Em tempos de pandemia, não é fácil ser normal. Por outro lado, nunca fomos tão normais quanto agora, já que seguimos normas que nos limitam e nos controlam. “Santo paradoxo”, diria Batman.
Na verdade, o que eu quero hoje é apresentar um texto normal – ou anormal, considerando-se o atual contexto. Enfim, uma reflexão inócua, sem dramas nem tramas, frugal e de fácil digestão.
Então. A tendência natural é a humanidade perder os penduricalhos dispensáveis – só os dispensáveis. O dedinho do pé, por exemplo, que vive trombando com a quina dos móveis. Ele não é mais necessário, porque o homem evoluiu, sendo capaz de caminhar totalmente ereto (desde que não use etanol para muito mais que lavar as mãos). Já o apêndice, além de não prestar nenhum serviço, é temperamental feito um rottweiler: de repente, inflama, infecciona e, se não for sacado em tempo, um exército de bactérias escapa do seu interior e começa uma guerra contra a vida. Um perfeito Cavalo de Troia. Graças a Deus, ele tem os séculos contados. Os dentes do siso também estão na lista das estruturas em extinção. Aliás, a mudança já começou: uma amiga me contou que teve um só molar dessa linhagem, e sua filha, nenhum. Os pelos são remanescentes da época em que eles eram imprescindíveis ao aquecimento do corpo e à proteção dos “países baixos” dos ataques de insetos. Com a invenção da roupa, grande parte da penugem foi descartada pela natureza. Sobraram os pelos púbicos que, para não ficarem públicos, vêm sendo banidos com lâminas ou químicas.
As transformações, que são lentas e progressivas, têm a finalidade de ajustar a fisiologia ao ambiente. Sabe-se que as glândulas sudoríparas nasceram da necessidade de o corpo regular sua temperatura interna, em contraste ao calor externo muito forte. Se assim não fosse, o “motor” acabaria fundindo. Também as variações étnicas surgiram em decorrência das adaptações em diferentes climas. Teria sido assim: ao atingir o estágio de “homo sapiens”, a humanidade se dispersou por todo o Globo. Cada grupo foi ganhando características que lhes permitiram a sobrevivência. Nas regiões frias, onde há pouca luz solar, as pessoas ficaram com a pele clara e cabelo liso. Por sua vez, nas regiões quentes, o excesso de luz fez com que o grau de melanina na pele fosse maior, e o cabelo, enroladinho, servindo de proteção contra os raios solares. Olhos puxados foram adaptações a áreas com correntes de ar muito fortes. E assim vai… Só que essas diferenças que identificam as etnias não somem apenas porque as pessoas mudam de lugar. É preciso que as leis de seleção natural sejam discutidas, votadas, aprovadas, sancionadas, promulgadas e publicadas pela natureza antes de entrarem em vigor. E essas etapas são muito, muito demoradas… Será que foi daí que se inspirou o Congresso Brasileiro?