Então o cara finalmente aceitou o fato de que exercício mental não é uma boa maneira de perder peso, já que, para emagrecer cem gramas, seriam necessários quinze dias de intensa atividade cerebral. E os neurônios nunca param mesmo, nem quando estão em repouso, pois fabricar sonhos – geralmente estapafúrdios – também demanda uma pitada de energia. A constatação não só revela a potência de nossa massa cinzenta, que faz tanto com tão pouco, como também confirma a necessidade do “mexa-se”. Ao pé da letra.
Estudadas as alternativas, ele optou pelo ciclismo, que não agride os joelhos, queima quatrocentas calorias por hora, fortalece as pernas, tonifica os músculos do abdômen e contribui para a manutenção do equilíbrio, conforme reza a literatura médica.
Escolhido um grupo ou acolhido por um grupo que pedalava há tempo, lá foi ele para sua primeira experiência em nível quase profissional. O roteiro consistia em descer o morro que serpenteia o Rio das Antas até o Rio Taquari e retornar. A descida foi perfeita. O vento batendo no peito, os cinquenta tons de verde iluminando o caminho, o cheiro de natureza, o ruído das cascatas, e a velocidade da bicicleta ladeira abaixo, tudo contribuía para tornar aquela atividade física em prazer.
Depois de várias mariolas para repor a energia gasta, a volta. Nos primeiros quinze quilômetros, o estreante manteve o ritmo. Mas quando o aclive verticalizou, a coisa ficou feia. Com a energia se esvaindo pelos poros, ele começou a desacelerar. E isso chamou a atenção de um pet enorme, musculoso e com cara de mau, que estendeu a sua função de olheiro e segurança da casa, para perseguidor de ciclista desalentado na estrada. As bochechas do monstro faziam slep, slep, slep… O sujeito não sabia que santo chamar, e nem adiantaria, porque, segundo o provérbio, não é na subida que eles ajudam. Percebendo o problema, o amigo que estava mais próximo gritou:
– Acelera, César! Se tu diminuir o dog vai pegar tua perna. Tu tem que confundir ele.
O instinto de preservação mexeu com os hormônios do homem que acabaram despejando uma carga de adrenalina, de endorfina, de dopamina e cortisol em sua corrente sanguínea. De repente, ele descobriu uma reserva de combustível e acelerou adoidado, deixando o dogue para trás.
Moral da história (em “talian”): “Quando l’acqua tocca il col, se impara nadar”.