Diante de novas restrições do governo estadual, como forma de controlar o contágio da Covid-19, estabelecimentos lamentam baixa no faturamento e preveem consequências drásticas
A pandemia de coronavírus derrubou a economia global em 2020, e o Brasil não ficou imune ao abalo provocado pelas restrições impostas à atividade econômica, pela queda na renda das famílias e pelos adiamentos de investimentos e projetos. Mais de um ano depois, a doença volta a ascender o sinal de alerta no país.
O estado do Rio Grande do Sul está em bandeira preta e permanece pela segunda semana consecutiva, ou seja, em risco máximo de contaminação. O cenário de colapso na saúde, fez com que o governo estadual aplicasse medidas de prevenção mais severas.
Assim como em outros municípios, estabelecimentos comerciais, gastronômicos e hoteleiros em Bento Gonçalves lamentam tais ações – como a suspensão da cogestão e diminuição dos horários de funcionamentos –, pois a previsão é que a economia tenha consequências drásticas. Os prejuízos, contudo, ainda são imensuráveis.
O presidente do Sindilojas, Daniel Amadio, aposta em uma redução no faturamento em 80%. “Não temos como afirmar nenhum percentual, até porque estamos no início da primeira semana de bandeira preta. Deveremos ter uma redução drástica. Como o comércio é muito diversificado, cada negócio tem suas particularidades. A perda certamente será maior entre os não essenciais”, observa.
Na área de gastronomia, as restrições dos horários de funcionamento passaram de 22h para 20h, o que resultou em indiganação de empresários. “Em consulta rápida com nossos associados a queda passa dos 90%. Em alguns casos, é de 100%, pois não têm como trabalhar com tele-entrega ou está fechado desde março de 2020. Para o setor da hotelaria, a queda está similar. Clamamos por ajuda, está no limite”, sublinha a diretora executiva do Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria (Segh) – Região Uva e Vinho, Marcia Ferronato.
Os estabelecimentos já trazem consigo as marcas da debilitação na saúde financeira desde o ano passado. O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Marcos Carbone, afirma que a questão é factual e irreversível. “Comércio de portas fechadas não vende. Embora tenha tido algum grau de flexibilização, as restrições terão efeitos muito severos sobre o faturamento. Acompanhamos a forma injusta como os serviços vêm sendo penalizado, pagando a conta da pandemia. Os efeitos desse período serão sentidos não apenas nas próximas semanas, mas por muito tempo, pois não sabemos quando e nem se conseguirão se recuperar, em alguns casos”, reitera.
O sentimento é consensual: desespero. Os representantes preveem que, se não houver menos rigidez, a situação econômica não permitirá um ganho folgado. “Compromissos batem à porta das empresas a todo momento. Aluguel, folha de pagamento, fornecedores, serviços, enfim, custos fixos que não dependem da venda. Eles permanecem em qualquer situação e têm que ser pagos, cumpridos. Tudo vai depender da situação particular de cada negócio, mas certamente o impacto é grande. Veremos muitas empresas fechar e o desemprego aumentar”, pontua Amadio.
Ele indica ainda que os clientes busquem negociação com fornecedores e proprietários dos imóveis. “Buscamos com a Fecomércio-RS, junto ao Governo Federal, a reedição da Medida Provisória 936, que trata da suspensão do contrato de trabalho e da redução de carga horária e salário. Sabemos que já está tramitando e aguardamos a aprovação para que possa ser colocada em prática, minimizando as perdas do varejo”, pondera.
Diante disso, acrescenta-se o aumento de insumos e combustível no país. “A pergunta do momento é como pagar funcionários? Sem falar na água, luz e aluguel. Não há empreendimento com capital de giro para suportar a queda brusca de faturamento que os acomete há um ano”, opina Márcia.
A diretora do Segh ressalta que “abre e fecha não funciona”. “Entendemos que as medidas adotadas pelo Governo do Estado reforçam o isolamento social e as restrições. Conquanto desacompanhadas de iguais medidas em relação a atividades similares e que não foram abrangidas pelas regras, tornam-se ineficazes e criam indesejado desequilíbrio na ordem econômica. Além de transformar nosso setor em vilão perante à sociedade”, alega.
Fotos: Franciele Zanon