Apesar de ser uma cidade turística, a região central está esvaziando cada vez mais, principalmente por conta da pandemia. Descentralização de negócios já é realidade na Capital do Vinho
Por ser uma das cidades turísticas mais visitadas da Serra Gaúcha, os moradores de Bento estão acostumados com movimentação constante no Centro da cidade, seja nas lojas ou atrações, normalmente realizadas na praça Via del Vino. Entretanto, desde o ano passado, a necessidade de distanciamento social mudou esse quadro.
Segundo o secretário de turismo do município, Rodrigo Parisotto, a pandemia tem trazido inúmeros impactos e um deles é não incentivar aglomerações. “Em consequência disso não apenas o Centro, mas outras regiões da cidade também têm sido afetadas”, explica.
Parisotto afirma que, no momento, o problema não é a falta de atrações culturais na parte central da Capital do Vinho, mas sim o impedimento de avançar em determinados temas para preservar a saúde da população. “Não podemos criar medidas para incentivo de circulação de pessoas, gerando aglomeração e outros problemas. Precisamos garantir que os índices de contaminação e internação reduzam para poder voltar a realizar determinadas ações”, salienta.
Para que tudo volte ao normal, além da vacinação, novos estabelecimentos estão sendo abertos e outros ainda serão. “A cultura de abrir aos finais de semana não é de todas empresas e respeitamos isso. Porém, já existem novos entrantes no mercado que vêm com essa postura. Isso automaticamente converterá em maior fluxo de pessoas, ao mesmo que a Secretaria de Turismo prepara ações voltadas para o fortalecimento turístico no comércio local e também um passeio histórico pela Via del Vino”, sublinha.
Comércio em descentralização
Um movimento que está influenciando no fluxo de pessoas do Centro é a descentralização do comércio, ou seja, muitos empresários estão escolhendo abrir empreendimentos em outros bairros.
A secretária de Desenvolvimento Econômico, Milena Bassani afirma que este é um acontecimento natural. “Existe o deslocamento, pois algumas atividades do comércio ou serviços ofertados são utilizados por toda população. O motivo é o crescimento da cidade, que é próspera e atrai muitas pessoas. Conforme existe a demanda dentro dos bairros os empreendedores vão aproveitando as oportunidades”, ressalta.
Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Bento Gonçalves (Sindilojas-BG), Daniel Amadio, as lojas dos bairros adjacentes não são restritas aos moradores, mas a todo o público de Bento. “O motivo é estratégico. As despesas, principalmente com aluguel, são menores; gera comodidade para as pessoas próximas, facilitando o deslocamento e aumentando a frequência de acesso à loja; as margens de operação podem ficar menores, e tornarem os produtos mais baratos; entre outras razões. Existe um movimento de descentralização por todos os segmentos, não somente no comércio, como bancos, academias, supermercados, entre outros. O mais importante é que contribui para diminuir os problemas da concentração de pessoas nos centros urbanos”, aponta.
Comércio fora do Centro é benéfico para lojistas e clientes
O presidente do Sindilojas argumenta que um dos incentivos para a abertura de negócios fora do Centro são os aluguéis com valor bem mais barato do que na área central. “Quem regula os valores é a lei de mercado, oferta e demanda. Como nos bairros a procura não é tão grande e o investimento de construção não é tão alto, reflete para o investidor ter condições de um preço mais acessível na hora de repassar ao valor do aluguel”, esclarece. Além disso, Amadio também afirma que há preocupação com os efeitos das aglomerações, como transporte, mobilidade, segurança, logística, entre outros.
Segundo ele, é difícil precisar há quanto tempo essa mudança está acontecendo, mas que é um dos efeitos gerado pelo crescimento de uma cidade. “Quando surgem novos comércios para atender essa demanda os valores passam a subir, os problemas gerados começam a preocupar os usuários. A descentralização surge como uma solução, buscando o público que possa ficar inibido de comprar, dando a ele uma facilidade que lhe agrada, pois além de todo conforto, sua despesa de deslocamento ajudará na economia gerada”, expõe.
Este movimento, porém, não pode ser visto de forma negativa. “Para qualquer cidade isso independe para a economia, pois a geração de renda será dentro do município. Tendo uma pulverização dos negócios, a qualidade dos bairros em infraestrutura pode melhorar, pois qualquer estabelecimento gera circulação e as atenções de melhores condições de vida acontecem por parte do Poder Público. Por todas essas razões, acredito que descentralizar é positivo para as cidades”, conclui.
Ponto positivo para comerciantes
A empresária Gisele Bonassi abriu, recentemente, uma loja no bairro Cidade Alta. Ela afirma que foram vários fatores que a fizeram escolher a sala comercial em que está atualmente. “Um dos principais foi a questão do estacionamento, no Centro é bem difícil de encontrar”, expõe.
Além disso, parte da economia nos gastos da loja de roupas vem do valor pago na locação do espaço. “Tem a questão do aluguel, que é muito caro no Centro. Como eu consegui esse lugar perto de uma escola é bom, porque meu foco é mais no infantil. Também tenho alguma coisa no masculino e feminino, mas é bem menor o número de peças que tenho na loja”, salienta.
Além disso, um dos benefícios para quem não mora no bairro são as vendas pela internet. “A gente também faz entrega a domicilio. A pessoa vê a publicação e entrego na casa”, explica.
Apesar de ser um negócio aberto há apenas um mês, Gisele afirma que a localização é analisada positivamente pelos novos clientes. “As pessoas que entram elogiam bastante por estar no bairro e não ter o ‘vuco vuco’ das lojas, pela praticidade”, finaliza.
Foto: Thamires Bispo