Em entrevista, ele reflete sobre os desafios, conquistas e lições de sua gestão na presidência da Câmara de Bento Gonçalves, marcada por pacificação política, projetos inovadores e fortalecimento da democracia local

Rafael Pasqualotto, presidente da Câmara de Vereadores de Bento Gonçalves desde 2019, compartilha os principais desafios e realizações de sua gestão, marcada por momentos conturbados, projetos significativos e a busca constante pelo diálogo e pela pacificação entre os poderes Executivo e Legislativo.

Os desafios iniciais e o contexto da pandemia

Ao assumir o cargo em janeiro de 2019, Pasqualotto encontrou uma Câmara em meio a conflitos internos e tensões entre os dois poderes. “O município estava passando por um problema muito conturbado entre o Executivo e o Legislativo. Minha principal meta foi pacificar, não submeter, mas criar condições para um andamento saudável dos projetos”, afirma. O ambiente era marcado por desentendimentos frequentes que prejudicavam o avanço de iniciativas importantes para a cidade. Esse período também foi marcado pela abertura de uma CPI e pela posterior cassação de um vereador, o que exigiu da presidência uma condução equilibrada para preservar a credibilidade do Legislativo.

Outro desafio relevante foi enfrentar as demandas do Tribunal de Contas do Estado e do Ministério Público do Trabalho, que apontaram problemas na estrutura física da Câmara. “Recebi uma intimação para fazer adequações no prédio. A pandemia, em 2020, agravou a situação, mas também nos impulsionou a inovar: realizamos a primeira sessão online da história do município”, relembra. Segundo ele, essa experiência foi um marco para modernizar os processos legislativos e garantir a continuidade dos trabalhos durante um período tão desafiador.

Realizações significativas

Pasqualotto esteve a frente da presidência da Câmara durante 6 anos, e tem expectativas para um futuro político estadual ou até federal foto: divulgação

Entre as conquistas da gestão, Pasqualotto destaca projetos de impacto coletivo, como a destinação de recursos para a compra de vacinas durante a pandemia. “A saúde pública foi nossa prioridade. Conseguimos destinar verbas significativas para reforçar o combate ao vírus e acelerar a imunização da população”, comenta. Ele também destaca o apoio pós-enchente de 2023, quando a Câmara atuou rapidamente para aprovar medidas de assistência aos atingidos.

Outras realizações incluem a construção da nova sede da Força Tática, que trouxe mais segurança para o município, e a aprovação de legislações relevantes, como o projeto de Liberdade Econômica Municipal e a isenção do Habite-se. “A Liberdade Econômica facilita a vida dos empreendedores, reduzindo a burocracia e incentivando novos negócios. Já a isenção do Habite-se foi uma conquista importante para moradores que enfrentavam dificuldades financeiras para regularizar seus imóveis”, explica.

Na esfera individual, o presidente enfatiza o trabalho com demandas populares, como melhorias no transporte público e a ampliação de parcerias com escolas privadas para oferecer mais oportunidades educacionais. “Foram anos de muita dedicação para atender às necessidades da população e dos servidores. Por exemplo, conseguimos implementar um plano de valorização para os servidores públicos, reconhecendo o papel essencial que desempenham na gestão pública”, pontua.

Projetos inacabados e desafios legislativos

Apesar das conquistas, Pasqualotto lamenta não ter concluído algumas iniciativas importantes, como a construção de uma nova sede para a Câmara e a reforma administrativa. “A falta de um prédio digno para o Legislativo reflete um histórico de negligência. Iniciamos a obra em 2023, mas o corte de sete milhões no orçamento paralisou a construção, que hoje está 50% concluído”, explica. Ele reforça que a conclusão desse projeto é essencial para oferecer melhores condições de trabalho aos vereadores e servidores, além de proporcionar um espaço mais acessível à comunidade.

Outro ponto crítico é a necessidade de atualizações em leis municipais, como o Plano Diretor, a legislação ambiental e as normas de transporte público. “Essas leis travam o desenvolvimento do município. Por exemplo, o Plano Diretor atual não atende às demandas de crescimento urbano de Bento Gonçalves, dificultando novos investimentos e melhorias na infraestrutura”, ressalta. Ele também destaca a importância de uma atuação mais proativa do Executivo nesse sentido, uma vez que muitas propostas legislativas dependem de iniciativa do prefeito.

A relação com o Executivo e o legado deixado

Pasqualotto define sua relação com o Executivo como “madura, responsável e respeitosa”. Segundo ele, a Câmara atuou de forma independente, sem submissão ao prefeito, mas também sem oposicionismo cego. “A Câmara não é um cartório que carimba tudo nem uma igreja que diz amém. Nosso papel foi debater e aperfeiçoar os projetos enviados pelo Executivo”, declara. Ele cita como exemplo a aprovação de medidas importantes, como o financiamento de obras públicas, que passaram por ajustes para garantir maior transparência e eficácia.

Como legado, Pasqualotto destaca o fortalecimento da representatividade e o diálogo com a população. “Sempre estive aberto às entidades, associações e munícipes, promovendo conversas democráticas. Um exemplo foi a criação de audiências públicas mais frequentes, permitindo que a população participasse ativamente das discussões”, afirma. Além disso, ele enfatiza as melhorias administrativas implementadas na Câmara, como a digitalização de processos e a redução de custos operacionais, que geraram maior eficiência e economia.

Conselhos para o futuro

Questionado sobre orientações ao próximo presidente, Pasqualotto é direto: “Juízo, equilíbrio e paciência. É essencial não exceder as prerrogativas, ponderar as decisões e manter o foco no bem coletivo”. Ele aconselha que o futuro presidente mantenha uma postura transparente e dialogada, tanto com os vereadores quanto com a população. “Entendo que política não é profissão e vereança não é emprego. E que, periodicamente, a população deve renovar as suas lideranças, pois a democracia é oxigenada na troca do poder. É importante ouvir todos os lados e buscar consenso. Liderar a Câmara é um desafio constante, mas com ética e compromisso, é possível alcançar resultados positivos para a cidade”, conclui.
Pasqualotto reforça que o futuro da Câmara depende de lideranças comprometidas, que saibam lidar com crises políticas e financeiras, e que priorizem sempre o interesse público. “O Legislativo é a casa do povo. Nossa missão é trabalhar por ele e com ele, buscando sempre o desenvolvimento de Bento Gonçalves e o bem-estar de todos os seus cidadãos”, finaliza.