Sonho, determinação, trabalho, entrega, conquista, emoção, orgulho… As olimpíadas de Tóquio exibiram isso tudo com muito glamour. Mas uma coisa foi pouco comentada: ruas da capital limpas, sem varredores nem latas de lixo expostas.
Já pensaram se, depois de um feriadão, as praias brasileiras, a orla do Guaíba, a Praça da Avenida Planalto, o bairro onde moramos, fossem espaços asseados? Que luxo sem lixo!
Já que estamos navegando nesse mundo paralelo, vamos imaginar o Brasil como um patchwork perfeito, costurando nele o melhor de cada nação. O asseio japonês, que é também espiritual, compõe o fundo deste mosaico.
Da Suíça, alinhavamos o retalho da educação, sistema cujos frutos são percebidos nas ruas e serviços públicos, que sempre funcionam bem.
A Alemanha vai contribuir com sua fidelidade, já que os alemães se importam em ser honestos em um relacionamento. Assim estaremos cerzindo o desgaste provocado pelo nosso amado Brasil, que consta como o segundo país mais adúltero.
Já Ruanda nos cede um triângulo do Parlamento, porque nele há mais mulheres do que de qualquer outra instituição do mundo. E por falar na atuação desta ala, Zâmbia colabora com o empreendedorismo feminino, que será pespontado à figura anterior.
A Colômbia – quem diria! – nos dá uma tira de felicidade, para que possamos unir o povo em torno da mesma piada.
Um quadrado da Dinamarca vai reduzir a jornada de trabalho brasileira, cujas horas serão aproveitadas para curtir o soninho nosso de cada dia, através do retalho sobreposto da Holanda.
Da Itália, a longevidade não pode faltar, e da Espanha, a vida saudável, afinal viver bastante só vale a pena se a gente viver bem.
Com o QI da China e seu investimento em esportes, teremos um país criativo e rico, podendo em breve superar os Estados Unidos, inclusive em medalhas de ouro.
Vamos garantir a segurança com um quadrilátero da Islândia, bem pespontada nesta obra de arte.
Adicionando a espiritualidade, o jeito zen de ser da Índia e a aurora boreal da Finlândia, num “composée” sublime, o Brasil vai encantar até os mais indiferentes.
Ah, a Língua! A nossa é perfeita. Parafraseando Caetano, ela permite que se faça uma profusão de paródias capazes de encurtar dores e furtar cores, como camaleões. Ela é nossa Pátria e nossa mátria. É nossa paixão.
Pronto! Costuramos um país perfeito! Culto, limpo, lindo, seguro, saudável, longevo, fiel, educado, espiritualizado e feliz.
Seria assim o paraíso?