Até nem lembro se fui tão pobre.
Algumas coisas da infância me “envergonhavam” por compará-las com as de outros vizinhos de rua.
Minha família não tinha carro e nem brinquedos de fábrica; polenta era todo o dia (mas não faltava comida) e, como guri, me sentia diminuído em relação aos outros amigos. Que besteira!
Até abandonar o “ninho”, sempre me preocupei com possíveis acidentes fora de casa que me obrigassem a ir para um hospital que, na época, eram dois: Tachini e Giorgi. Tudo pelo receio de passar vergonha, pois algumas roupas eram feitas pela Dona Blandina e com um puro e legítimo algodão de sacos de açúcar que, bem lavados, ficavam macios e branquinhos, servindo para enxugar louça, fazer lençóis e também as minhas cuecas.
Uma das cuecas tinha um maldito carimbo na “poupança”: “união dos refinadores de açúcar de araraquara”. Era de um fornecedor do armazém do Seu Pedro.
Que droga!
Imaginem as enfermeiras vendo aquele carimbo: “união dos….”.
Mas nunca passamos frio, comemos pão seco sem passar fome e nossa casa era frequentada pelos que tinham carro e roupas da moda. Lá eles se sentiam muito bem. Um lar exemplar!
Ainda hoje, quando falo aos colegas de trabalho, faço referência daquela época: “Poderemos não ter caviar na mesa mas também nunca vai faltar arroz e feijão”.
Só tive lençóis melhores, de linho e outros panos, quando a Dona Olga presenteou a Margaret com o enxoval de casamento. Que luxo! Tinha até o nome da gente carinhosamente bordado no pano.
Os brinquedos da infância, exceto dois presentes dos padrinhos (Domit e Menegotto) eu os fiz: carrinho de lomba, peão, arco e flecha, carreteis e tampinhas, verdadeiros exércitos do Guaraná Zambon X Guaraná Morbini (tampinha virada era soldado morto), com reis, rainhas e seus príncipes imaginários.
Nem sei se fui pobre mas, com certeza, fui muuuuuuito feliz.