Dizem que a vida é feita de primeiras vezes. E, às vezes, essas primeiras vezes têm um friozinho na barriga que não te larga — igual ao que eu senti naquela viagem para o Rio de Janeiro. Eu fui sozinha. Sozinha, com a mochila nas costas e a coragem balançando no peito como bandeirinha de festa junina. Cheguei ao aeroporto com o coração sambando mais que o batuque da Lapa. Pra começar, voo cancelado devido ao tempo. E o medo de avião que sempre acompanha, de um lado pensando: – Desiste, menina! De outro, falando: – Vai com medo mesmo! Dez horas de chá de banco, ida a Porto Alegre, eu tranquilizando os de casa via Whats App. Chegada na cidade maravilhosa a uma hora da manhã ( nada maravilhoso por uma primeira vez e sozinha). Peguei o táxi, respirei fundo e pensei: “É só mais uma cidade.” Mas era o Rio. O Rio de Janeiro, que me esperava com braços abertos, me convidando a ser turista e aventureira da própria vida. Precavida que sou, tirei joias e enfiei o celular em um bolso bem guardado, sem aparentar ser turista (risos). O taxista, um senhorzinho muito cordial, me entregou com segurança em um hotel bem localizado no Flamengo com uma linda vista, se não fosse de noite. Ledo engano eu achar que passaria despercebida, eu, sem falar uma palavra e ele: – Catarinense? Eu, prontamente: – Não, gaúcha! Ele riu. Vocês não nos enganam! Acho que foi pela cor da pele, quiçá pela respiração antes de soltar um sotaque inconfundível como o nosso.
Pra quem já faz isso — viajar sozinha, se jogar no mundo — talvez pareça algo bobo. Mas pra mim, que costumo medir cada passo, foi um ato de bravura digno de filme de ação. Eu, a protagonista, encarando o medo como quem encara o mar gelado: de passo em passo, até perceber que a água já não assusta tanto assim.
E por falar em coragem, dirigir na capital do meu estado foi outra prova de fogo. Cada rotatória era uma coreografia de improviso, cada buzina, um desafio para manter o compasso. Mas fui. Lembrei que a vida, às vezes, é só isso: pisar no acelerador, mesmo que o destino seja incerto e as mãos estejam suando. Tive um chefe, em um emprego nas minhas férias de escola, que falou algo do qual nunca vou esquecer: “É melhor você ficar vermelho uma vez que amarelar pra sempre!”. Guardei isso com carinho pra mim e sigo divulgando o ditado por onde passo, tentando cumpri-lo.
Essa viagem me ensinou que não importa o quão bobo seja o seu medo e o que ele possa parecer para quem já faz isso de olhos fechados, pra você, cada estreia no palco do mundo merece aplauso. O frio na barriga não é sinal de fraqueza, é o corpo dizendo: “Você está viva! Você está aqui, fazendo algo novo. Vai lá e faz!”
E quando eu pensei que ia me sentir pequena no meio de tanta gente, me dei conta de que, na verdade, eu estava gigante. Porque enfrentar um medo — seja ele um voo para o Rio ou um carro num trânsito caótico numa megalópole desconhecida— é sempre um ato de amor próprio. É se permitir recomeçar, recalcular a rota e descobrir que o mundo lá fora, no fundo, cabe todinho dentro de nós. Então, eu te pergunto: quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?
Talvez seja hora de descobrir que a gente nunca deixa de ser principiante. E isso, meu amigo, é a parte mais bonita dessa viagem chamada vida.