Há quatro gestões como prefeito do município, Dallé também foi ex-presidente da Amesne e vereador, ele relata as dificuldades econômicas que a cidade enfrenta por conta das chuvas, fala sobre a situação de Monte Belo do Sul e ressalta as complexidades para encontrar bons líderes para a política

Há quase 30 anos na vida política, Adenir Dallé já exerceu a função como prefeito quanto como presidente de associações e de consórcios, como o Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável da Serra Gaúcha “CISGA), além de mandatos como vereador. Por conta disso, aborda assuntos importantes sobre o município, que, assim como muitos outros, se preocupa com a questão econômica devido às chuvas e às quedas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS). Ele também ressalta as dificuldades em encontrar boas lideranças para atuar na política e além do declínio do turismo em razão da tragédia climática de maio.

Adenir Dallé reforça que a queda no ICMS pode prejudicar todos os municípios

Monte Belo do Sul

A cidade é jovem, com apenas 32 anos, pois durante décadas foi um distrito de Bento Gonçalves antes de se emancipar. Em seu quarto mandato, Adenir Dallé tem atuado como gestor da cidade, onde também já foi vereador e vice-prefeito. Ele conta quais foram as melhorias realizadas nesses últimos anos. “Tenho orgulho em dizer que, além de termos um horário estendido que vai das 7h30min às 19h, sem fechar ao meio-dia, temos um atendimento excelente. A atenção básica é feita totalmente para o município e muito bem feita. Depois, temos os serviços especializados que compramos na região. Nossos municípios de referência são Bento Gonçalves, Farroupilha e Garibaldi. Posso dizer que hoje há poucas famílias e pacientes que dependem de uma cirurgia de alta complexidade que estão na fila de espera”, declara, complementando: “Temos uma equipe completa na área da saúde que faz isso. Temos profissionais muito bons, com atendimento médico o dia inteiro, exames de laboratório. Saindo do médico, já se vai direto realizar o que foi solicitado, praticamente 100% subsidiado, todos os exames de laboratório do município. Trabalhamos muito forte também na questão da prevenção. Juntamente com os agentes de saúde, possuímos uma equipe que faz, pelo menos, uma visita por mês a cada família, trazendo informações. Portanto, temos o privilégio de saber hoje quem é o diabético, hipertenso, o grupo de gestantes”, alega.

Na educação, o prefeito também relata o que foi agregado ao município, facilitando para os pais e mães que precisam trabalhar. “Hoje não temos nenhuma criança fora da sala de aula, desde o berçário, na creche, até o nono ano, que é o ensino fundamental, responsabilidade do município. Este ano, fizemos uma escola nova, onde teremos o contraturno. Todas as crianças do primeiro ao quarto ano também ficam o dia inteiro na escola, com lanches, almoço, contraturno para reforço e oficinas. Para se ter uma ideia, uma criança entra com nove meses no berçário da creche e sai somente aos nove anos, quando completa o quarto ano do ensino fundamental, ficando o dia inteiro em sala de aula”, ressalta.

Além disso, ele complementa sobre aqueles que precisam sair da cidade para frequentar instituições de ensino em municípios vizinhos. “Contamos com 100% do transporte gratuito para as pessoas que estudam em universidades e vão para Bento Gonçalves ou outras localidades da nossa região. O município subsidia 100% do transporte escolar. Então, entendo que a educação está muito bem, estamos investindo mais de 30% do orçamento”, afirma.

Turismo

A pequena cidade tem demonstrado força, pois as belas paisagens, junto com os comércios locais, atrai mais visitantes. Entretanto, as chuvas que afetaram toda a região também impactaram o município. “Estamos procurando ajuda do governo estadual e federal para poder retomar o turismo na nossa região. Consideramos Monte Belo do Sul parte de uma região turística, juntamente com Bento Gonçalves e Garibaldi. Temos um foco turístico muito forte, e Monte Belo não é diferente. Nos meus últimos quatro, cinco anos de governo, investimos. Passamos de 14 para mais de 54 empreendimentos nessa área, com destaque para a agroindústria artesanal e as vinícolas. Com essas ações, estamos conseguindo trazer de volta os jovens. Muitos que haviam saído agora estão retornando e abrindo negócios na área do turismo”, explica Dallé.

Ele também menciona a retomada dos eventos que estavam previstos e que foram adiados. “Em agosto, nos dias 1, 2 e 3, teremos o Polentaço, que deveria ter sido realizado antes. Fizemos a Vindima em janeiro, que era para ser em junho. No final do ano, teremos o Festival Vieni Vivere la Vita, outro evento importante. Na verdade, precisamos criar eventos em nível regional e não mais cancelá-los, mas sim realizar cada vez mais para atrair turistas. E é isso que estamos fazendo no município”, destaca.

Expansão do Município

Dallé observa que o crescimento está ocorrendo, mas que precisa ser de forma lenta para que a cidade não perca suas particularidades. “Monte Belo está se expandindo com o surgimento de novos loteamentos. Estamos em um processo de revisão do nosso plano diretor, tanto na área urbana quanto na rural, que deve ficar pronto até o final do ano. Isso é necessário para garantir um crescimento ordenado. No entanto, quando há exploração imobiliária excessiva, pode ocorrer um inchaço. Queremos manter a tranquilidade, mas vemos que os novos loteamentos recentes já estão praticamente todos com terrenos e casas construídas”, ressalta.

Ele também menciona o surgimento de novos moradores vindos de cidades distantes em busca de sossego. “Vemos pessoas de São Paulo, Porto Alegre e outras localidades comprando terrenos e construindo casas para passar os fins de semana aqui. É um local tranquilo, mas está se expandindo. Precisamos nos preocupar para que esse crescimento não se torne desordenado”, alerta.

ICMS

O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) sofreu uma queda brusca no mês de junho por conta das enchentes. Em Monte Belo do Sul, essa redução chegou a 30%. “Estamos enfrentando um problema muito sério com as chuvas. A questão econômica está afetando todos os municípios da região, especialmente por causa do nosso ICMS. Os municípios dependem do ICMS e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) do Governo Federal. Para termos uma ideia, em junho tivemos 30% a menos de ICMS, uma queda significativa. Temos uma programação e um planejamento até o final do ano, pois sabemos que precisamos fechar as contas, no mínimo, no zero a zero. Portanto, essa foi uma queda brusca. Nos próximos anos, a situação também não será diferente, pois muitos parreirais foram prejudicados, com deslizamentos causados pelas enchentes”, relata Dallé.

Ele teme que as cidades atingidas fiquem desamparadas neste momento. “Estamos tentando fazer um novo planejamento para poder fechar as contas no final do ano. Mas a economia depende do governo federal, através do FPM, que está se mantendo no mesmo valor do ano passado. Todos estamos preocupados com o ICMS. Toda a associação está preocupada. Temos uma reunião com o governador e estaremos em Brasília, todos os prefeitos do Rio Grande do Sul, nos dias 2 e 3 de julho, justamente para discutir com o governo federal, porque até agora há muitas promessas, mas os recursos não estão chegando. Tivemos aquela enchente em setembro do ano passado e apenas 13 a 14% do prometido pelo governo foram repassado. As prefeituras estão fazendo de tudo”, cobra.

Dallé salienta sobre quanto será a perda estimada pelas quedas do ICMS para este ano. “Vamos perder entre R$1 milhão e R$1,5 milhão e meio até o final do ano. Para municípios como o nosso, é muito dinheiro. Temos que buscar apoio do governo federal e estadual. Porque tudo acontece no município. O pessoal vem, faz fotografias, muitas coisas nessa época, visita, mas quando o sol sai, o pessoal esquece e os municípios têm que se virar”, constata.

Mão de obra e qualificação

Apesar de ser um município menor, Dallé não vê dificuldade em relação ao trabalho para os moradores. “Posso dizer que é difícil encontrar alguém desempregado em Monte Belo do Sul. Mas a qualificação é muito importante. Sempre procuramos oferecer formação para as pessoas junto com o SENAC e o SENAI, principalmente na área da agricultura, com cursos para produtores aprenderem a produzir com menos custo. Sabemos que a uva também é um problema sério, pois, em vez de aumentar, os valores às vezes caem. Então, tentamos fazer com que o produtor consiga reduzir os custos de produção. Na área do turismo, também oferecemos muitos cursos de garçom e cozinheiro, e sentimos a falta dessa mão de obra. Com o surgimento de novos restaurantes, é necessário ter pessoas especializadas para esses serviços”, declara.

Além disso, o crescimento do turismo no município abriu oportunidades até mesmo para aqueles que haviam ido embora. “O trabalho que começamos através do turismo conseguiu trazer de volta as pessoas que estavam fora. Eles retornaram, abriram seus negócios nas propriedades no interior e continuam com as associações familiares. Eles também participam dos cursos, principalmente os voltados para o turismo, que já realizamos vários. Acreditamos que esse trabalho que estamos fazendo está trazendo os jovens de volta”, destaca.

Situação após as chuvas

Monte Belo do Sul teve suas estradas afetadas e apenas duas famílias foram atingidas pelas enchentes. Entretanto, a prefeitura precisou investir consideravelmente na recuperação dos acessos que estavam inviabilizados pelos deslizamentos. “Vejo muito discurso e pouca ação. Não sei como está a situação do governo do estado e do federal, há muitas reuniões, mas parece que uma reunião serve apenas para marcar a próxima. Tivemos uma reunião em Lajeado, há cerca de oito dias, com o presidente da Confederação Nacional dos Municípios, discutindo como podemos transformar o discurso em realidade. Sabemos que o Estado sofreu muito, mas ainda acredito que vamos superar tudo isso. Pode surgir um Estado novo, mais competitivo e informatizado, desde que também receba os recursos necessários para fazer a máquina andar”, relata Dallé.

Ele explica os próximos passos para cobrar melhorias para o estado. “Na última reunião com todos os prefeitos e o embaixador, decidimos que seríamos convocados para os dias 2 e 3 de julho em Brasília, para nos reunirmos com os ministros e o presidente, a fim de fazer com que as promessas saiam do papel. Não podemos esperar que aconteça a mesma coisa agora, pois o estrago foi muito maior”, explica.

Política e projetos futuros

Desde muito jovem, Dallé ingressou na política, com pouco mais de 20 anos. Por conta disso, ele enxerga como era e como está. “Hoje sentimos esse problema em todo o Brasil: a falta de novas lideranças. Talvez seja porque a política no país hoje está muito desacreditada. Os bons empresários não querem assumir esse posto. Então nossas câmaras de vereadores acabam ficando desqualificadas, assim como os próprios prefeitos. Precisamos trabalhar para formar novas lideranças que deem continuidade ao trabalho. Eu comecei muito jovem, com 20 e poucos anos, e hoje estou com quase 60, mas sempre procurei fazer um bom trabalho, por isso ficamos tanto tempo na gestão”, constata. Ele complementa: “Temos dificuldade para encontrar pessoas para montar a chapa de vereadores e da própria majoritária, e isso não é só em Monte Belo, mas em diversos outros municípios. As pessoas estão fugindo da política. O que estamos vendo hoje no país é justamente isso, que desmobiliza um pouco as pessoas de bem”, diz.

Dallé conta um pouco de sua trajetória na vida política e os cargos que assumiu durante essas três décadas. “Estou encerrando praticamente 30 anos em Monte Belo do Sul. Fui vereador na primeira eleição, depois fui duas vezes vice-prefeito e agora estou encerrando quatro mandatos como prefeito, totalizando 16 anos. O que quero agora é trabalhar para sair novamente de cabeça erguida, fazer um bom trabalho, encerrar bem o ano e realizar aqueles projetos que estão em andamento”, alega.

Ele complementa sobre os projetos que está concluindo antes do final do mandato. “Temos um projeto em andamento agora, que destacaria na área das obras, que é a perimetral da cidade. Já pensando no futuro, vou conseguir tirar todo o trânsito de caminhões da área urbana, no centro da cidade. Temos obras em andamento nesse sentido, com duas rotatórias, uma na entrada e outra na saída da perimetral, e o fechamento da perimetral com todo o asfalto concluído. Estamos trabalhando agora na pavimentação das comunidades São Marcos e Linha Pederneira. Vou concluir meu mandato com pouquíssimas comunidades não atendidas pela pavimentação asfáltica”, destaca.

Para o futuro, Dallé planeja seguir na vida política, mas desta vez ajudando a gerir o Estado do Rio Grande do Sul. “Para o futuro, penso que nos próximos dois anos vou me candidatar a deputado estadual, em 2026, e como moro em Bento, irei representar a cidade. Por enquanto, devo fazer algum trabalho em Brasília ou em Porto Alegre, vinculado a uma assessoria parlamentar e preparando a campanha para 2026”, conclui.

Monte Belo do Sul está retomando os eventos que foram cancelados devido às chuvas