Projeto de Lei Ordinária que visa a valorização da cultura e da história negra na cidade deve ser aprovado em breve
A cidade do vinho. O berço da colonização italiana. É desta forma que a Serra Gaúcha e Bento Gonçalves são vistos e vendidos para o resto do Brasil. Embora não exista erro nessas denominações, o problema é o desconhecimento acerca dos demais povos que aqui vivem e que ajudaram no desenvolvimento de nossa região, desde o seu princípio.
É para desconstruir essa visão unilateral e seus desdobramentos que vão do desconhecimento puro e simples até o preconceito, que tramita na Câmara o Projeto de Lei Ordinária (PLO) 241/2018, que visa a criação do Conselho Municipal dos Povos Tradicionais de Matriz Africana.
Moradora do Vila Nova II desde criança, Zilda Marques da Silva Nuncio, presidente da Sociedade 20 de Novembro e Conselheira da Cultura, conta que toda sua família cresceu no bairro; que sua avó, que morreu aos 102 anos, era benzedeira conhecida na vizinhança; e afirma que, assim como sua família, o povo negro está presente em Bento desde os princípios da cidade. “ Os negros estiveram presentes na colonização da cidade, ajudando na demarcação das terras, quando tudo aqui era mato. Acontece que ninguém nunca se interessou ou teve a visão de contar isso”, afirma.
Para ela, a criação do PLO facilitará a elaboração de estudos e informações sobre temas relevantes, permitindo, por meio da valorização da história, compreender as lutas e os aportes do povo negro na região.
Desconhecimento que gera preconceito
A cada 15 horas, o telefone do Disque 100, serviço de atendimento de denúncias do Ministério dos Direitos Humanos, soa relatando uma queixa de discriminação por motivo religioso, a maioria contra religiões afro-brasileiras. Marcus Flávio Dutra Ribeiro, coordenador do Movimento Negro Raízes, acredita que a intolerância e o preconceito são frutos do desconhecimento da cultura negra e de seu valor.
Marcus entende que a principal vantagem da criação do Conselho está na possibilidade de abrir um canal de conversação direta com a sociedade. “O conselho nos dará representatividade, proporcionando que as pessoas venham discutir e conhecer a cultura negra, principalmente no tocante à religião, para não criar-se fantasmas e lendas onde não existem”, finaliza.
Segundo o autor do PLO, o vereador, Eduardo Virissimo, o projeto, que ainda tem que passar por tramitações antes de ser enviado para votação em plenário, deve ser aprovado em no máximo dois meses.