Objetivo é criar um trajeto exclusivo para ciclistas, com uma faixa também para os peregrinos que fazem a caminhada até o Santuário, em Farroupilha

O número de ciclista está crescendo em todo país, no último ano. Em Bento Gonçalves, o cenário não foi diferente. Contudo, a falta de infraestrutura adequada obriga os praticantes a pedalar em meio ao trânsito, tornando a prática arriscada e perigosa. No município, em 2014, foi inaugurada a única ciclofaixa da cidade, no bairro Planalto, liberada apenas aos domingos e feriados. Sem espaço apropriado, grande parte dos esportistas utiliza o Roteiro Caminhos de Pedra, local sem acostamento, com intenso fluxo de carros e pedestres, principalmente aos finais de semana.

Observando esse contexto, o Doutorando Engenheiro Civil e Vice-presidente do Conselho da Associação Caminhos de Pedra, Rafael De Toni, decidiu dar o ponta pé inicial para mudar essa realidade. “Quando comecei a fazer parte do Roteiro, com meus empreendimentos, visualizei a quantidade de ciclistas que passam aqui. No decorrer do tempo, aumentou ainda mais. Então, procurei a Associação e conversei com a presidente sobre desenvolver um projeto de ciclovia, porque é bom para o ciclista, para o turismo e para o pequeno agricultor, que às vezes tem que passar com cargas de alimentos”, relata.

Rafael De Toni

Depois, De Toni entrou em contato com o secretário de Esportes e Desenvolvimento Social, Eduardo Viríssimo, para juntos darem andamento ao projeto. A partir de então, o plano cresceu. “Conversando, tivemos a ideia de chamar também o prefeito de Farroupilha, Fabiano Feltrin, para fazer não só a ciclovia, mas a Caminhada da Fé, para os peregrinos que saem de Bento e vão até Caravaggio”, afirma.

Desde então, ficou definido um projeto de ciclofaixa, que vai iniciar no Barracão, em Bento Gonçalves e se estender até o Santuário de Caravaggio, no município de Farroupilha. A decisão da ciclofaixa é beneficiar os ciclistas, que terão um espaço próprio para a pratica do pedal e outro apenas para as caminhadas dos peregrinos que fazem esse mesmo percurso. Ao todo, o projeto deve compreender cerca de 18 quilômetros.

De acordo com o secretário Viríssimo, já havia um desejo para que algo fosse feito pelo ciclismo. “Já existia um olhar para que a gente tivesse uma atitude no futuro e pudesse iniciar um trabalho. A Associação, por meio do Rafael, veio nos contatando e foi fazendo com que a gente começasse a entender de que forma isso seria feito”, explica.

Embora considere complexo, Viríssimo garante que todos os envolvidos estão alinhados no objetivo. “Nas reuniões que já tivemos, entendemos que é uma necessidade que precisa ser desenvolvida. Isso é consenso entre todos, da Associação, do Poder Público de Bento Gonçalves e de Farroupilha também. O prefeito Fabiano Feltrin, inclusive, tem me cobrado para que a gente dê seguimento nisto”, assegura.

Além disso, de acordo com o chefe da pasta, já foi realizada reunião e apresentação do projeto para o Ministério do Turismo, em Brasília. “Começando a fazer com que tenha uma visibilidade. Esse movimento é muito importante para criar força”, alerta.

Etapas

Embora já esteja definido que a ciclofaixa vai ser do Barracão à Caravaggio, Viríssimo explica que a fase em que o projeto se encontra é a de produzir um possível roteiro, já que a ideia é que a rota não seja apenas ladeado pela rodovia, mas por áreas privadas também.

Tendo isso definido, também será possível ter ideia de quanto o investimento vai custar. “Primeiro vamos montar um roteiro de onde será o caminho, tanto de bicicleta quanto a pé. Depois, vamos ver quais são os caminhos públicos e orçar para ver se já tem condições de ser executado. Nos terrenos privados fazer contato com os proprietários e entender se eles fazem a servidão de passagem, se a gente precisa fazer permuta de compra, enfim, o que precisa ser feito para dar continuidade. É uma conversação bastante longa, mas que precisa ter início”, esclarece.

Não haverá empecilhos em relação às áreas particulares. Caso algum morador não queira que a ciclofaixa passe pelo terreno, então, naquele trecho será utilizado a rodovia. “O DAER tem um domínio de área em que a gente pode trabalhar. Se algum morador não quiser que a ciclofaixa passe dentro da área dele, vamos utilizar a faixa de domínio”, frisa.

Turismo também vai ser beneficiado

Embora ainda não consiga mencionar o quanto a ciclofaixa vai impactar no turismo, Viríssimo afirma que ela trará vantagens ao segmento. “Turisticamente, a gente não sabe o quanto vai atingir, porque o Caminhos de Pedra já é procurado, mas terá mais esse atrativo”, aponta.

Ainda assim, ele acredita que economicamente, todos os empreendimentos que fazem parte do Roteiro vão ser beneficiados. “Vai abrir outro nicho de trabalho, porque vai ter o paradouro, o pessoal vai ter que disponibilizar alguma coisa diferente, vai ter que ter manutenção de bicicleta, porque quantas mais virão para cá?”, analisa.

Salvar vidas

De acordo com Veríssimo, recentemente ocorreu uma situação preocupante, no Caminhos de Pedra. “Esses dias, teve uma briga entre um ciclista e uma pessoa que estava de carro, querendo ultrapassar, mas não conseguia e o ciclista acabou caindo. Eles brigaram, discutiram. O ciclista me ligou perguntando porque não colocamos câmeras para cuidar, mas não é assim que funciona. O caminho vai ser mais demorado com esse projeto, mas entendemos que se não partirmos para isso, não vamos ter a solução, porque colocar uma câmera é enxugar gelo, o problema vai acontecer, só que a gente vai estar vendo, mas não resolve”, relata.

Ainda de acordo com o secretário, a segurança é um ponto fundamental. “Se a gente conseguir salvar uma vida com esse projeto, já valeu a pena.  É isso. Não é uma busca apenas pelo projeto turístico, esportivo, econômico, mas tem um fundo digno, de verdade, de cuidarmos das pessoas”, finaliza.

O Cromador de Metais, Pedro Augusto Machado, 59 anos, pratica o ciclismo há cerca de três anos. Iniciou por incentivo de um colega de trabalho. De lá para cá, nunca mais parou. Atualmente, costuma pedalar nas terça e quintas-feiras, além dos finais de semana.

Pedro Augusto Machado

O Roteiro Caminhos de Pedra é um dos locais que utiliza com frequência para os pedais. “Faço parte do grupo Bento Alto Giro, que leva os iniciantes para pedalar e a nossa rota é essa. É um local que todo mundo passa. Considero um trajeto perigoso, complicado para o ciclista, por não ter acostamento. Precisa da ciclofaixa, tanto para quem pedala, quanto para quem caminha”, destaca.

Visando a segurança dos ciclistas iniciantes, ele conta que nos pedais, sempre tem a presença de guias. “Até para ter o cuidado com o asfalto, porque tem motoristas que cuidam, mas tem outros que não. É preciso ter cuidado. É uma vida em cima de uma bicicleta, assim como em um carro ou moto”, afirma.

Outro ciclista que utiliza quase todos os finais de semana o Roteiro é o Analista de Sistemas, Bruno Ghiggi, 29 anos. Para ele, além das belezas naturais, é o melhor trajeto para chegar em outros locais. “É uma rota muito bonita e boa de pedalar, apesar do perigo. Além disso, é o melhor trajeto para ir a outros destinos frequentados pelos ciclistas, como Caravaggio, Nova Roma e Pinto Bandeira”, afirma.

Sobre o trajeto, o esportista também avalia como perigoso. “Na maior parte não existe acostamento ou existe, mas está sendo usado como estacionamento”, comenta.

Em relação a ciclofaixa, Ghiggi salienta a importância de um espaço adequado. “Bento não tem uma ciclofaixa com condições de atender a enorme quantia de ciclistas da cidade. Temos somente na Planalto, aos domingos. Até cidades menores, como Garibaldi e Carlos Barbosa oferecem estrutura melhor. Uma ciclofaixa nos Caminhos de Pedra aumentaria a segurança e melhoraria o fluxo de veículos que disputam lugar na estrada com os ciclistas”, finaliza.