Prefeitura realizou limpeza no dia 15, mas moradores pedem por limpezas periódicas e outras reivindicações

A pouca distância da rota turística da Maria Fumaça, uma realidade bem diferente se impõe aos olhos de quem mora no bairro Humaitá. O viaduto que sobrepõe a linha férrea na Rua Avaí enfrenta o abandono e se transformou em refúgio para usuários de drogas, catadores e moradores em situação de rua.

Giovani Tacca, morador da rua Avaí, é um dos que têm acompanhado de perto a deterioração do local. “É um descaso total. O mato está tomando conta, o lixo se acumula, e o que antes era um atalho seguro entre a rua Avaí e a travessa Adolpho Brum agora virou uma área de risco”, desabafa.

Giovani Tacca, morador do Humaitá

Segundo Tacca, a situação vem se agravando há meses. Debaixo do viaduto, um dos lados abriga um morador que construiu um barraco improvisado e ali vive permanentemente. Do outro, o local é frequentemente utilizado por viciados para consumo de entorpecentes e, em alguns casos, para esconderijo após furtos. “Jogam móveis, entulho, madeira, tudo que acham nos recicláveis da região. Queimam para se aquecer à noite ou reaproveitam. É um caos”, relata.

Uma pequena estrada de terra ao lado da ponte, que antigamente servia como passagem alternativa entre a rua Avaí e a travessa Adolpho Brum, hoje está tomada por arbustos e árvores altas. A iluminação que existia foi toda quebrada, o que transformou a trilha em um ponto crítico de insegurança. “Ali virou esconderijo. As pessoas têm medo de passar por lá. A gente não quer que cortem as árvores, apenas que façam a poda. Mas até isso foi negado pela prefeitura”, lamenta o morador.

Lixo e falta de poda das árvores são problemas apontados pelos moradores

O síndico do Edifício Mirage, Eleandro Zechin, também da rua Avaí, diz que sofre com a situação há 14 anos. “Muito bom que eles começaram a fazer algo, porém na nossa visão, já começaram errado. Se não retirarem o barraco do morador não adianta, tem que podar mais as árvores também”, destacou em relação a recente limpeza do local no dia 15 de maio e as contínuas reivindicações. “A limpeza tem que ser contínua, não demorar tanto assim”, acrescenta Tacca.

Já outra moradora do Humaitá, Dalvete Corrêa, destaca que uma solução plausível seria aterrar os trilhos. “Podiam colocar terra até a altura da ponte para resolver”, salienta.

Promessas que não saem do papel

Em novembro de 2024, um grupo de moradores iniciou tratativas com o secretário do Meio Ambiente, Volnei Tesser, e chegou a apresentar as demandas diretamente ao prefeito Diogo Siqueira. Foram solicitadas ações básicas: retirada do morador do local, fechamento dos acessos com concreto, poda da vegetação, reinstalação da iluminação pública e limpeza da linha férrea.

Após visitas e promessas, uma equipe da prefeitura chegou a realizar uma limpeza superficial no local, ainda em 2024, apenas na parte visível a partir da ponte. “No dia seguinte, a sujeira já estava de volta. Não adianta limpar se o problema continua. O barraco segue lá, usuários de drogas continuam frequentando, e os moradores seguem com medo”, afirma Tacca.

As fotos foram tiradas na quarta-feira, 21

Na Câmara de Bento Gonçalves, o vereador Sidnei Postal (PL) abordou a questão. “Desde primeiro de novembro houve reunião, mas a questão do morador não foi resolvida. Naquele local foi encontrado um corpo em decomposição e não é local também de ter uma pessoa morando. Não podemos mais nos omitir. Tem que ter mais iluminação e a poda das árvores em todo o entorno”, frisou.

A revolta dos moradores se intensifica diante do contraste com outras áreas da cidade. “Onde passa a Maria Fumaça é tudo muito lindo. A grama está cortada, tem flores, tem luz. Mas onde os turistas não passam, reina o abandono”, critica o morador.

O sentimento de invisibilidade e de insegurança é comum entre os residentes do entorno, que agora pressionam por ações concretas, e não apenas paliativas. “Queremos de volta o direito de circular pelo nosso bairro com tranquilidade. Isso não é pedir demais. É uma questão de dignidade e de segurança pública”, finaliza Tacca.

As fotos foram tiradas na quarta-feira, 21

O secretário municipal do Meio Ambiente informou que é realizada a limpeza do local. “Foi feita a retirada do morador pela Guarda Civil Municipal (GCM) e do lixo do entorno pelas equipes. Ao mesmo tempo foi novamente feita a notificação da empresa responsável pelo trecho para a limpeza e manutenção do entorno”, destaca Tesser. No entanto, o morador voltou ao local. Conforme apurado pela reportagem, ele estava no viaduto na manhã desta sexta-feira, 23.

A Rumo Logística, empresa responsável pela ferrovia, informa que segue um cronograma de serviços de roçada. “São feitos, mas devido às chuvas frequentes nesta época, a vegetação cresce mais rápido. A concessionária ressalta que a operação ferroviária não gera lixo doméstico e, em casos de descarte irregular nas áreas da ferrovia, o morador pode fazer a denúncia no telefone 0800 701 22 55”.

Requisições dos moradores:

1 – Retirada do morador que vive nesse local;
2 – Fechamento dos platos com pedras e concreto em ambos os lados para que nenhum outro morador de rua, viciado ou ladrão, utilize esse local;
3 – Poda de todas as árvores e arbustos;
4 – Limpeza e iluminação do corte entre a rua Avaí e Adolpho Brum para que os moradores da redondeza possam voltar a utilizá-lo.
5 – Limpeza da linha férrea.