Nesta semana, três casos da cepa indiana foram confirmados no estado. O médico Felipe Dal Pizzol esclarece diferenças e mutações no vírus

Todos os vírus sofrem mutações naturais com o tempo e o Sars-CoV-2 não é exceção. Desde que foi identificado pela primeira vez, surgiram milhares de mutações.

Os vírus mutantes são chamados de variantes. A maioria das mudanças tem pouco ou nenhum impacto nas propriedades, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), e muitas desaparecem com o tempo.

O bento-gonçalvense, doutor em Ciências Biológicas, médico e pesquisador da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), Felipe Dal Pizzol, explica que as mutações ocorrem em virtude de alterações que surgem no DNA. “Decorrem espontaneamente à medida que os vírus se dividem por erros aleatórios no processo de divisão que modificam a estrutura de seu material genético”, expõe.

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Nesta semana, três casos da Delta, cepa proveniente da Índia, foram confirmados no Rio Grande do Sul. Trata-se do tipo chamado ‘variante de preocupação’, classificado pela OMS, em que estão inclusas outras três: Alfa (Reino Unido), Beta (África do Sul) e Gama (Brasil).

Dal Pizzol esclarece as principais diferenças entre elas. “Do ponto de vista de estrutura, têm distintas mutações em proteínas importantes para vírus como a ‘S’. Com isto, apesar de clinicamente se comportarem de forma similar, praticamente os mesmos sintomas, podem ter diferentes graus de contaminação e de gravidades da doença”, detalha.

O pesquisador destaca, ainda, que essas quatro principais podem aumentar a transmissibilidade ou alterar prejudicialmente na epidemiologia da Covid-19, ampliar a virulência ou mudança na apresentação clínica da doença ou ainda diminuir a eficácia das medidas sociais, de saúde pública ou de diagnósticos, vacinas e terapias disponíveis.

Várias outras, contudo, já foram detectadas. “As chamadas de ‘variantes de interesse’, como Epsilon, Zeta, Eta e Theta. Essas não são tão graves. São identificadas como causadoras de transmissão comunitária, de múltiplos casos ou de clusters (agrupamentos) de Covid-19, se tiver sido detectada em vários países”, aponta o pesquisador.

As vacinas protegem contra variantes?

Embora possam ter resistência maior às vacinas, informações indicam que as disponíveis (inclusive aquelas em uso no Brasil) têm mostrado bons resultados mesmo diante de novas variantes. Dal Pizzol, no entanto, pondera que com o frequente surgimento dessas cepas do coronavírus no país e no mundo, possa surgir alguma mutação do vírus capaz de permitir que ele ‘escape’ da proteção que os antivírus existentes hoje conferem ao corpo humano. “Pode, sim, modificar a ação tanto de imunizantes quanto de tratamentos. Não temos, ainda, certeza absoluta, mas evidências sugerem que a eficácia pode reduzir. A ‘Alfa’ parece que menos, porém as outras três parecem diminuir de maneira mais significativa”, adverte.

Em um estudo da Public Health England, uma dose da vacina Pfizer ou AstraZeneca forneceu apenas 33% de proteção contra a variante Delta, em comparação com 50% a variante Alfa. Esses níveis, no entanto, aumentaram após a segunda dose para 88% para a Pfizer e 60% para a AstraZeneca.

Como podemos lutar contra novas variantes?

O médico Dal Pizzol salienta que, por ora, não se pode fazer nada muito diferente. “Redobrar os cuidados, uma vez que elas tendem a ser mais transmissíveis”, pede.

Variante Delta

De acordo com estudos realizados por cientistas, a variante Delta é considerada de maior transmissibilidade. Apresenta, ainda, diminuição da eficácia dos anticorpos produzidos pelas vacinas, sendo que uma dose apenas pode ser pouco para conter o avanço dela. Entre as medidas encontradas para barrar o avanço do contágio, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) orientou que os municípios apliquem a segunda dose dos imunizantes da AstraZeneca e Pfizer em um intervalo de 10 semanas e não mais 12 como era preconizado inicialmente.

Foto: Divulgação/Kaique Lima