Então o menininho de três anos decidiu que iria largar a chupeta, mas não faria que nem o pai dele, que, na mesma idade, jogara o objeto precioso no mato infestado de lagartos, em frente à casa nova. Nem como o avô, que quase perdera o dedão numa surra memorável para aprender a não sugá-lo. Nem como o bisa… bom, se o bisa chupava alguma coisa era cana, descascada e cortada em estilo palito.
Enfim, ele desenvolvera um apego muito grande a essa borracha em forma de mamilo, que lhe fora imposta nos primeiros dias de choradeira. No princípio, a coisa era nauseante, mas, na ausência do peito da mãe, foi ganhando vida e saciando suas necessidades imediatas.
Aos três anos, começou a pressão para o menininho “deixar de ser bebê”. Bico era coisa de quem ainda usava fraldas, e ele já havia estreado a “cuécua”, como insiste em dizer até hoje.
Tudo bem, mas ele não seria tão insensível a ponto de abandonar um grande amor de forma grosseira, tipo “Cai fora, que você vai me deixar bicudo”. Não, ele não seria assim ingrato.
Foi aí que entrou o Papai Noel. Essa figura mágica que, com a insistência dos adultos, a criança também aprende a amar, teve a dolorosa missão de levar a chupeta para a Lapônia, no Polo Norte.
Assim, o velhinho de barba branca enfiado em uma roupa vermelha que o fazia suar em bicas, embarcou em seu trenó puxado por renas voadoras e desapareceu com o bico.
A saudade doeu, mas foi, aos poucos, substituída pelas amizades – os afetos foram transcendendo os limites do lar. Miguel, Martina, Amandinha, Júlia, Maria Eduarda… e mais uma penca de coleguinhas, cujos nomes ele sabe de cor e salteado, passaram a fazer parte de sua rotina diária.
Tudo andava bem até a semana passada, quando uma das avós foi ter com ele. Abrindo um parêntese, é bom esclarecer que nessas ocasiões, coisas acontecem. O menininho fica mais ousado, com olhar mais agudo e curiosidade incontrolável. E a palavra “não” some do vocabulário.
Retomando. Então nosso “homenzinho” vislumbrou, lá de baixo, um minúsculo pote lá em cima, no alto da prateleira, e quis ver o que tinha dentro. Como já era esperado, ele não aceitou os argumentos da avó sobre as dificuldades para alcançar o objeto. Ela se superou para escalar um banquinho e de lá erguer o netinho, que agarrou o pote, abrindo-o com avidez.
-VÓ, O PAPAI NOEL NÃO LEVOU MEU BICO! – gritou entre surpreso e desconfiado.
Depois, ficou acariciando a borrachinha macia, tentado a colocá-la na boca, mas se conteve. Afinal ele era “grande”.
E a chupeta voltou ao lugar.
Logo, logo, o Natal estará chegando, com sua bagagem de fantasia. As perguntas serão imprevisíveis, e as respostas deverão ser consistentes. O bom velhinho que se prepare! Né, Benício?