Caso siga a tendência deste ano, economista analisa que valor deve diminuir. Entretanto, diversos fatores podem interferir no custo dos alimentos básicos
O novo salário mínimo para 2023 já foi definido pelo Ministério da Economia: o valor de R$ 1.302 entra em vigor a partir de 1º de janeiro, R$ 90 a mais do que anteriormente. Entre as garantias que a remuneração base deve proporcionar está a alimentação do trabalhador e de sua família, por isso o preço da cesta básica é tão importante.
Em Bento Gonçalves, de acordo com pesquisas realizadas pelo Procon-BG, em janeiro o preço médio da cesta para uma pessoa ficou em R$ 259,03 e em novembro, R$ 244,77. De acordo com o economista e professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Mosar Ness, em 2022 ocorreu uma interferência muito forte de fatores herdados dos anos anteriores. “Houve uma pressão de inflação em vários setores, inclusive no agronegócio. Tivemos o reajuste de insumos básicos, de fertilizantes, de maquinário e de bens de capital. Tudo isso acabou aumentando o custo de produção de uma maneira geral de todos os itens que compõem o custo dos alimentos. Em 2021 tivemos uma pressão decorrente da própria condição de estarmos vivendo o lockdown. O governo pagou um auxílio para as famílias e isso elevou à compra de alimentos, gente que não consumia passou a consumir”, explica.
O aumento de consumo gerou uma pressão externa, pois com o câmbio desvalorizado, o mundo veio se abastecer no Brasil, o que também influencia na colheita, conforme o docente. “A safra do Rio Grande do Sul, temos que lembrar, agora estamos tendo períodos mais regulares de chuva, se espera uma mais pronunciada. No ano passado houve uma quebra muito forte em várias culturas, a gente ainda não está produzindo com irrigação e hidroponia em larga escala. Então, isso acabou elevando muito os custos de produção, causando outra pressão sobre a cesta básica”, esclarece.
Segundo Ness, a estabilidade encontrada em Bento está se mantendo no país, sendo encontrada até mesmo com uma pequena redução no preço. “Em média, ela já vem baixando. Estamos tendo quedas ao longo dos últimos meses, mas não são tão pronunciadas como as que ocorreram no IPC (Índice de Preços ao Consumidor)”, compara.
Ele ressalta, porém, que a cesta básica tem um comportamento diferente, pois reage de forma mais lenta. “No acumulado do ano, deveríamos ficar em torno de 20%, o que é um índice bastante alto. Todavia esperamos que para os próximos meses isso não venha acontecer. Aliás, pela tendência, vamos entrar em 2023 com estabilidade e com aumentos cada vez menores”, acredita.
O que esperar pra os preços em 2023?
O economista enfatiza que a tendência é de desaceleração, de uma maneira geral, mas principalmente na cesta básica. “Se você for ver os itens de consumo mais intensos, que são o arroz, o feijão, as massas, óleo de soja e biscoitos, eles têm registrado uma avaliação menor nos últimos meses. Um item que ainda está sofrendo pressão é a carne de frango, em virtude nas nossas exportações, mas a produção consegue ser ampliada mais rapidamente. A oferta de frango é mais rápida do que a de carne bovina”, sublinha.
Ele destaca, também, que a carne bovina fez uma escalada de preços. “Para se ter uma ideia, o coxão mole saiu de R$ 22 o quilo e foi pra mais de R$ 44, e se manteve. Algumas vezes você observa itens em promoção, mas de uma maneira geral, tem se mantido esses valores ao longo dos meses”, analisa.
Apesar de as expectativas serem de queda natural nos preços, Ness salienta que ainda é cedo para tecer comentários sobre o cenário econômico no próximo ano, por conta da questão política. “A gente desconhece qual é a ideia do novo ministro da Fazenda. As únicas propostas que temos até o momento é a ampliação de gastos em vários setores, como aumentar o Bolsa Família para R$ 600 e mais R$ 150 para o jovem. Isso deve causar uma pressão de inflação, pois o governo vai ter que financiar um aumento desses gastos com emissão de títulos e elevação da taxa de juros”, prevê.
Além disso, o professor realça que se houver aumento nos combustíveis com a volta da antiga tributação, haverá uma pressão para que o valor do transporte se eleve. “Se o frete sobe, automaticamente temos também um preço mais alto que vai reverberar em vários setores da sociedade, inclusive sobre a cesta básica. Nesse momento, o que eu posso dizer é o seguinte, de maneira natural, se mantivéssemos a política econômica que a gente vem experimentando até então, a tendência é que os preços desacelerem e caiam para menos de 10%, uma taxa acumulada”, expõe.
Fatores que interferem nos preços
O economista frisa que entre os principais fatores que interferem no valor dos alimentos está, nos gastos de produção, a variação do moeda americana. “Porque toda a nossa matriz de produção, principalmente para a cesta básica, está baseada em custos que são, de uma maneira ou de outra, ‘dolarizados’. Toda indústria recebe insumos que são cotados em dólar. Vai produzir os seus bens, seus itens, mas também vai repassar essa variação cambial”, exemplifica.
Além disso, ele menciona a instabilidade política. “Até o momento, embora ainda existam uma certa divergência em setores na sociedade em aceitar o resultado da eleição, esse é um problema que causa desconfiança para quem está no Brasil ou fora, mandando dinheiro pra cá ou pensando em investir dentro do país”, menciona.
Cenário no Brasil
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em nota à imprensa, mostrou resultados de pesquisa sobre a cesta básica. Em 2022, São Paulo foi a capital onde o conjunto dos alimentos básicos apresentou o maior custo (R$ 782,68), seguida por Porto Alegre (R$ 781,52), Florianópolis (R$ 776,14), Rio de Janeiro (R$ 749,25) e Campo Grande (R$ 738,53). Nas cidades do Norte e do Nordeste, onde a composição da cesta é diferente, os menores valores médios foram registrados em Aracaju (R$ 511,97), Salvador (R$ 550,67), Recife (R$ 551,30) e João Pessoa (R$ 552,43). Além disso, o custo dos alimentos apresentou elevação em todas as cidades, com destaque para as variações acumuladas em Goiânia (15,45%), Campo Grande (15,15%), Brasília (14,58%), Belo Horizonte (14,58%) e Porto Alegre (14,44%). Em Recife, foi registrada o menor aumento, de 3,56%.
Na pesquisa, também foi salientado que, com base na cesta mais cara, “em novembro, foi a de São Paulo, e levando em consideração a determinação constitucional que estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e da família dele com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, o DIEESE estima mensalmente o valor do salário mínimo necessário”. Em novembro de 2022, para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria ter sido de R$ 6.575,30, ou 5,43 vezes o mínimo de R$ 1.212,00.
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