Virada econômica trouxe o fim da era inflacionária, a estabilidade na economia e o aumento do poder de compra da população

O dia 1º de julho de 1994 ficará marcado para sempre nas páginas de economia de todos os brasileiros que viveram o início de uma nova era: a implantação do Plano Real. Idealizado por dezenas de profissionais, que participaram efetivamente de sua elaboração, tendo à frente o então Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, juntamente com o presidente do Banco Central, Pedro Malan, o plano foi concebido como uma resposta aos problemas inflacionários crônicos que assolavam o país na época, resultando em altos índices de inflação, instabilidade monetária e desequilíbrios econômicos.

Diante de uma economia totalmente desestabilizada, que passou por cinco trocas de moedas em menos de 10 anos (cruzeiro, cruzeiro novo, cruzado, cruzado novo, cruzeiro real), além de várias outras variações e cortes de zeros, a entrada em vigor do Plano Real estabilizou a economia brasileira e colocou a inflação sob controle, pareou a moeda nacional com o dólar e proporcionou, com o tempo, o aumento do poder de compra do trabalhador.

O então Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, foi um dos responsáveis pela criação e implantação do Plano Real

Conforme a economista Monica Beatriz Mattia, a década de 80, anterior ao Plano Real, foi chamada de “década perdida”, porque o Brasil teve sua dívida externa aumentada em decorrência da elevação dos juros internacionais, afetando o crescimento da economia brasileira e, também, provocando uma brutal inflação nos anos 80 e início dos 90. “Estava reduzido o poder de compra dos trabalhadores e aposentados que enfrentaram cinco Planos Econômicos antes de comemorar a queda da inflação. O Plano Real, bem-sucedido, estabilizou a economia brasileira melhorando as expectativas empresariais, possibilitando planejamento de médio prazo e ampliando suas vendas e vagas de emprego, com melhoria salarial. No mês de junho de 94, mês que antecedeu o Plano Real, a taxa de inflação (IPCA) estava em 47,43% ao mês (tínhamos uma hiperinflação) e no mês de junho baixou para 6,84%, devolvendo à população seu poder de compra, com redução na taxa de juros de 13.500% (isso mesmo!) para 121%, reduzindo-se a cada mês, e ampliou o prazo de pagamento nas compras a prazo de três parcelas para 12 parcelas. Importante lembrar que as taxas estratosféricas que reduziam as expectativas não eram percebidas tão intensamente, porque toda a economia brasileira estava indexada, ou seja, todos os preços e salários eram reajustados de acordo com a taxa de inflação mensal. Com o Plano Real, a economia foi desindexada, e se deu fim a um período de uma inflação que se retroalimentava. Se iniciava um novo ciclo para a economia brasileira: empresas investindo, conquistando mercados nacionais e internacionais, gerando empregos e elevando-se a taxa de ocupação dos empregados. Se iniciava uma nova fase para os brasileiros”, lembra.

Se traçado um comparativo do Brasil de 30 anos atrás com o Brasil de hoje, Monica acredita que o Real soube superar muitos revezes internos e externos. “Se manteve aceita pelos agentes econômicos; se valorizou e desvalorizou ao longo do tempo. Em 1994, o dólar comercial de venda equivalia a R$ 0,84; em 2000 equivalia a R$ 1,95. O tempo foi passando e a moeda foi se desvalorizando, chegando a R$ 3,30 em 2017; R$ 4,03 em 2019; R$ 5,58 em 2021 e R$ 4,84 em 2023. Em maio deste ano chegou a R$ 5,24. A moeda é impactada pela dinâmica da economia, quanto maior o ciclo de negócios, maior é o valor da moeda. Se a taxa de juros e de câmbio forem atrativas, atrai capitais internacionais reduzindo a taxa de câmbio e, portanto, valorizando a moeda interna. Atualmente, está ocorrendo uma fuga de capitais internos de forma que ocorre uma elevação na demanda por moeda estrangeira, e, portanto, uma desvalorização da moeda nacional. Esta fuga de capitais especulativos decorre da política de juros americana, atrativa para os investidores nacionais e estrangeiros e, também, pelas especulações que ocorrem no Brasil em relação ao resultado das contas do governo e, ainda, pela movimentação que ocorre na economia mundial, com desempenho econômico menor do que o esperado, como é o caso China, que reduziu muito a compra de minério de ferro da Vale provocando redução no preço do produto e, por consequência, das ações negociadas na Vale. Com a melhora da economia mundial e com estabilidade no orçamento do setor público, por certo, o Real volta a se valorizar”, explica.

Ainda conforme a Economista, existem possibilidades de valorizarmos nosso dinheiro perante outros mercados, porém, é necessário que sejam tomadas algumas providências. “É preciso manter a inflação e as contas do Governo sob controle reduzindo o custo do dinheiro, ou seja, a taxa de juros. Mas, também, é necessária uma redução na taxa de juros americana para que o dinheiro retorne ao Brasil valorizando nossa moeda. É desejável, ainda, um maior crescimento na economia chinesa, grande parceira comercial do agronegócio brasileiro e do mercado de minério. Se a economia mundial apresentar melhores taxas de crescimento, por certo, haverá melhora na economia brasileira e fortalecimento do Real”, conclui.

Estratégias e medidas: estabilização econômica e desafios sociais no Brasil

Poder de compra da população aumentou consideravelmente com a queda da inflação

O Plano Real foi uma iniciativa ambiciosa para controlar a inflação e estabilizar a economia brasileira. Uma das primeiras medidas foi a criação de uma nova moeda, o Real, que substituiu o Cruzeiro. Essa mudança tinha como objetivo estabelecer uma unidade monetária estável e confiável. O Real foi ancorado ao dólar americano em um regime de câmbio fixo. Essa medida tinha como objetivo controlar a inflação importada, já que a valorização do Real frente ao dólar ajudava a reduzir o preço dos produtos importados.

Além disso, o Plano Real trouxe confiança aos investidores nacionais e estrangeiros, impulsionando a entrada de capital e estimulando o desenvolvimento de setores econômicos. O aumento dos investimentos gerou empregos, estimulou a produção e promoveu o crescimento sustentável no país. Embora o Plano Real tenha enfrentado desafios e limitações ao longo de sua implementação, seus resultados positivos na estabilização da economia brasileira e na promoção de um ambiente mais propício ao crescimento econômico são amplamente reconhecidos. O plano desempenhou um papel fundamental na história econômica do Brasil e estabeleceu as bases para uma trajetória de estabilidade e desenvolvimento nos anos seguintes.

A estabilização econômica proporcionada pelo Plano Real contribuiu para a redução da pobreza no Brasil. Com a diminuição da inflação e a melhoria nas condições econômicas, a renda real das famílias mais pobres aumentou, permitindo a aquisição de bens e serviços básicos. Durante e após o Plano Real, foram implementados programas sociais voltados para a redução da desigualdade e para a promoção da inclusão social. O Bolsa Escola, por exemplo, foi lançado em 2001 e posteriormente transformado no Bolsa Família. Esses programas direcionaram recursos financeiros para as famílias em situação de pobreza, auxiliando-as na superação da extrema vulnerabilidade.

Embora o Plano Real tenha contribuído para a estabilização econômica, ele não resolveu os problemas estruturais de desigualdade social no Brasil. A distribuição de renda continuou sendo um desafio, e a parcela mais vulnerável da população não conseguiu desfrutar plenamente dos benefícios da estabilidade econômica. Setores da burocracia estatal e interesses econômicos estabelecidos resistiram às mudanças propostas pelo Plano Real. Essa resistência dificultou a implementação efetiva das medidas necessárias para estabilizar a economia.

Para saber

As cédulas do real, englobadas na reformulação econômica do Plano Real em 1994, foram definidas visualmente para que tivessem cores e dimensões diferentes para cada valor, compartilhando a imagem da efígie da República e animais da fauna brasileira, com o objetivo de promover a preservação ambiental.

Acredita-se que a inclusão de registros da fauna nas notas tenha sido influenciada pela ECO-92, a Conferência das Nações Unidades sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento que ocorreu no Rio de Janeiro, em 1992.

Além da representatividade da diversidade da fauna brasileira, as imagens dos animais também fazem parte dos elementos formulados para combater a falsificação de notas. A partir de 2008, ocorreu uma forte modernização das cédulas, chamadas de segunda família, que vieram com elementos mais seguros e sofisticados, com os animais aparecendo também como marcas d’água.