Obra de Maiquel Rohrig trata do conjunto de diálogos sobre temas relacionados à prática do professor dentro da sala de aula
O professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRS), campus Bento Gonçalves, Maiquel Rohrig, lançou recentemente sua mais nova obra, intitulada “Oprimir não é didático – Diálogos sobre a docência”. Publicado pela editora Parábola, o livro traz uma abordagem inovadora ao apresentar uma série de diálogos sobre temas cruciais relacionados à prática docente, como avaliação, metodologias de ensino e inclusão de estudantes com deficiências. O evento de lançamento ocorreu na Pousada Villa dei Fiori, em Bento Gonçalves, e contou com a presença de educadores, estudantes e interessados na temática da educação. A obra já está disponível nas principais livrarias e também pode ser adquirida online na plataforma Amazon.
Em entrevista ao Semanário, Rohrig conta que o interesse em publicar o livro surgiu a partir da vivência como professor e seu contato direto com estudantes de Letras em disciplinas de preparação para o estágio. Percebendo a carência de textos que abordassem a realidade prática dos professores, ele decidiu criar uma série de diálogos para oferecer insights e orientações sobre questões cotidianas da vida docente. “Leciono disciplinas de preparação para o estágio e acompanho o estágio de estudantes de Letras. Percebi que faltavam textos sobre a realidade prática dos professores, que abordassem temas do cotidiano escolar: como lidar com os estudantes e os pais, como criar avaliações, como trabalhar com alunos com deficiência intelectual, entre outros. Por isso, resolvi escrever uma série de diálogos em que um professor responde perguntas de um interlocutor. Os alunos gostaram e me disseram para publicar um livro. Resolvi ouvi-los. Deu certo”, explica.
Ao longo de três anos de trabalho, Rohrig selecionou cuidadosamente os temas mais relevantes para compor os diálogos, resultando em um material rico e abrangente que reflete sua vasta experiência de 18 anos como educador. Além de abordar acertos e erros ao longo de sua trajetória, o autor destaca a importância de aprender com os equívocos para aprimorar a prática profissional. “Errar é normal, e fiz questão de falar dos meus erros no livro, porque o professor não pode ser visto como alguém infalível. Mas o mais importante é o seguinte: o que fazer com os erros? Penso que devemos usá-los para aperfeiçoar nossa prática e nos tornarmos profissionais melhores”, garante.
O docente conta que sentiu muito prazer ao escrever o livro, porque durante o processo de construção da obra, simulou perguntas que achava que seus alunos gostariam de fazer, mas não as faziam porque, talvez, tivessem vergonha. “Não escrevi pensando em publicar, mas em ajudá-los a entender o cotidiano das escolas. A escrita fluida e bem humorada dos diálogos foi difícil porque não é fácil sair do padrão acadêmico, mas foi muito prazeroso escrever”, observa.
Em seu livro, o professor do IFRS também se posiciona sobre desafios atuais da educação, como as constantes mudanças na legislação e a desvalorização dos profissionais da área. Ele ressalta a necessidade de engajamento de todos os envolvidos no processo educacional, destacando o papel fundamental dos professores, dos pais, dos alunos e da sociedade como um todo na busca pela qualidade da educação. “A sala de aula é um lugar complexo, e não ajuda em nada a constante desvalorização dos profissionais da educação. A superação desses obstáculos depende de vários fatores, a começar pela responsabilização de todos os envolvidos na educação: não são só os professores que devem lutar pela melhoria, mas também os pais, os alunos, toda a sociedade devem se considerar parte da solução e trabalhar pela qualidade da educação”, ressalta.
Sobre o futuro do magistério no país, Rohrig expressa preocupação com o chamado “apagão de professores” previsto para os próximos anos, mas mantém a esperança em uma valorização efetiva da profissão, capaz de atrair novos talentos para a docência e garantir um ensino de qualidade para as futuras gerações. “Tento dizer que não devemos pensar abstratamente, em termos de país. Me concentro nos meus alunos e tento melhorar a educação deles. Não tenho controle sobre o que acontece no resto do país. Acho que é isso que todos devem fazer: olhar para os estudantes que estão diante de nós e lutar para que a educação deles aconteça. A educação no país vai melhorar em consequência do que cada um fizer dentro da sua sala de aula”, garante.
Segundo o professor, as direções já encontram dificuldades enormes para a contratação de profissionais.” É difícil saber o que isso acarretará. Minha torcida é que, diante do fato de não haver professores suficientes, as leis do mercado se imponham, isto é, em havendo falta de profissionais, os que existirem serão valorizados, o que implicará, em consequência, no aumento do número de pessoas interessadas na docência. Muitos de meus alunos do Ensino Médio me dizem que gostariam de ser professores, mas escolhem outras profissões em função do salário. Se houver uma verdadeira valorização dos docentes, o interesse pela profissão aumentará. Não podemos perder a esperança”, finaliza.
Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução