A alta umidade do ar é um fenômeno comum em diversas regiões do Brasil, especialmente em épocas de chuvas intensas ou em áreas litorâneas. No entanto, apesar de ser muitas vezes negligenciada, a umidade elevada pode trazer sérios riscos à saúde, especialmente para o sistema respiratório. Em entrevista, a pneumologista Dra. Francielle Fuligo detalha os principais problemas respiratórios associados à alta umidade, os sinais de alerta e as medidas preventivas que podem ser adotadas para proteger a saúde.

Dra. Francielle Fuligo, médica pneumologista

De acordo com a médica, a alta umidade cria um ambiente propício para o desenvolvimento de diversos problemas respiratórios. “A umidade excessiva no ar pode agravar condições como asma e bronquite, além de favorecer o surgimento de infecções respiratórias e alergias”, explica.

Os sintomas da asma podem piorar significativamente em um ambiente úmido. “O ar mais denso e úmido dificulta a respiração, obrigando os pulmões a trabalharem mais, o que pode desencadear crises asmáticas, caracterizadas por falta de ar, chiado no peito e tosse intensa.” A especialista também alerta que, em pacientes com bronquite, a umidade pode aumentar a produção de muco e irritar as vias respiratórias, exacerbando a inflamação dos brônquios e resultando em tosse persistente.

Essa umidade elevada favorece o crescimento de ácaros, fungos e mofo, que são conhecidos desencadeadores de alergias respiratórias. “Pessoas alérgicas a esses agentes podem apresentar sintomas como espirros, congestão nasal, tosse e irritação nos olhos”, destaca. Ela enfatiza que, em ambientes úmidos, esses alérgenos encontram condições ideais para proliferar, aumentando o risco de reações alérgicas graves.

Além disso, o crescimento de fungos e bactérias faz com que o risco de infecções respiratórias, como sinusite, rinite e, em casos mais graves, pneumonia, aconteça. “A umidade cria um ambiente ideal para a multiplicação de microorganismos, o que pode resultar em infecções respiratórias frequentes e, em alguns casos, graves”, alerta a Dra. Francielle.

Agravamento de Condições Respiratórias Crônicas

A exposição prolongada à alta umidade pode ter efeitos ainda mais devastadores para pessoas com condições respiratórias crônicas. “Em pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), a umidade pode acelerar a progressão da doença, agravando sintomas como tosse intensa, falta de ar e infecções respiratórias recorrentes”, explica. Ela acrescenta que, em casos de rinite alérgica, a umidade pode tornar os sintomas persistentes, exigindo tratamentos contínuos e, por vezes, hospitalares.
Identificar os sinais de que a umidade elevada está afetando a saúde respiratória é crucial para a intervenção precoce, a fim de evitar o agravamento das condições respiratórias. Segundo a especialista, os principais sinais incluem:

  • Falta de ar e chiado no peito: especialmente em pacientes com asma ou outras doenças pulmonares.
  • Tosse persistente: pode ser seca ou acompanhada de produção excessiva de muco.
  • Congestão nasal e sinusite: indicativos de infecções respiratórias que se agravam em ambientes úmidos.
  • Irritação na garganta e espirros frequentes: sinais comuns de alergias respiratórias.

Medidas para minimizar os efeitos da umidade elevada

Para minimizar os efeitos nocivos da alta umidade na saúde respiratória, a especialista recomenda uma série de medidas preventivas que podem ser adotadas no dia a dia, sendo elas:
Ventilação adequada: manter as janelas abertas, especialmente em áreas como banheiros e cozinhas, ajuda a promover a circulação do ar e a reduzir a umidade.

Uso de desumidificadores: são dispositivos eficazes na redução da umidade em ambientes fechados. “Esses aparelhos removem o excesso de umidade do ar, ajudando a prevenir o crescimento de mofo e ácaros, o que tem um impacto positivo na saúde respiratória”, observa a médica. Existem diferentes tipos de desumidificadores, desde os mais simples, como os de gel de sílica, até os mais sofisticados, como os de compressor e os dessecantes, que são recomendados para espaços maiores.

Limpeza frequente de áreas úmidas: a limpeza regular de áreas suscetíveis ao crescimento de mofo, como azulejos, chuveiros e lavatórios, é essencial para evitar o acúmulo de umidade e a proliferação de fungos. “Utilizar produtos antifúngicos pode ajudar a eliminar o mofo e prevenir sua reaparição”, sugere Francielle.

Reparos em infiltrações: é necessário que qualquer problema seja consertado imediatamente para evitar o crescimento de mofo.

Uso de purificadores de ar com filtro: a médica recomenda purificadores de ar com filtros HEPA, para remover partículas de ácaros, mofo e outros poluentes do ar, que ajudam a melhorar significativamente a qualidade do ar em ambientes fechados.

Manutenção de equipamentos: a manutenção regular de sistemas de ar condicionado e aquecedores é fundamental para evitar o acúmulo de umidade interna. “Filtros sujos e sistemas de drenagem obstruídos podem aumentar a umidade e comprometer a qualidade do ar”, observa.

Grupos de risco

Certos grupos são particularmente vulneráveis aos efeitos da alta umidade, incluindo idosos, gestantes, crianças, pessoas com doenças pulmonares e pacientes com sistema imunológico comprometido. “Esses grupos devem ter cuidado extra em ambientes de alta umidade, pois estão mais propensos a desenvolver infecções respiratórias e outras complicações”, adverte a médica.

Mofo e bolor: os principais inimigos da saúde respiratória

Eles são os principais fungos que prosperam em ambientes úmidos e mal ventilados. Segundo a especialista, a exposição a esses fungos pode ter sérias consequências para a saúde respiratória. “O mofo pode desencadear alergias respiratórias, agravar a asma e, em casos mais graves, causar infecções pulmonares, como a aspergilose, uma condição potencialmente fatal em indivíduos imunocomprometidos”, alerta.

Diferenciando os sintomas

Diferenciar os sintomas causados pela alta umidade de outras causas de problemas respiratórios pode ser desafiador. “A relação entre os sintomas e a exposição a ambientes úmidos, bem como a presença de mofo ou bolor, são indicativos importantes”, explica. Consultar um médico para exames adicionais, como testes de alergias e avaliações respiratórias, pode ajudar a esclarecer a origem dos sintomas e orientar as melhores medidas de prevenção e tratamento.

Tratamentos

A possibilidade de reverter os danos causados pela exposição à alta umidade depende da gravidade e da duração da exposição, bem como da condição de saúde pré-existente da pessoa. “Em muitos casos, os sintomas respiratórios e os danos leves podem ser tratados e controlados, mas em casos mais graves, especialmente com exposição prolongada, os danos podem ser mais difíceis de reverter completamente”, afirma a Dra. Francielle.

Sintomas como irritação nas vias respiratórias, congestão nasal e tosse leve geralmente melhoram quando a pessoa é removida do ambiente úmido. “Nestes casos, a reversão dos sintomas é possível com tratamento e controle do ambiente”, explica. Infecções respiratórias leves, como sinusite ou bronquite, causadas pela exposição à alta umidade, podem ser tratadas com medicamentos (antibióticos e anti-inflamatórios) e costumam ter uma recuperação completa.

Em pessoas com asma ou bronquite crônica, a exposição prolongada à umidade pode agravar os sintomas a ponto de causar danos permanentes às vias respiratórias. “Nesses casos, os danos podem não ser completamente reversíveis, mas a gestão adequada pode melhorar significativamente a qualidade de vida”, ressalta Dra. Francielle. Em casos mais graves, como fibrose pulmonar ou DPOC, a exposição prolongada a mofo pode levar a condições irreversíveis, que requerem tratamentos contínuos para aliviar os sintomas e retardar a progressão.