Em fase de floração, videiras podem ter dificuldades na formação dos cachos, além de ficarem mais suscetíveis à doenças; além da uva, cultivares como pêssego, ameixa e hortaliças também devem ser impactadas pelo tempo

Se os temporais que atingiram a Serra Gaúcha entre a noite de quarta-feira, 30 de outubro, e a madrugada de quinta-feira, 31, além da tarde do sábado, 2 de novembro, passaram quase despercebidos na zona rural, o excesso de chuvas das últimas semanas, no entanto, deve acarretar problemas para a produção agrícola.

Segundo acompanhamento da Embrapa Uva e Vinho, em outubro houve 65% a mais de chuva do que a média histórica, em Bento Gonçalves. Enquanto a normal climatológica previa 156 mm de chuva para o mês, neste ano a taxa ficou em 258,6 mm. Por outro lado, setembro, que costuma ser chuvoso, foi mais seco que o esperado. Ao todo, o mês registrou 72,8 mm, 60% menos que a média, 185 mm.

Além de ser um ponto fora da curva — quando consideradas as normativas climáticas —, a precipitação pluviométrica desta primavera é ainda mais surpreendente pelo fato de fugir também as previsões. De acordo com o pesquisador da área de fisiologia vegetal da Embrapa, e expectativa é de que esse fosse um período sem grandes variações climáticas. “O prognóstico do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) classificou esse como um ano neutro, pois não tem La Niña, que faz com que a chuva fique abaixo da média, e nem El Niño, que a eleva. Isso, somado as condições de temperatura oceânica, dava a entender que seria um ano normal entre 130 mm e 150 mm. O que está ocorrendo, é fora do comum”, assinala.

Falta de sol afeta diretamente a formação dos grãos de uva (Foto: Fábio Becker)

Segundo Santos, a chuva tardia e ininterrupta que se alastra pela última quinzena de outubro e persiste no começo de novembro deve afetar diretamente a safra, prejudicando a formação dos cachos, que não devem se desenvolver plenamente, bem como possibilitando a proliferação de doenças como o míldio, comum em regiões úmidas.

“Com temporais e granizo ocorrem perdas que no montante da safra, a nível de Estado, não representam quase nada. Mas uma chuva ininterrupta assim, que atinge toda a região, vai ser sentida lá na frente”
Luciano Rebelatto


A preocupação é compartilhada também pelas entidades representativas da região. Segundo o Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves (STR), Cedenir Postal, já é possível estimar uma perda na casa de 20% na produção das videiras. Ele destaca, ainda, o prejuízo de outras cultivares. “Além da uva que perderá grãos pela formação e pelos fungos, as hortaliças costumam apodrecer nesse clima. O pêssego também tem problema de coloração”, sublinha.

Da mesma forma, o Presidente do STR de Garibaldi, Luciano Rebelatto, também calcula uma perda de 20% a 25% da produção. “É cedo para cravar um número, mas vamos ter uma safra menor em função dessa umidade toda. E temos previsão de mais chuva para os próximos dias, o que vai agravar a situação”, lamenta.

Já em Pinto Bandeira, além dos pêssegos que devem ter produção prejudicada pelo excesso de chuva, o mau tempo já causou transtornos aos produtores de ameixa, conforme conta o vice-prefeito, Daniel Pavan. “O pessoal não consegue colher o pêssego precoce, se persistir assim, ele vai apodrecer no campo. Já as ameixeiras tiveram perdas graves, por causa do vento”, sublinha.

Previsões para os próximos meses

Embora outubro não tenha tenha respeitado prospecções, a previsão do tempo para os próximos meses pode trazer algum otimismo aos produtores. De acordo com informações do Inmet, novembro e dezembro devem ter chuva dentro da normalidade, enquanto janeiro pode ser até um pouco mais seco que o normal.

Embora tenha atingido poucas propriedades de Bento e Garibaldi, o granizo foi intenso em municípios como Coronel Pilar, onde a produção pode ter queda de até 70% (Fotos: Reprodução/ STR de Garibaldi