Moradores reclamam das condições e cobram melhorias do trecho que nos últimos nove anos vitimou 14 pessoas
Um pequeno distrito de Bento Gonçalves recheado de histórias e com um roteiro turístico que chama a atenção dos apreciadores de boa comida e bebida. Porém, ao mesmo tempo Faria Lemos sofre com as estradas do interior e com alguns trechos da ERS-431, os quais se tornaram perigo para moradores e frequentadores da região.
A rodovia estadual como um todo apresenta boas condições asfáltica. Mesmo assim é um local com perigos, principalmente no quilômetro nove. Nos últimos nove anos, o trecho acabou vitimando ao todo 14 pessoas. O último deles foi registrado no dia 2 de janeiro e levou a morte de um homem de 35 anos e deixou o caroneiro gravemente ferido, e após ser encaminhado ao hospital foi liberado alguns dias depois pelos médicos.
As marcas deste e de todos os demais acidentes ainda estão presentes por quem passa pela rodovia que não possuí acostamento e pouquíssimos refúgios para os motoristas. Ao lado da estrada que tem uma sinalização com limite de 40km/h de velocidade, vê-se pedaços da mureta que serve como proteção, de veículos e muitos produtos que acabaram caindo dos caminhões e não foram recolhidos.
Flasdemir Cristófoli tem sua propriedade nos dois lados da margem da ERS-431, justo na curva que não consegue ser vencida pelos caminhões. O vitivinicultor foi testemunha de todos os acidentes e faz um apontamento sobre o local. “O caminhão vem lá de cima fervendo os freios, todo carregado e pesado e não consegue fazer a trajetória fechada. Essa curva foi muito mal projetada, é muito curta, não vence fazer. Não tem acostamento, é quase uma curva da morte”, relata.
Segundo Cristófoli, isso foi dito aos engenheiros do Departamento de Estradas e Rodagem (DAER) quando a formação da rodovia. E aponta uma solução para que evite novos casos sejam evitados. “Conversei com eles (Daer) que deveriam tirar essas pedras que tem do lado e fazer essa curva dois, três metros para o lado. Ninguém planta em peral como esse, dava para tirar. Isso a tornaria mais leve e os caminhões não teriam dificuldade para fazer o contorno”, observa.
Os acidentes que causam transtornos para os vitinicultores e trazem perigo, pois há moradias, como conta Cristófoli. “Eles (caminhões) caem e derrubam várias parreiras. Querendo ou não, trazem prejuízos para a gente. Tem os produtos que não são recolhidos, não podemos nós retirar e ficam ali na terra junto com pedaço de proteção e até peças de caminhão. E tem as pessoas que moram ali, gera um susto enorme, ninguém sabe se vão conseguir parar”, alerta.
Pouco mais acima do trecho, está a tenda do comerciante Artêmio Cobalchini. E as críticas referente a estrada se mantém. “Por que eles não colocam placas sinalizando para reduzir a velocidade? Só tem uma. Tem placa aqui na frente que faz seis anos que retiraram e não colocaram de volta. Não se tem um aviso que o trecho é perigoso e que se resultou em mortes. Agora, só colocaram tartaruguinhas no meio do asfalto que atrapalha e muito a gente que tem comércio. Já falei com o pessoal do Daer para retirar, mas nada”, explana.
O comerciante ainda faz uma denúncia. “Em fevereiro um caminhão caiu aqui próximo da tenda perto a uma casa e até agora não vieram retirar. Já liguei para todos os lugares, falei com o pessoal da Secretaria do Meio Ambiente e nada. Vão esperar quando para tirar ele dali. Tem riscos e ninguém faz nada”, desabafa.
O que diz o Daer
Com relação aos problemas da ERS-431, o DAER informou a reportagem do Semanário através de uma nota sucinta sobre as condições da rodovia e os acidentes. “A ERS-431 deve receber melhorias no pavimento assim que o fornecimento de material asfáltico for normalizado. Salientamos que é importante que os usuários respeitem o limite de velocidade das rodovias para evitar acidentes”, esclarecem.
Questionados sobre a proibição de caminhões no trecho, a nota ainda salienta que a fiscalização é de responsabilidade da Polícia Rodoviária Estadual (PRE). O órgão não retornou os questionamentos da reportagem.
Entre reclamações e elogios no Distrito do interior
Mês de início da Vindima e a circulação da caminhões na estradas do interior de Faria Lemos para a entrega da uva é intensa, como de costume. E as reclamações sobre as condições se mantém por parte dos produtores e moradores.
José Dalmoro é quem engrossa a insatisfação. “Não temos sub-prefeito aqui em Faria Lemos, infelizmente. As estradas estão horríveis. O prefeito disse que ia arrumar todas as estradas na última safra da uva, mas não arrumou. Como os agricultores vão fazer para puxar a uva?”, provoca.
Dalmoro revela esquecimento do governo municipal com todos os agricultores. “Nós deveríamos (agricultores) ser muito mais valorizados. Estamos esquecidos. Eu sempre digo que a gente precisa de três coisas do governo: estrada boa, um lote de pedras para o caminhão não tombar na vindima e de vez em quando, a construção de um bueiro. O resto a gente faz acontecer”, ostenta.
Mas há muitas coisas boas destacadas pelos moradores de Faria Lemos. Dalmoro faz os seus apontamentos. “Tem tudo de bom para quem mora. Temos uma boa segurança, a escola faz um bom trabalho.
A igreja é linda e temos uma comunidade muito forte. É um distrito rico de pessoas, com um turismo que abre mais oportunidades e portas para que as pessoas nos visitem”, assegura.
Para Cobalchini, a relação com as pessoas e a convivência de anos como morador e comerciante do local é visto como positivo. “Tem muitas coisas boas, o principal são os turistas, os compradores e os amigos. Eles vem aqui, conversam com a gente, trocam experiência e isso faz a gente crescer em todos os sentidos”, valoriza
Entre degustação de vinhos e aguardando o meio-dia para almoçar estava a família Pereira, que veio de São José dos Campos para Bento Gonçalves e foi até Faria Lemos por indicação de amigos. “Eles nos falaram muitas coisas boas das cantinas e vinícolas. Já passamos por duas e queremos visitar algumas cantinas. O lugar é muito bonito com uma paisagem natural rica bem organizada e com acesso fácil. Vamos recomendar”, exalta.
O casal fez um apontamento interessante visto no distrito. “Tem casas históricas que parecem não estarem sendo preservadas. Estão fechadas para visitação também. Isso poderia ser melhor explorado, pois é muito bonito”, sugere
Fotos: Guilherme Kalsing/Jornal Semanário