Com os recursos que conseguiu para obras em Bento no seu primeiro mandato, mais de R$ 1,2 milhão em emendas parlamentares, vereador Rafael Pasqualotto diz que “já pagou” o seu salário para, pelo menos, mais três legislaturas
Desde muito cedo, quando tinha cerca de sete anos, o vereador Rafael Pasqualotto (Progressistas) eleito em 15 de novembro para o seu segundo mandato e no dia 1º de janeiro passado reconduzido ao cargo de presidente da Casa para o mais um biênio, 2021-2022, acompanha o vai-e-vem das siglas partidárias na Capital Nacional do Vinho. Ele é filho do ex-vereador – falecido em dezembro de 2006 – Clóris Pasqualotto, que se elegeu para o Legislativo, pela primeira vez, em 1988.
O “jogo de cintura” para as coisas da política vem dos ensinamentos do pai, mas também do fato de ter trabalhado com ele na Câmara onde, também foi “diretor das atas”, em uma época na qual as sessões legislativas eram gravadas e, depois, transcritas para o papel. “Aprendi muito sobre discursos ouvindo as gravações. Foi uma época de grandes oradores na Câmara, como Paulo Wunsch e Jair Peixoto… Eram vários nomes que faziam discursos memoráveis”, lembra.
Também atuou como assessor direto do pai, então eleito para mais quatro mandatos consecutivos. Depois disso foi para o mercado de trabalho e chegou a empreender, investindo no ramo gráfico. O ‘debut’ de Rafael nas urnas foi em 2012, quando conquistou 919 votos (mais do que três candidatos que assumiram vagas por força do quociente eleitoral) e ficou na primeira suplência do Partido Democrático Trabalhista (PDT), sigla que escolheu seguindo o legado do pai.
Hoje ele tem certeza que se tivesse optado pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que tinha o ex-deputado Sérgio Zambiasi como a maior “máquina de votos” do Rio Grande do Sul, teria sido eleito já naquele pleito. A segunda eleição foi em 2016, quando dobrou sua votação, chegando a 1.832 votos, assumindo em 1º de janeiro de 2017. Em novembro passado Pasqualotto obteve 24 votos a mais: 1.856. Foi o segundo mais votado, perdendo só para seu colega de partido, Eduardo Virissimo.
Como vereador exerceu nos últimos dois anos da Legislatura passada, 2019 e 2020, a função de presidente da Câmara, cargo que continua ocupando neste início da 19ª Legislatura. Fora o que chama de “triunfos” que diz ter obtido, como a captação de emendas parlamentares para investimento em obras pela prefeitura, Rafael Pasqualotto entende que a sua recondução ao Legislativo se deu também pela forma como comandou a mesa diretora do parlamento municipal: com austeridade e transparência.
Desde muito pequeno acompanhei meu pai que se elegeu, pela primeira vez, em 1988. Sou do tempo em que a política era diferente, tinha comício, aqueles jantares com centenas de pessoas, palanques com bandeiras, adesivos e muitos ‘santinhos’
Rafael Pasqualotto
Vereador e presidente da Câmara Municipal
ParlaBento levou a Câmara aos bairros
O ParlaBento foi instituído na Câmara de Vereadores da Capital Nacional do Vinho a partir de um projeto de Pasqualotto como vereador. “A intenção era realizar encontros nos bairros, aproximando a Câmara e seus vereadores da população. Até então o Regimento Interno (do Legislativo) não permitia a realização de sessões deliberativas fora do plenário, apenas consultivas, Mas, daí, se fôssemos para a periferia, iria ser como reunião de uma associação de bairros. O que eu queria, com o projeto, era ouvir as demandas dos bairros, deliberar sobre as necessidades de cada localidade da nossa cidade”, explicou.
De acordo com o presidente da Câmara, foram realizadas algumas sessões neste formato durante os anos de 2017 e 2018. De 2019, quando assumiu a presidência, em diante, as sessões do ParlaBento foram suspensas porque “logo de início tivemos um embate bem pesado que foi a CPI das Fakenews (que culminou com a cassação do vereador Moacir Camerini em dezembro de 2019). O projeto ficou de lado porque o momento era muito tenso e havia receio quanto à segurança dos vereadores”, explicou.
Por conta do seu envolvimento religioso, como membro da 1ª Igreja Batista de Bento Gonçalves, conseguiu aprovar projeto na Câmara inserindo no calendário oficial de eventos do município a “Marcha Para Jesus”, no primeiro final de semana de setembro de cada ano. Também encabeçou as negociações que culminaram com a aprovação de projeto do Executivo isentando igrejas do pagamento do IPTU desde que ocupem prédios alugados. O município tem cerca de 320 lugares onde são realizados encontros religiosos.
Importante
Rafael Pasqualotto, 39 anos, é membro da Igreja Batista e, além de formação superior em Administração de Empresas com ênfase em Marketing, pós-graduação em Marketing Digital, tem graduação em Teologia Protestante.
É casado, tem um filho de 15 anos e uma filha de três anos.
As três principais preocupações
Flexibilizar a atividade comercial. Esta seria a primeira medida que Rafael Pasqualotto adotaria se possuísse prerrogativas legais que lhe permitissem tomar decisões que atingissem, de alguma forma, Bento Gonçalves, por meio da sua atividade econômica e de olho no bem-estar das pessoas. “Não só agora, por causa da pandemia (da Covid-19), mas em outras situações como a emissão de licenças para que investidores pudessem empreender de forma mais rápida”, explicou.
Outra providência estaria relacionado ao Estudo de Impacto de Vizinhança. “Não pode uma manicure, para se legalizar, ser obrigada a ter um lado desta natureza”, compreende. Para Pasqualotto o mercado é que tem que se auto-regular, especialmente pela chamada “lei da oferta e da procura”. Citou como exemplo o transporte. “Deixa o cidadão escolher, se quer pegar um táxi, andar de bicicleta, ir com um serviço de aplicativo ou em um ônibus”, disse.
O vereador-presidente da Câmara entende que não cabe regrar o que a pessoa tem que fazer quando se trata da sua mobilidade. “Entendo que o poder público não pode interferir na vontade da pessoa impondo questões de mercado. É preciso que o mercado se regule de modo a atrair o passageiro, no caso do transporte, seja por meio de preços, do conforto, itinerários ou horários”, enfatizou.
Um terceiro tema da preocupação de Pasqualotto diz respeito à construção civil. “Temos um potencial enorme, em Bento, mas há muitas regras engessando esta atividade econômica que gera muito dinheiro pelo que movimenta no comércio e pela grande quantidade de pessoas que emprega”, afirma. Ele não discorda da ideia de que é necessário impor limites, mas é defensor da proposta da flexibilização para que os investimentos possam acontecer em maior número e mais rapidamente. “Não vivemos aqui um regime de Cuba ou Venezuela, em que os governos mandam e as pessoas obedecem. O dono do terreno é que tem que decidir o que vai fazer no imóvel. É dele, ele herdou, ganhou ou comprou, então cabe a ele decidir o que fazer”, destaca. “O poder público não pode se intrometer ao ponto de inviabilizar negócios”, completa.
O que Pasqualotto pensa
- Religião X política
“O conflito nesta área é uma questão muito interessante, e até há pastores, mais radicais, que não aceitam que membros de suas igrejas se envolvam com a política-partidária. Eu, pelo contrário, acho que se deve fazer política, sim. A Bíblia, por exemplo, está repleta de passagens que remetem à atividade política. - A política no dia a dia
“Fazer política é simples! Tem que estar ligado e ouvir a comunidade, as pessoas de todos os níveis e de todos os lugares. É delas que vem o clamor, as reivindicações, que se conhece as necessidades. Se eu ficar trancado no meu gabinete, não vou sentir a população, conhecer as demandas, e não vou conseguir fazer as leis que são necessárias para a cidade. - Asfalto ou periferia
“Sou um homem de bairro, todo final de semana estou em um lugar de Bento, junto com as pessoas. Mesmo quando estou pela igreja, estou vereador e ouço o que as pessoas têm a dizer e que são do interesse do Rafael enquanto político. - Influência da tecnologia
“O desenvolvimento tecnológico, com a popularização do computador, as redes sociais e a comunicação mundial na palma da mão, mudaram a essência da política. Nada substitui a presença do homem público junto às pessoas, nem o aperto de mão e a conversa olho no olho. Mas a tecnologia mudou o conceito, porque a nova geração se alimenta muito da informação que está chegando cada vez mais rapidamente às pessoas. O que complica, muito, é a grande quantidade de Fakenews. - Sem agressão nas urnas
“A população bento-gonçalvense é extremamente equilibrada e não se deixa influenciar por discursos e posturas agressivas para escolher seus candidatos. Já percebi isso, de pessoas que nas vilas e bairros são uns leões e que na urna são uns gatinhos. Não conseguem se eleger! As pessoas não querem isso. Nossa população não é extremista, ao contrário, a maioria é muito conservadora. - O recado da eleição
“Os 30% de votos válidos que elegeram o Diogo (Siqueira, do PSDB, para prefeito de Bento) devem ser entendidos como as pessoas dizendo que as coisas não estavam as mil maravilhas, mas preferiram que continuasse o que vinha sendo feito porque era um governo, o do (ex-prefeito, Guilherme) Pasin, que vinha num bom caminho. Mas que é preciso melhorar. - Custeio da eleição
“O fundo partidário, o fundo eleitoral, que fazem as pessoas pensarem que destinam muito dinheiro, não têm minha concordância. É algo totalmente injusto e que não contribui para o bom nível do processo político como um todo.
Fotos: Silvestre Santos e Diego Franzen/Divulgação