Presidente do Poder Legislativo de Bento Gonçalves fala sobre a atuação como parlamentar, os dissabores da vereança, além das projeções para o futuro na carreira política

Bento-gonçalvense de coração, Rafael Pasqualotto, natural de Cruz Alta, aprendeu a amar a Capital Nacional do Vinho. Foi aqui que permeou, desde muito cedo, as vivências na área política. Na área educacional, estudou no Colégio Marista Aparecida e no Mestre Santa Bárbara. Também possui curso superior completo em Administração de Empresas e Teologia Protestante, com pós-graduação em marketing digital e teologia. Na estrutura familiar, Pasqualotto é casado e pai de dois filhos.

Carreira política

Desde muito cedo, vivenciei a atividade parlamentar ao lado do meu pai, Clóris Pasqualotto. Foi quando desenvolvi o gosto pelo social, pelas causas comunitárias e por tudo aquilo que leva à arena pública. Meu falecido pai se elegeu pela primeira vez em 1988 e foi vereador por vinte anos. Destes, cinco o assessorei na Câmara Municipal. Foi aí que ouvi Paulo Winch e Jauri Peixoto, entre outros, e aprendi a gostar de discursos, oratória e retórica. Na década de 80, a política não era o que é hoje, que é mais comedida. Tenho memórias de estar em cima de uma F1000, de palanque, com bandeira, nos comícios. Essa era aquela política exagerada, esbanjada, e eu cresci nesse cenário. Em dezembro de 2006 meu pai faleceu, bem na metade do mandato. O projeto dele era concorrer a prefeito na eleição seguinte, pois já estava há cinco gestões como parlamentar. Nas eleições de 2008, até pensei em me lançar como vereador, mas achei precoce e que iriam interpretar que estava usando de uma tragédia para me eleger. Em 2012 concorri pela primeira vez e, apesar de ter feito mais votos do que outros três candidatos, pela legenda da sigla acabei não entrando. Na eleição seguinte, fiz 1.832 votos e foi isso que me motivou, pois se perdesse de novo iria abandonar a política. Depois, fui reeleito com mais votos, 1.856. É importante, porque uma reeleição é sempre mais difícil, a tendência é perder votos, pois a partir da segunda eleição tu não tem mais promessas, tem que mostrar o que fez. Mesmo passando por um processo na justiça, fui reeleito, pois as pessoas confiaram em mim.

Ensinamentos do pai

Sigo três até hoje. Em primeiro lugar o posicionamento. Meu pai, em vinte anos, nunca se absteve em um projeto. Sempre falou que era covardia, pois tu está ali para definir, não para ser Pilatos. Em segundo, sempre ser de rua e nunca de gabinete. Tem que estar presente, falar e ouvir. Hoje em dia a minha função exige que eu fique presente na Câmara, ela é uma empresa de 120 pessoas e preciso estar ali, pois tem as questões burocráticas. E em terceiro, honrar e cumprir. Se meu pai se elegeu uma vez e se reelegeu quatro, é porque ele honrou o que prometeu, se não, não se reelegeria.

Compromisso com o eleitorado

Nunca tive uma só bandeira. Tenho uma grande ligação com o meio religioso, sim, pois sou da Igreja Batista há vinte anos. Entretanto, não gosto de associar as coisas. As pessoas às vezes falam que vou para a igreja só para ganhar voto. Porém, estou no meu quinto ano de mandato e há duas décadas na Igreja. É um princípio de vida, e não para pegar votos. Procuro, nos projetos que vêm em minhas mãos, definir com base em alguns princípios. As pessoas não acreditam nas minhas promessas, acreditam nos meus princípios. É isso que me norteia. Não tenho uma convicção político partidária, por isso consigo transitar em qualquer meio. Algumas questões são inegociáveis.


A Presidência do Legislativo

Para ser presidente de uma Casa Legislativa, tem segredo sim. São três: o equilíbrio, a harmonia e o respeito. O presidente é como se fosse o maestro de grandes líderes municipais. Ele não é o principal, mas é aquele que conduz todo processo legislativo e tem a função de ser o guardião do parlamento municipal, ou seja, dos direitos daquele que a sociedade elegeu. Tenho que garantir esse direito, dar estrutura para ele, o caminho, entendendo que, às vezes, a minha bandeira como vereador não pode influenciar na função de presidente, que é ser o maestro de toda essa orquestra para o bom andamento dela com a comunidade.

Dissabores no exercício da vereança

O principal foi a injustiça. Nada dói mais do que a injustiça. De todos os dissabores que tive na política, essa difamação injusta foi a que mais incomodou, justamente porque não consegui explicar para todo o mundo, e tive que esperar a decisão judicial para que brotasse a verdade. A verdade por si só triunfa, o difícil é aguardar o tempo de ela aparecer. Em abril de 2018 iniciou uma investigação sobre o Plano Diretor com seis vereadores, entre eles eu. Dentre esses, resolveram denunciar dois, incluindo eu. O Plano Diretor é um dos mais importantes para o município, pois regra toda questão de urbanística em Bento. Após isso, sofri uma intensa e longa investigação. Por um ano, minha vida foi varrida. Minhas contas bancárias, dados fiscais, celulares e notebooks foram analisados pelo Núcleo de Inteligência do Ministério Público e pelo Laboratório de Tecnologia contra a Lavagem de Dinheiro, órgãos conceituadíssimos (respeitáveis). Nesta segunda-feira, 22 de novembro, após três anos de investigação e audiências, recebi da justiça, guardiã da verdade, a sentença confirmando minha total inocência dessa acusação. Acolhi a absolvição com muita naturalidade, pois já era o esperado. Independentemente do resultado, continuaria e continuarei o que sempre fiz, lutando por uma cidade melhor, mais justa e igualitária, onde ricos não dominem sobre pobres, onde um bairro não tenha mais privilégios do que outro, onde o trabalhador tenha a oportunidade de prosperar.

Relações comunitárias

Se tem um, dos três poderes, que tem essa afinidade comunitária, é justamente a Câmara. A prefeitura é um prefeito eleito que tem que atender a todos. O parlamentar também deve atender aos mais diversos segmentos da sociedade, pois o parlamento é constituído por diferentes setores. Ali temos a representação da sociedade: o empresário, o agricultor, o esportista, o religioso, a causa pet, do idoso, entre outros. Então, o Poder Legislativo está totalmente integrado à sociedade e causas comunitárias por meio dos seus vereadores.

Relações com o executivo

Ela é ótima. Sou um vereador do Progressitas e temos uma cadeira na prefeitura, através do vice-prefeito, Amarildo Lucatelli. Por conta disso o relacionamento fica até mais fácil. Já trabalhei com o Diogo Segabinazzi Siqueira no meu primeiro mandato, quando ele era Secretário de Saúde. É um governo de continuidade e que facilita, porque não precisa iniciar um assunto do zero, já tinham assuntos que estavam na cabeça dele. Como ser humano ele tem o seu perfil. Diogo é um político de muito diálogo e compreensão. Isso facilita o relacionamento com a Câmara.

Visão de Bento

O que eu tenho falado, e que é pelo menos a minha visão: qual o maior desafio de Bento na atualidade? A economia. A pandemia abalou, por mais que alguns digam que não. Somos sobreviventes do pós-pandemia. Os hospitais estão melhor equipados. Continuamos num sistema público ainda precário, mas melhor estruturado, indubitavelmente. O que precisamos agora é focar em duas coisas: cursos técnicos e graduações focadas para entregar mão-de-obra qualificada ao mercado e leis que garantam que setores não fechem mesmo em pandemia. Do lado do colaborador, o medo de perder o emprego é enorme. Portanto, a urgência não é mais saúde, mas economia. Atualmente o município tem quase 20 mil empresas ativas, sendo que 10% disso foram abertas em 2021.

Conforme a Revista Exame, estamos entre as 100 melhores cidades do Brasil para investir, empreender e negociar, e a 47ª cidade mais empreendedora do país. Mas isso tudo graças à cultura de trabalho de nossa gente, pois muitas vezes a legislação, inclusive municipal, é antagônica a isso. Tenho me manifestado que precisamos urgentemente acreditar na presunção de boa fé do particular. Ou seja, tirar a pecha de criminoso do empreendedor. Hoje o Poder Público desconfia de quem vai construir, ampliar parque fabril, abrir um negócio, e, por causa disso, exige laudos técnicos e ambientais que acusa o empresário de bandido, e isso tem que mudar. Além disso, conforme dados do Idese, entre os municípios acima de 100 mil habitantes, estamos em 1º na área da saúde e 3º em questão de educação. Teve outro prêmio, o Band Cidades Excelentes, que Bento ficou na segunda colocação. É um fato. Estamos em constante evolução.


Futuro político

É inadmissível que Bento Gonçalves, com esses índices, com essa estrutura econômica e social, não tenha uma representação estadual e federal eleita. Temos um suplente que assumiu, sim, mas nenhum eleito. O município tem 90 mil eleitores e podemos muito bem eleger dois estaduais e um federal. A iniciativa privada faz a sua parte, ela empreende, nosso empresário é heroico, abnegado, no dia a dia ele dá o seu jeito. Mas tem os fatores externos que não dependem do empresário: um é o clima e o outro é o governamental. Precisamos de uma ponte na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal. A nível partidário e estadual, temos o candidato Guilherme Pasin. A nível federal, me coloco à disposição para termos essa representação. Haja vista que, em primeiro lugar, já fui testado, não só em urna, mas também passei por um crivo no administrativo, pois a Câmara não é só uma questão política, mas também é uma empresa. Então, tendo em vista aprovação na urna, certa experiência administrativa, conhecimento que tenho das demandas do município, do empresariado, do empregador ao empregado, entendo que tenho toda condição de bem representar Bento Gonçalves. Pretendo ir a federal, é a minha vontade.

Representatividade política

Vamos ter deputado estadual e federal. Até foi cogitado de o Pasin ser vice-governador do Heinze, mas não, o foco dele é a Assembleia Legislativa, então estou pleiteando uma tentativa na federal. Se eu não conseguir nessa, vou na próxima. Entendo que a minha contribuição para o legislativo municipal já foi dada com os dois biênios na Câmara, totalizando oito anos de aprendizado.

Saúde

Os investimentos na área da saúde serão cada vez maiores e ininterruptos, porque a expectativa de vida aumenta. Com mais investimentos, as pessoas estão vivendo mais. Em primeiro lugar isso. Em segundo, uma vez não tinha doenças psicossomáticas, hoje tem. Os investimentos nessa área serão cada vez maiores, mas insaciáveis, porque hoje a dependência ao sistema público de saúde é enorme, e a pandemia bem ou mal demonstrou que o SUS salvou o Brasil. Hoje, o maior gargalo que temos na saúde em Bento Gonçalves é a cirurgia eletiva.

UPA e Hospital Tacchini

Uma das demandas urgentes é a conclusão do Hospital Público. O Hospital Tacchini é referência no Brasil em atendimento à população, pois atende público e privado. Defendo o Tacchini, pois, no meu entendimento, o que muda lá é a hotelaria. No privado o paciente vai para um quarto melhor, mas o produto, o medicamento, é o mesmo disponibilizado para o setor público. Olha nossa oncologia, é 100%, é ótima, é incrível, com equipamentos de ponta. Queremos tornar a UPA semelhante, parecida, mas com uma autonomia maior, não deixando de investir no Hospital Tacchini.

Turismo

Para tentar atrair mais pessoas da comunidade e mais turistas para o centro, o primeiro e principal ponto é conversar com a classe da área. Sem debater com o sindicato patronal e os empregadores do comércio, não se consegue chegar a um acordo. Outro ponto é a questão de mentalidade e até mesmo uma quebra de paradigmas, que é a realização de atividades no centro da cidade. Às vezes, quando a rua da Via Del Vino é fechada, o setor reclama. A prefeitura tem feito muitos eventos naquela localidade, mas, normalmente, tem recebido muita reclamação quando fecha a rua, por exemplo. Aí fica difícil, tem que mudar a mentalidade. Estes são dois fatores fundamentais.

Conselho aos jovens

Se não tem coragem de entrar, nem entra. Política, na nossa época, é local de posicionamento. Tem que ter convicção daquilo que fala, tem que acreditar naquilo que diz e não ter medo do contraponto. Fala, defende, argumenta, sem blablabla, sem jargão. A iniciativa privada é fundamental, mas sem a política as coisas ficam mais difíceis, quando não impossíveis. A política continua sendo o grande meio de transformação social. Ter disponibilidade, coragem e esperança. Encarar a política como um sacerdócio, uma vida totalmente exposta, e administrar o bem comum.

Futuro da juventude

Muito inteligente tecnicamente, muito antenada, mas, sem generalizar, emocionalmente fraca. Terá muita capacidade intelectual, mas inteligência emocional fraca, que não aguenta uma separação, uma porta na cara, uma demissão. Já está assim, é o século da covardia.