Com a força do agronegócio, a economia do Rio Grande do Sul superou a média nacional em 2024, registrando crescimento de 4,9% no Produto Interno Bruto (PIB), contra 3,4% do Brasil. Dados do Departamento de Economia e Estatística (DEE) da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão revelam que a agropecuária gaúcha disparou 35% em relação ao ano anterior, sendo o principal motor desse avanço, que, em 2023, havia sido de 1,7% no estado.

O cálculo
O cálculo é feito a partir do desempenho dos diferentes setores econômicos do estado e dos comparativos com os resultados do país. Os dados foram elaborados por técnicos do Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão.

Campo
Enquanto o campo celebrava, com a produção de soja (43,8%), trigo (41,2%) e milho (13,9%) puxando a alta, outros setores apresentaram cenários mistos. O arroz, por exemplo, teve um avanço tímido de 0,3%, enquanto culturas como fumo e uva registraram quedas de 3,9% e 24,2%, respectivamente.

Indústria
Apesar do bom desempenho geral, a indústria gaúcha enfrentou um revés de 0,4%, impactada diretamente pelas crises climáticas. A indústria de transformação, o pilar do segmento, recuou 2,5%, sendo a única atividade industrial com saldo negativo no ano. Em contraste, no cenário nacional, todas as atividades industriais expandiram, com a transformação crescendo 3,8%.
Dentro da indústria de transformação no RS, a fabricação de máquinas e equipamentos liderou as perdas, com uma queda de 18,8%, seguida por bebidas (-13,2%), veículos (-3,2%), produtos alimentícios (-1,6%) e produtos do fumo (-5,6%). No entanto, houve exceções positivas, como a fabricação de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (16,8%), móveis (11,0%) e celulose, papel e produtos de papel (6,3%). Em contrapartida, as indústrias extrativa (3,0%), da construção (3,5%) e de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (11,5%) apresentaram crescimento no estado, refletindo um comportamento similar ao do Brasil, onde todas essas atividades também avançaram.

Serviços
O setor de serviços no Rio Grande do Sul prosperou, com todas as atividades em alta em 2024. O comércio se destacou com um aumento de 7,1%, impulsionado pelas vendas de hipermercados e supermercados (11,4%), veículos (10,7%), artigos farmacêuticos (10,8%), material de construção (9,5%) e móveis e eletrodomésticos (13,4%). Outros serviços (4,6%), serviços de informação (3,8%) e transporte, armazenagem e correio (3,6%) também contribuíram positivamente. Apenas as vendas de combustíveis e lubrificantes (-0,3%) e livros, jornais, revistas e papelaria (-9,5%) registraram retração.

Região
A região de Bento Gonçalves tem uma forte influência no setor moveleiro no Brasil, abrigando inúmeras empresas do segmento, com a tradição de fabricação de móveis em madeira. A cidade é conhecida, inclusive, como a capital brasileira da indústria moveleira, e abriga a principal feira do setor, a Movelsul.
Segundo Euclides Longhi, presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs), o Rio Grande do Sul é o segundo maior produtor e exportador de móveis do Brasil, com inúmeras empresas renomadas. “A evolução do mercado gaúcho é bastante relevante, refletindo no mercado brasileiro e até mesmo internacional, porque nossas indústrias têm grande representatividade no mercado. De acordo com a Sefaz, o faturamento nominal do setor moveleiro gaúcho evoluiu cerca de 14%. É um bom desempenho, mas não significa que todas as indústrias produziram e lucraram mais”, destaca.
Esse fator se dá por diversos motivos, tanto pela alta tributária quanto pelos custos da matéria-prima. “Também podemos destacar as dificuldades logísticas, especialmente durante e logo após as enchentes em muitas regiões do estado, além do fato de que diversas empresas foram solidárias e doaram móveis aos gaúchos, abrindo mão de parte dos seus lucros”, enfatiza Longhi.
Para Cíntia Weirich, presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis), mesmo com todos os desafios enfrentados em decorrência das enchentes de 2024, Bento Gonçalves conseguiu ser resiliente. “Muitas dificuldades prejudicaram o setor moveleiro de Bento e do estado, como desequilíbrio na oferta e na demanda, pois em um primeiro momento as indústrias não conseguiram produzir e atender à demanda no mercado interno; problemas logísticos; elevação dos custos e despesas operacionais. Mesmo com tantos desafios, o polo moveleiro de Bento é um importante gerador de empregos e renda – tanto que, apesar de ter registrado redução em 2024, conta com cerca de 6.300 profissionais empregados”, salienta.


“Uma pesquisa do Sinduscon-RS aponta que, no primeiro trimestre de 2024, o volume de lançamentos de imóveis cresceu 111% na região metropolitana de Porto Alegre em relação ao mesmo período de 2023, por exemplo. A exportação, que é uma fonte de negócios muito importante para o polo, cresceu 10,8% em 2024, ajudando a manter o setor aquecido”, explica Cíntia.
Outro fator importante para o setor é o apoio dos sindicatos e entidades às empresas. “A Movergs mantém contato constante com os empresários, dialogando, oferecendo acesso a informações e estudos, promovendo palestras de qualificação, além de estudar o mercado e se relacionar com outras entidades. Tudo pensando na representatividade, nos interesses e na competitividade dos seus associados e do setor como um todo”, enfatiza Longhi.

Euclides Longhi, presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs)


Para o presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Bento Gonçalves (Simmme), Juarez Piva, o setor não acompanhou o PIB gaúcho de 2024. “Ficamos em 3,72% por sermos um setor onde deveriam ocorrer investimentos e que foi o mais prejudicado”, destaca.
Segundo Piva, a indústria estava encaminhada para o crescimento. “Devido ao desajuste fiscal do governo, tem havido uma elevação da taxa de juros pelo Banco Central fora da realidade. Assim, os investimentos estão parando, ficando impossível fazer compras para modernizar o parque fabril. Mais uma preocupação é a guerra comercial que está ocorrendo no mundo, deixando o setor em compasso de espera”, enfatiza Piva.

Presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Bento Gonçalves (Simmme), Juarez Piva


Em um momento de incertezas econômicas, o Simmme expressa a apreensão do setor. “O sindicato vem promovendo encontros e debates com os governos estadual e federal sobre as demandas necessárias para o Brasil crescer na indústria, mas não estamos sendo bem-sucedidos; com as contas do governo desajustadas, a taxa de juros tentando conter a inflação mostra que não será um ano de crescimento”, explica Piva.
Além disso, o sindicato tem acompanhado mensalmente tanto a queda quanto a evolução dos associados. “A queda da produtividade, mesmo com mais pessoas empregadas e mais horas trabalhadas, de 2019 a 2024, foi de 9% (Fonte: CNI)”, esclarece o presidente.

Cíntia Weirich, presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis)

Projeção para 2025
As perspectivas para o crescimento do PIB do Rio Grande do Sul neste ano mostram um cenário de otimismo contido. Enquanto o Portal do Estado projeta um crescimento de 2%, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS) revisou suas estimativas, apontando para uma desaceleração. A nova projeção da FIERGS indica um crescimento de 2,2%, uma redução de 1,1 ponto percentual em relação à previsão anterior de 3,3%. Essa revisão sugere uma cautela maior por parte do setor industrial em relação ao desempenho econômico do estado no próximo ano.
Neste ano, o setor, segundo o presidente da Movergs, já tem resultados positivos. “As perspectivas são de crescimento do PIB gaúcho e brasileiro em 2025, mas em menor escala do que em 2024. Em relação ao segmento moveleiro do estado, o faturamento cresceu neste primeiro trimestre de 2025. Além disso, já conseguiu repor algumas vagas de trabalho em 2025”, diz.
Cíntia destaca que as projeções para o PIB do Rio Grande do Sul em 2025 indicam um crescimento moderado, mas com desafios. “Segundo a Fiergs, a expectativa de crescimento foi revisada de 3,3% para 2,2%, principalmente devido à queda esperada na agropecuária, que pode recuar 5,2%. A indústria pode ter um avanço de 3,1%, impulsionada pela reconstrução pós-enchentes. Esse cenário pode ser alterado ao longo do ano, mas, se confirmado, o Rio Grande do Sul vai voltar a crescer”, salienta.
“Vemos resultados positivos em relação a faturamento, exportação e empregos no primeiro trimestre de 2025, mas são dados que não refletem a realidade de todas as indústrias. É possível que o avanço seja puxado por empresas que estão conseguindo se posicionar, inovar, explorar nichos e oportunidades, mas no dia a dia vemos muitos relatos de empresários preocupados com o mercado”, conclui a presidente do Sindmóveis.
Para Piva, o ano de 2025 acende um alerta para a indústria. “Vem acompanhado de muitas situações que, infelizmente, nos deixam muito apreensivos, sem muita perspectiva de mudanças a curto prazo: juros altos, falta de mão de obra, o governo gastando mais do que o possível, e mais aumento de impostos. Assim, o setor vem sofrendo e está muito preocupado com as políticas de desindustrialização do país”, conclui o presidente.