Ah, a boa e velha autoridade! Era uma vez um tempo em que ela estava presente na escola, em casa, e, se fizesse esforço, até nas novelas de domingo. Mas, de repente, ela se escondeu em algum lugar entre o “vamos conversar” e o “não podemos frustrar nossos filhos”, e o mundo, como quem não quer nada, foi dando espaço para uma geração de crianças que têm o poder de virar o reino de cabeça para baixo com uma birra épica no meio do shopping.

Hoje, se a criança fizer birra na escola, a primeira reação dos adultos é correr até o super-herói dos tempos modernos: a psicóloga. E lá, ela explica que a criança “está passando por uma fase de autoafirmação” ou, como diria Ivana Jauregui, psicóloga e uma verdadeira detetive da alma infantil, “é importante que ela tenha um espaço para expressar suas emoções, pois isso é um sinal de desenvolvimento emocional saudável”. Ok, ok, Ivana, a gente entende, mas… alguém vai precisar segurar a onda, né?

A escola, coitada, que deveria ser um local de aprendizado, respeito e estrutura, agora se vê no meio de uma batalha silenciosa onde quem manda não é o diretor, mas sim, a quantidade de pacotes de mimos e recompensas que os alunos têm direito. Você já ouviu falar de “trote de autoridade”? Pois bem, ele não existe mais! Hoje, se um aluno decide fazer uma cena por não ter ganhado o prêmio por “melhor sorriso”, não é a figura de autoridade que resolve. Não. Agora, é o “calma, querido, o importante é que você tentou”.

E vamos falar dos pais, esse novo super-herói da modernidade, que tenta ser amigo de seus filhos a qualquer custo. Perder a autoridade dentro de casa virou uma arte. Em vez de ser um porto seguro e modelo de limites, muitos pais agora tentam entender suas crianças tão profundamente que, quando a birra aparece, eles se perguntam: “Será que ele está sendo desafiador ou está apenas expressando suas emoções?” A questão é que, meu amigo, quando a criança está de joelhos no meio da loja, berrando por um brinquedo, a última coisa que ela está expressando é emoção. Está expressando um pedido de resgate de um “poder” que, no fundo, ela não tem a maturidade de lidar.

Na visão da Ivana Jauregui, o excesso de superproteção e a falta de limites claros acabam por gerar uma criança que, ao primeiro sinal de frustração, desmorona. A psicóloga afirma: “Quando a criança não pode se frustrar, ela perde a capacidade de aprender a lidar com o mundo real, onde as coisas nem sempre acontecem do jeito que queremos”. E o pior? Em vez de aprender a lidar com a frustração, ela se acostuma a esperar que a vida seja uma contínua entrega de desejos, como se a vida fosse uma versão ao vivo de um menu de aplicativos.

Mas, e quando estamos no meio dessa tempestade, o que fazemos? A solução parece ser simples: devolver a autoridade à escola, aos pais e ao próprio aluno. Não precisamos ser os vilões da história, mas sim os guardiões da estrutura. Precisamos entender que permitir que a criança se frustre de vez em quando não é um crime, mas uma chance de ela aprender que a vida não é uma montanha-russa de desejos atendidos. A proteção excessiva, longe de ser um carinho, pode ser um verdadeiro acidente emocional em potencial.

No fim, talvez a gente precise mais do que nunca de uma mudança de perspectiva. Que tal uma escola onde a autoridade seja respeitada, e onde as crianças saibam que a birra não é uma ferramenta de negociação? Que tal pais que, ao invés de achar que seus filhos são mini-deuses em fase de crescimento, ensinem que a vida pode ser um pouco difícil, sim, mas é superimportante saber lidar com isso? Quando os limites e a autoridade forem reconquistados, quem sabe possamos ver mais crianças “rainhas” que sabem que, para o reino ser justo, todo mundo precisa jogar pelo mesmo time — com empatia, respeito e, claro, alguma frustração saudável pelo caminho.

O que aconteceu em Caxias do Sul com uma professora na semana passada e o que mostra na série Adolescência é a ausência de limites, regras e um universo de relações familiares e sociais distorcido que trocou a presença pelas telas de entretenimento. Talvez o que falte seja o equilíbrio e que o adulto assuma a responsabilidade que tem perante a criança. Será mesmo que a criança é o problema?