Lula criticou guerra comercial, defendeu papel da OMC e reiterou críticas às guerras em Gaza e na Ucrânia. Na segunda, Brasil anunciou R$ 27 bilhões em investimentos vindos da China
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira (13), após reunião em Pequim com o presidente Xi Jinping, que a relação entre Brasil e China “nunca foi tão necessária”.
A declaração ocorre um dia após o governo brasileiro anunciar que a China fará novos investimentos no país, que somam cerca de R$ 27 bilhões. Os aportes envolvem áreas como energia limpa, carros elétricos, mineração e delivery.
“Há anos, a ordem internacional já demanda reformas profundas. Nos últimos meses, o mundo se tornou mais imprevisível, mais instável e mais fragmentados. China e Brasil estão determinados a unir suas vozes contra o unilateralismo e o protecionismo”, disse Lula.
E completou: “Guerras comerciais não têm vencedores. Elas elevam os preços, deprimem as economias e corroem a renda dos mais vulneráveis em todos os países. O presidente Xi Jinping e eu defendemos um comércio justo e baseado nas regras da Organização Mundial do Comércio.”
As falas de Lula contra a guerra comercial acontecem um dia após Estados Unidos e China anunciarem trégua de 90 dias na escalada de tarifas e sobretaxas adotada pelo governo Donald Trump – e retaliada por Xi Jinping.
O Brasil também tenta negociar a redução ou a extinção de tarifas adicionais aplicadas pelo governo Trump ao país, sobretudo nas exportações de aço e alumínio.
“Não é exagero dizer que, apesar dos mais de 15 mil quilômetros que nos separam, nunca estivemos tão próximos”, disse Lula sobre a relação com a China.
Este foi o terceiro encontro presencial entre Lula e Xi Jinping desde o início do mandato do brasileiro, em 2023 – e o segundo em território chinês.
Em discurso antes de Lula, Xi Jinping também destacou a importância da relação entre os dois países, considerada estratégica por ele.
O líder chinês criticou as guerras comerciais e declarou que China e Brasil concordam que ninguém sai ganhando neste tipo de disputa.
“China e Brasil vão defender juntos o livre comércio e o sistema multilateral”, declarou.
Xi também mencionou o apoio de China e Brasil para mediar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. A proposta dos dois países, contudo, até o momento não foi executada. A Rússia deseja retomar as negociações na Turquia.
Acordos comerciais
Nesta terça, em Pequim, representantes do Brasil e da China assinaram também 20 protocolos e memorandos em áreas como agricultura, estratégia aeroespacial, ciência e tecnologia.
Na segunda, o governo anunciou R$ 27 bilhões em investimentos da China em diversas áreas no Brasil.
Segundo a Agência Brasileira de Promoção de Exportações (ApexBrasil), o valor inclui:
R$ 6 bilhões da GAC, uma das maiores montadoras chinesas, para “expansão de suas operações” no Brasil;
R$ 5 bilhões da Meituan, plataforma chinesa de delivery – que quer atuar no Brasil com o app “Keeta” e prevê gerar até 4 mil empregos diretos e 100 mil indiretos;
R$ 3 bilhões da estatal chinesa de energia nuclear CGN para construir um “hub” de energia renovável (eólica e solar) no Piauí;
até R$ 5 bilhões da Envision para construir um parque industrial “net-zero” (neutro em emissões de carbono) – o primeiro da América Latina, segundo a Apex;
R$ 3,2 bilhões da rede de bebidas e sorvetes Mixue, que deve começar a operar no Brasil e espera gerar 25 mil empregos até 2030;
R$ 2,4 bilhões do grupo minerador Baiyin Nonferrous, que anunciou a compra da mina de cobre Serrote, em Alagoas.
Há na conta, ainda, investimentos previstos da DiDi (dona do 99), da Longsys (empresa chinesa de semicondutores) e de empresas do setor farmacêutico. E acordos para a promoção de produtos brasileiros na China em áreas como café, cinema e varejo.
Fonte: G1