidade real, mas a decisão não está tomada. Me reuni com as empresas aéreas, e se o quadro atual não melhorar nos próximos dias, essa possibilidade pode se tornar uma realidade muito premente”, afirma o ministro.
Silveira destacou a gravidade da situação hídrica no país, que, segundo ele, exige atenção imediata. Em sua fala, o ministro também mencionou a utilização do saldo da conta bandeira para reduzir as tarifas de energia elétrica, enfatizando a necessidade de equilibrar a segurança energética e a modicidade tarifária. “A segurança energética é mais importante que a modicidade tarifária. Nós vivemos a maior crise hídrica dos últimos 74 anos”, acrescenta.
Dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) reforçam a preocupação, ao apontar que o volume hídrico atual é o menor registrado desde que começaram as previsões, em 1950.
As discussões sobre a possível volta do horário de verão começaram no início de setembro, em resposta à estiagem que afeta o Brasil. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) já recomendou que a reintrodução do horário de verão seja considerada “prudente e viável”, especialmente em relação ao planejamento para os anos de 2025 e 2026.
Silveira enfatizou a importância de tomar uma decisão responsável sobre o assunto, destacando que, mesmo com a sinalização positiva do ONS, a reimplementação do horário de verão deve ser discutida com cautela.
O tema do horário de verão não é novo no Brasil. A prática foi suspensa em 2019, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, que justificou a decisão com base em estudos sobre economia de energia e os impactos no relógio biológico da população. Desde então, a eficácia e a necessidade do horário de verão continuam a ser assuntos controversos no debate público.
Grupo de cientistas contesta retorno
Um grupo de cientistas ligados à cronobiologia — ciência que estuda os ritmos e os fenômenos biológicos — assinou um manifesto alegando que a mudança de horário pode trazer prejuízos graves à saúde, que superam, inclusive, os benefícios econômicos.
O manifesto explica que os ritmos biológicos humanos são relacionados ao ciclo natural de luz e escuridão. Esse ciclo regula automaticamente funções essenciais, como sono, apetite e até mesmo o humor. O horário de verão, segundo os estudiosos, confunde essa sincronização e força o organismo a se reajustar a um novo “horário social”.
Entre os argumentos usados pelos cientistas no manifesto está um estudo de 2017 da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que abordou a forma como lidamos com a transição de horário.
A pesquisa foi baseada em questionários online e analisou as respostas de mais de 1.200 participantes sobre horários habituais de dormir e acordar, perguntando também sobre a chegada do horário de verão. A conclusão foi que mais da metade dos entrevistados relataram ter algum desconforto durante a vigência do horário.
Os pesquisadores destacam que a posição expressa no manifesto é baseada unicamente em evidências científicas, independentemente de inclinações políticas, defendendo que para preservar a saúde e o bem-estar, o ideal é manter a alteração nos horários fora dos planos.