Clacir Rasador

Por favor, alguém acenda a luz, nem que seja um lampejo, uma centelha de sensibilidade e discernimento às vozes que ecoam vindas de Brasília e do Piratini.

Em tempos sombrios, difíceis, todo cuidado é pouco ao dar as mãos a quem se imagina nos levará à outra margem.
Pior é quando já não se tem apenas as mãos dadas, mas a vida nas mãos daqueles que discutem, mesmo que sem externar abertamente, mas, pelos seus atos, em cada ponta do barco ou em seus camarotes quem será o próximo capitão, de quiçá uma futura viagem, diga-se, num momento totalmente descabido, inoportuno, enquanto a água já toma conta dos porões da embarcação – esta sem salva-vidas suficientes – entre muitos que, inocentemente, já sucumbiram.

É verdade, não houve até então na história recente tempestade tão devastadora. Não há, portanto, um manual de salvação testado, porém, começando pela faixa presidencial, passando pelos ternos e gravatas do auxílio-paletó, data venia adentrando no santuário das supremas e “impecáveis” togas e chegando logo ali, na praça da matriz, subindo as escadas do palácio ao estilo francês, quem diria, onde o poder se assenta, somos diariamente sufocados por maus exemplos que deveriam servir de guia, declarações intempestivas – quando não desrespeitosas –, decisões egocêntricas, incoerências visíveis e embates midiáticos, enquanto o inimigo comum, sem ideologia e/ou partido – embora não faltem teorias da conspiração – vai aumentando suas cepas, partindo vidas que viram números sem nome, sem laços afetivos, sem história que não seja unicamente um dado estatístico de um dia qualquer a figurar no telejornal das 8, 10…

Não há como não ligar os fatos à atual condução da solução do problema nas mãos de nossas lideranças.
Winston Churchill, expoente estadista inglês, exemplo de liderança em defesa e união de sua nação na Segunda Guerra Mundial, foi também um grande frasista, ao qual é atribuída a seguinte citação: “se estiver no inferno, continue caminhando…”.

Então, onde nós estamos?

Transcorrido mais de ano desta infame pandemia, talvez por um tempo sequer engatinhávamos até descobrir quem e qual era a potencial letalidade do famigerado Covid-19. Contudo, com o decorrer do tempo e a humanidade toda – com raras exceções – tendo os olhos voltados unicamente e sabiamente para o facho de luz da ciência, me vejo a pensar e convido o leitor a se indagar: Quais os motivos do ontem e até mesmo repetidos hoje que impedem que caminhemos mais rápido na direção da saída: conhecimento, crédito, recursos, relacionamentos, estratégia?
Certamente, surgem muitas respostas, eis que assunto extremamente polêmico, cujo subjetivismo lhe é peculiar. Logo, o certo e o errado de cada um são defendidos com unhas e dentes, permeados por certezas solteiras, dúvidas, excessos, ofensas, paixões e ódios na defesa de pseudomitos e até bandidos de estimação.

Particularmente, entendo que tais respostas pensadas hoje não se encerram por aqui, pois a dura realidade continua e a forma de como seguiremos pelo caminho à porta da saída irá complementar ou mudar algo do que até então experimentamos.

De tudo isso que vi, ouvi e vivenciei até hoje, na condição única de mero cidadão que teme em especial pelo bem-estar de sua família e entes queridos, esperava ingenuamente, do triunvirato das excelências da república (poder legislativo, executivo e judiciário), uma aliança sólida – sem holofotes narcisistas – que ficaria na história do combate ao inimigo invisível, com foco, em especial, à proteção da vida, esta sim a luz da Constituição Federal.

Ao contrário, sinto o gosto amargo da DECEPÇÃO. Sinto, ainda, que temos muito a aprender com a dama da liberdade, a DEMOCRACIA.

A propósito, certa vez, li que silenciar as vozes é ferir a democracia, cuja sentença compartilho em gênero, número e grau.

Entretanto, quando as vozes não expressam a grandeza dos valores da democracia, ferido é o povo que lhes empresta, que lhes confia a voz e o poder que emana desta.

Quando isso acontece – e sabemos que tem sido corriqueiro – se faz necessário tolher a palavra para alinhar o discurso à prática, e, mesmo que isso signifique ser interpretado, taxado de ditador, comunista, socialista, esquerdista, direitista ou ignorante, não importa – viva a liberdade de expressão – valho-me das palavras do rei espanhol Juan Carlos I, da Espanha, ocorrido em 2007, no episódio com o então Hugo Cháves, presidente venezuelano a época. Em tais momentos, imagino ali, sentado ao lado daquela (s) excelência (s), uma nação inteira e, num gesto de indignação, um novo grito que ficará em nossa história: por que não te calas?

Vamos em frente!
Saúde!