Há pouco mais de dois meses do início da 22ª edição da maior feira de móveis da América Latina, a Movelsul, o presidente da feira e do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis), entidade organizadora do evento, Vinícius Benini, fala sobre as novidades, as expectativas e a retomada do crescimento do setor. Dos expositores confirmados até o final de 2019, 33% são novos. Trezentos lojistas de mercado interno, de pequeno, médio e grande porte, com poder de decisão de compra, estarão circulando pela feira, além de 100 importadores de países-alvo, definidos entre os expositores.
JS: Os últimos anos foram, de certa forma, difíceis para a economia como um todo. Quais são as perspectivas da organização para a Movelsul 2020?
Vinícius Benini: Nossas perspectivas são as melhores. Se formos fazer um balanço de 2019, tivemos um leve crescimento interno, digamos, cerca de 1%, porém, um crescimento muito significativo nas exportações, que bateram a marca de 10%. Acreditamos que a próxima Movelsul será um divisor de águas. Fechamos o ano com aproximadamente 94% dos espaços comercializados, um número bem importante perante a última edição. Sabemos que muitos ficam para a última hora, porque, às vezes, o pessoal espera o reinício. Sabe como é, final do ano, férias coletivas, correria. Algumas empresas vão deixar para pensar nisso na volta do recesso.
JS: A Movelsul sempre foi uma feira de muitos projetos. Salão Design, Rodadas de Negócios, Projeto Comprador, entre outros. Quais são as novidades para a próxima edição?
Vinícius Benini: Uma das principais é que mudamos o modelo das Rodadas de Negócios. Nesta edição, os importadores vão estar livres para circular pela feira e escolher o estande com quem querem negociar. O modelo antigo, em que realizávamos uma reunião a cada 20 minutos, durante três dias, era muito cansativo. Chegava na quinta reunião, ninguém mais se entendia. Agora, com este novo formato, cada fim de tarde teremos um happy hour no Lounge Internacional, do qual poderão participar todos os importadores e expositores, visando facilitar o contato entre os interessados, tanto em vender, quanto em comprar.
JS: O espaço Tecnovarejo é outra novidade da feira. Gostaria que nos falasse um pouco mais sobre ela, do que se trata exatamente?
Vinícius Benini: Temos percebido que a presença do e-commerce no mercado é uma grande realidade, para a qual as empresas estão olhando de forma diferente. Pensando nisso, montamos este espaço como se fosse uma loja do futuro, com a união do on-line com o off-line, ou seja, a tradição de uma loja física, com suas funções e serviços, com a tecnologia do mundo virtual, dando ao consumidor uma única experiência de compra. Queremos não apenas mostrar esta situação, mas sim fazer com que nossos expositores e visitantes percebam que estamos preparados, e sempre buscando novas alternativas.
JS: Mas nós, especialmente nossa região, temos impregnada a cultura do tocar, do sentir. Talvez em outros mercados isto seja diferente. Na sua visão, existe a possibilidade da loja física acabar?
Vinícius Benini: Jamais. A loja física nunca vai acabar. Como qualquer outro negócio, ela precisou e precisará ainda mais se reinventar, mudar. Só para teres uma ideia, temos um parceiro de e-commerce de grande porte que um dos produtos que mais vende é sofá. Outro, é colchão. Temos na cabeça que precisamos experimentar, sentar, sentir o tecido, mas, não. É muito relativo. De qualquer forma, a loja física jamais vais desaparecer, mas essa junção vai acontecer. As lojas não vão mais precisar ter estoques, e sim, apenas um mostruário dos seus principais produtos. A pessoa vai lá, sente, toca. O vendedor entra no sistema, encomenda, e o comprador recebe na comodidade de sua casa. As lojas não vão mais precisar ter 200m². Acho que essa vai ser a grande evolução. Mas acabar, nunca.
Talvez nossa região ainda tenha essa demanda maior pelo tocar, mas creio que as futuras gerações não vão precisar disso. O on-line trabalha muito com fotos. Daqui a pouco as fábricas vão precisar fornecer para os lojistas uma foto de 360º do produto para que o comprador possa tirar todas as suas dúvidas. Precisamos nos readequar. A loja física e a on-line vão andar juntas, um agregando o serviço da outra e transformando a experiência do cliente em única, mesmo com a existência de dois canais num só lugar.
JS: Em 2008, o Sindmóveis promoveu a Casa Brasil, buscando atingir determinado público numa feira e outro público na Movelsul. Muitas empresas migraram para a Casa Brasil e, com a ida desta feira para São Paulo, na última edição da Movelsul, por exemplo, não estiveram presentes. Hoje existe a preocupação com o retorno destes grandes expositores locais?
Vinícius Benini: Várias empresas, de fato, com nomes significativos para o setor, acabaram tomando outros vieses. Por este motivo, nesta edição, tivemos a ideia de construir um espaço especial para móveis planejados e corporativos, justamente visando esta retomada. Entendemos que em nosso polo temos empresas muito fortes a nível nacional e mundial. É um desperdício não termos elas na feira. Por isso, este projeto é o pontapé inicial. São 13 espaços padrão de 40m². Todas terão espaços iguais. O diferencial será o produto que cada uma irá colocar. O mercado de planejados vive numa constante evolução e não podemos deixar de olhar para isso. Já temos várias empresas confirmadas e estamos buscando outras. Está sendo ótima essa prospecção. E para negociar com elas, estamos trazendo compradores de redes hoteleiras, hospitais, construtoras, entre outros ramos. No novo modelo que apresentamos, as empresas não necessitam mais de grandes estandes, grandes investimentos, mas precisam acreditar na importância de fazer parte.
JS: E para as novas empresas, para as menores, inclusive, existe um projeto, um espaço especial para elas?
Vinícius Benini: Lançamos no início de 2019 um projeto com espaços menores, com valores em conta para novas empresas. Nosso objetivo é que sintam o termômetro Movelsul. Em três ou quatro meses vendemos todos os espaços. Acreditamos que esta é a oportunidade para as empresas dizerem ‘bom, eu vou para a Movelsul para ver qual é o negócio’. Nas próximas edições podem estar num espaço maior e de mais visibilidade. A certeza que tenho é que o projeto está surtindo muito efeito.
JS: Como vocês, organizadores, que costumam participar de inúmeras feiras pelo mundo, enxergam a Movelsul em comparação a outras feiras internacionais?
Vinícius Benini: Estamos sempre de olho nas outras feiras para que não percamos nada para elas. Nos espelhamos, olhamos o que pode ser aproveitado e trazemos para nosso mercado. Estamos sempre em busca de novas ideias, serviços e opções que possamos dar o melhor para o nosso expositor.
As gerações que estão vindo, estão se reinventando. Temos que dançar conforme a música.
JS: E dentro dessa premissa de que vocês, empresários locais do setor visitam inúmeras feiras internacionais, qual a expectativa de países participantes da Movelsul 2020?
Vinícius Benini: A ideia é de que, pelo menos, 25 a 30 países participem da feira. Isto, obviamente, através do levantamento e da pesquisa que realizamos com nossos expositores, questionando os países-alvo para os quais eles têm interesse em exportar, desenvolver esse mercado. É em cima dessa demanda que contatamos os importadores. Um mercado que está tendo uma procura muito forte é Estados Unidos. Reino Unido também está entre os de maior demanda. Acredito que isso seja muito em função do dólar. Nosso polo está buscando consideravelmente o mercado americano e europeu.
JS: Com relação ao consolidado Prêmio Salão Design, quais são as novidades?
Vinícius Benini: Criamos cinco novas categorias, que chamamos de desafios. Acredito que este vai ser, de todos os que já realizamos, o que mais se aproximará com a nossa realidade. A ideia foi fazer com que os designers criassem produtos que falem a linguagem da indústria, porque muitas vezes, não adianta criar algo bonito, mas inviável para produção, tanto em termos de funcionalidade quanto de valor.