Fazemos parte do grupo seleto de pessoas que ainda não fez Botox. Além disso, não temos preenchimento labial ou bronzeamento artificial. Nunca estimulei colágeno. Também não uso cílios postiços ou unha de gel. Claro que a estética evoluiu muito e, com isso, os seus avanços são inegáveis. O problema é quando essas intervenções são responsáveis pela perda de identidade da pessoa. Quando a saúde e a estética estimulam a sua autenticidade, a sua essência, não há problema algum.

Hoje ganhamos um terço a mais na expectativa de vida. Antigamente, com 60 anos, as avós eram velhinhas, muitas estavam no fim da vida; hoje, aos 90, conseguimos chegar ainda com muita qualidade. O problema é que as rugas parecem não ter mais espaço na vida das pessoas, porque todos querem envelhecer, mas nem todos querem mostrar seus traços, já que isso indica fragilidade ou feiura, talvez. Parecemos o mesmo padrão, nos incomoda ficar velhos. As nossas diferenças – que nos tornava atraentes – hoje quase se extinguiram. Isso está enraizado na nossa cultura, porque desde muito pequenos já vestimos nossas crianças como miniadultos, ouvindo músicas que não cabem a essa faixa etária, que não são mais infantis. Há um problema com os extremos. Ninguém quer mais ser criança tampouco ficar velho. Todos queremos ficar sempre jovens, bonitos, em forma, na moda e com a pele, rosto e corpo perfeitos, mesmo que para isso precisemos sacrificar outras coisas, inclusive nossa essência.

O padrão magro e, muitas vezes, doente, voltou às passarelas, não tem lugar pra curvas, celulite, marcas. As sobrancelhas são todas iguais. Atualmente existe uma valorização exacerbada da juventude por meio das indústrias da beleza e da mídia. Enfrentamentos limitações sociais diariamente em relação à aparência e velhice, o que não é o mesmo que beleza saudável, autocuidado e liberdade.

Há um medo em envelhecer e uma necessidade pela demanda da beleza jovial. É difícil olharmos para algum famoso e sabermos a idade que tem. Aliado a isso, os sacrifícios podem ser ainda maiores na luta contra a perda de peso. Alguém aí já ouviu falar em Ozempic? Como se essa fosse a pílula da magreza a todos que quisessem retirar as gordurinhas a mais.

Gretchen, Maiara da dupla com Maraísa, Fábio Júnior, Belo e Gracyanne Barbosa, Anitta, alguém conheceu antes da fama? Isso mostra o desfavor da estética. Inclusive, há muitas pessoas fazendo o movimento contrário: a retirada do silicone, o movimento de deixar o cabelo natural e assumir o grisalho. Enfim, cada um com seu padrão da beleza. Para mim, desde que a sua essência seja ainda a mesma e as pessoas continuem se reconhecendo sem filtros e não dizendo: – Você nem parece a mesma!

Não sejamos tolos: a juventude não será eterna, o que temos de bom vai além do físico, as marcas que deixamos nas pessoas são como impactamos a vida delas e não como nos parecemos. Envelhecer deve ser motivo de comemorar!