Com um sorriso no rosto e a simplicidade de quem trilhou o caminho do sucesso com os pés no chão, o empresário, fundador do Di Paolo, fala sobre sua história, percepções, consolidação dos empreendimentos e os novos planos

Um empreendedor que apostou no tradicional, no bem feito, no aprendizado diário e na vocação. De sorriso simples, contagiante e humilde, Paulo Geremia, fundador do Di Paolo, escolheu a Serra Gaúcha para firmar ainda mais suas origens. Apesar de não ser natural desta terra, foi aqui que fortaleceu seu negócio, com a ajuda da família, e expandiu seus projetos para outras regiões do estado e do país.

As origens

Nasci em Guaporé, que depois virou município de Dois Lajeados. Sou do interior, de uma família de 15 irmãos. Na minha juventude, as vivências foram na agricultura, estudava meio turno e no outro trabalhava com meus pais. O bom era que aprendíamos a fazer muita coisa. Fiquei por lá até os 18 anos. Com essa idade, fui servir o quartel em Bagé e após algum tempo fui designado para atender os oficiais. Certo dia, perguntei ao Tenente Mauro Renner para fazer um curso de garçom para me qualificar, aprender mais, servir melhor. E foi aí que tudo começou. Quando retornei do serviço militar, já sabia atuar no ramo. Fui para Torres, trabalhei por lá e foi aí que conquistei minha primeira independência financeira. Voltando do litoral, fui atuar no antigo Pão e Vinho. No local, temperava, assava galeto e vendia, pois tinha um armazém. Convivi com aquela família e foram anos de aprendizado. Trabalhei um tempo em Caxias e depois fui sócio da Churrascaria Ipiranga. Fiz viagens para diferentes lugares do mundo para adquirir experiência. Quando voltei me desmotivei do que tinha para me motivar a fazer algo a mais. Uma das coisas que você deve pensar quando vai abrir um negócio é que o mais importante é você entender dele, saber servir, ensinar e cobrar se está certo ou não está.

A concretização do Di Paolo

No início, em 1994, éramos eu, meu irmão Roberto e mais seis funcionários. Também contratamos uma agência de propaganda para criar a marca, um relações públicas e um decorador. O primeiro espaço estava localizado entre Bento Gonçalves e Garibaldi, ao lado do Castelo Benvenutti, existente até hoje. Na época chamava-se Giuseppe e depois passou para Di Paolo. Lá, desenvolvemos um sistema de serviço que era semelhante, igual ou parecido de muitos. Porém, tínhamos que desenvolver a estética. A Dalva nos ajudou durante muito tempo nesse processo. Fizemos muitas reuniões com a equipe para alinhar melhorias e, principalmente, fazer tudo na hora. Tudo isso sempre com muito cuidado, capricho, sabor e padrão, servido na mesa. Logo após abrirmos a primeira casa, fomos avaliados e ganhamos como a destacada qualidade da cozinha pelo Guia Quatro Rodas. Depois, por 11 anos, como o melhor galeto do Brasil. Isso muito nos orgulha. Os turistas provaram e aprovaram, pois iam até o local com o livrinho do guia. Esse foi um reconhecimento para toda a equipe. Durante a trajetória da casa, fizemos pesquisas, e realmente chegamos à conclusão que não somos comida italiana do sistema italiano, nós somos dessa região, onde os imigrantes usaram o que tinham, inventaram o sagu, o galeto nos anos 60. O sistema de sequência não existe na Itália, existe aqui, é um patrimônio da Serra Gaúcha e nós queremos levá-lo em vários lugares do Brasil com essa originalidade e autenticidade.

Expansão

A expansão se deu bastante ao natural. Quando estávamos na primeira casa aqui, fomos convidados para ir ao Shopping Iguatemi, em Caxias, e deu super certo. Depois, fomos para o espaço próximo à Pipa Pórtico, que foi uma ótima oportunidade. Após isso, fomos para Gramado, abrimos em um novo local em Caxias e na Quarta Colônia. Tive uma experiência na Espanha, que serviu para valorizar ainda mais o Brasil, pois as oportunidades para crescer estão aqui. Outros grandes passos foram em Porto Alegre e Itapema, Santa Catarina, onde está meu irmão Roberto. Com a ida à capital gaúcha, ficamos com muita visibilidade para ser também alvo de desejo do paulista. Foi aí que surgiu o primeiro passo para ir à São Paulo, e hoje por lá já temos três casas: em Vila Olímpia, Pinheiros e no Lar Center. Agora, como novidade, vamos abrir, no dia 11 de novembro, no bairro Jardim Botânico, em Curitiba. Depois desta, nós pretendemos ampliar para o interior de São Paulo. Têm cidades boas como Jundiaí, Sorocaba, São José dos Campos e Campinas. Pode-se pensar Rio de Janeiro, Brasília e também Minas, desde que a gente desenvolva uma central de distribuição em São Paulo.

O segredo do Di Paolo

São vários, cada um com sua particularidade. No galeto é a sálvia, saber temperar, assar com o calor certo. Outro segredo é ter pessoas boas que trabalhem todos os dias com amor, capricho e comprometimento, tanto na cozinha quanto no salão. Para dar certo, as pessoas tem que vivenciar o negócio. A teoria é ótima, a prática vem fazer a perfeição. Dentro da nossa empresa, um bom garçom é um bom garçom quando ele ensina outro como multiplicador a fazer igual a ele. Com isso todo mundo ganha. O elogio virá para o Di Paolo, mas a região vai acabar ganhando também com a vinda do turista para cá.

Di Paolo feito por pessoas

Muitos de nossos colaboradores estão conosco desde o início. Eles sabem levar a identidade das casas, a qualidade padrão. Temos que trabalhar muito com a ideia de formar pessoas e no Di Paolo temos esse exemplo. Todos os sócios franqueados ou sócios operadores tiveram anos de experiência na casa. Outra coisa que fizemos muito foi trabalhar com uma escola de formação e junto com isso criar todos os padrões e manuais para que possamos expandir. Digo que esses manuais são o maior patrimônio da empresa, junto com as consultorias que nos ajudam. Quem vem em um dia, sabe que vai encontrar o mesmo padrão no outro dia em todas as casas.

O que ainda falta fazer?

Ainda tenho muitos anseios, principalmente de abrir mais casas. Hoje tenho em torno de 480 funcionários, mas meu sonho é ter mais de mil. Outra coisa que ainda busco na vida, além de viajar bastante, é construir mais. Fazer uma construção maior, uma vinícola, com marca, é um sonho possível. Já tem o local, temos um projeto em futura execução com um grande parceiro, o Paulo Bruschi. A proposta está em processo de desenvolvimento, pesquisa, possibilidade de tamanho e necessidades. O lugar é privilegiado, no coração do Vale dos Vinhedos, e vai ter uma parceria com outra vinícola, já existente, para que a gente não erre e faça produtos sensacionais.


Diferenciação de clientes

O Di Paolo do Castelo é especialista em galeto. O da Pipa Pórtico é galeto e grelhados. Vejo que o bom é que o cliente que vai no Castelo no almoço, pode vir no da Pipa Pórtico na janta. Então, esse foi nosso objetivo: uma variação de grelhados, onde tem mais opção de saladas, massas e molhos. Em pesquisa feita com mais de 600 pessoas, descobrimos que, além de ter essa culinária maravilhosa, os clientes gostariam de não ser obrigados a comer só sequência e, por isso, criamos o sistema de porções. Isso amplia o leque de opções principalmente para os turistas que não querem comer muito e para o público local que quer sair mais vezes.

Aposta no tradicional

Acredito que vale a pena manter aquilo que tem autenticidade. Sempre que alguém vem de fora, o que ele mais busca é aquilo que é cultura verdadeira, arte e atrativo. Nosso trabalho é responsabilidade e comprometimento com a originalidade.

Aprendizado com as viagens

Dizem que tudo se cria, nada se copia. Temos que ser simples para perceber que se vejo alguém fazendo melhor que eu, tenho que ter a humildade de aprender e crescer com ele. Então, toda a nossa qualificação de ambiente, de porções menores, servida, foi de aprendizados em viagens pela Europa. Quando estive em Nova York, obtive a experiência do outservice, que serve para os expressos. O sistema de trazer alguma novidade foi por estágios feitos na Itália, porém, o modo de fazer é um pouco diferente. Nós somos inteligentes, criativos e temos condições de melhorar sempre com simplicidade e humildade, além do trabalho em equipe.

A magia de se relacionar com as pessoas

Aprendi a me relacionar com as pessoas quando tínhamos o ‘serão’ lá em casa, antigamente. Além disso, nesse nosso ramo, onde atuei como garçom em boates e no convívio com o dia a dia, aprender a conviver e a se integrar é fundamental. Não se perde nada por ter uma boa relação com o próximo. Por isso, todos os dias, quando colocamos a cabeça no travesseiro, temos que ser honestos e verificar o que está bom, o que não está e melhorar. Cada vivência é um conhecimento, desde as coisas mais simples às mais complexas.

Vale dos Vinhedos

O progresso sempre tem o pró e contra, traz um certo desconforto, mas ninguém faz um negócio para não ter sucesso. O Caminhos de Pedra se mantém com autenticidade, por ter coisas bem definidas. O Vale dos Vinhedos teve a necessidade de produzir uvas em outros locais, mas a imagem só cresceu e melhorou. Todas as vinícolas se autossustentaram e cresceram por iniciativa própria, com muito trabalho e dedicação. Diria que o que está falhando é a infraestrutura que está atrasada, no mínimo, cinco anos. Se a estrada será municipalizada, então buscando recursos para fazer uma estrada padrão, larga, com acostamento, ciclovia, estaremos investindo o mínimo que a gente deveria. Além disso, é imprescindível ter hotéis, grandes ou pequenos, mas de alto padrão, no Vale ou próximo. Projetos que venham para somar são bem-vindos. O Vale é grande, sempre há espaços para mais empreendimentos.

Investimentos no Di Paolo Pipa Pórtico

Com a finalização da reforma, vamos ampliar a oferta de produtos. Manter o que temos, mas com o intuito de utilizar bem os dois espaços que estão sendo preparados, das 11h30min às 22h, sem fechar durante a tarde. Além disso, queremos dar mais opções para a parte da tarde e da noite. Vamos ter os paninos, a pizza da Canotto, as porções para atender o público local e turistas a qualquer hora do dia. No Empório teremos marcas próprias, além de diferentes tipos de cachaça, graspa, suco branco, tinto, vinho branco e tinto e outros produtos da região, pois para crescer temos que nos estruturar em vários negócios.

Visão do Executivo Municipal

Acredito que o atual executivo municipal tem que retomar força. Nós vimos, e se alguém quiser provar ao contrário, um dos melhores prefeitos que o Rio Grande do Sul tinha, o Guilherme Pasin. Tivemos o mandato de um bento-gonçalvense firme, com escola, com conhecimento, que nos fez avançar. Infelizmente o novo prefeito se elegeu no meio da pandemia e acho que está cuidando da saúde, da manutenção, o turismo está excelente. A indústria está funcionando a todo vapor, a infraestrutura está se mantendo, colégios e a vacinação foi super bem, mas não dá para cobrar ainda grandes obras. O que ele podia fazer durante a pandemia está aprovado.

Governo Estadual

Vejo que o governador deu continuidade ao governo José Ivo Sartori em vários projetos. O Sartori plantou a semente, que germinou e cresceu com o Eduardo Leite. Com a privatização da CEEE, possível privatização da Corsan e outras empresas, além da reforma do funcionalismo público o resultado, neste momento, é bom, pois ele vai reformar as estradas e fazer as demais concessões, que são uma necessidade. Queremos que arrume as estradas da Serra. Um erro foi não baixar o ICMS no início do ano. O nosso setor teve uma adequação nos impostos, estamos pagando um ICMS fixo que é bom. Ao meu ver, entretanto, vai precisar de mais reformas.

Pedágios e concessões

Não tem nem como achar bom ou ruim, é a única saída que tem para ter infraestrutura de logística. É o mundo. Não adianta querermos discutir essa questão, o que temos que discutir agora é o justo pedágio.

Governo Nacional

Se começarmos lá do início, de quando o Bolsonaro ganhou e com a pandemia, ele foi o melhor presidente que o Brasil podia ter nesse momento. Certo ou errado, não viramos Argentina com uma inflação de 51%. Porém, ele podia ter acertado mais, ter sido mais humilde e simples. Poderia ser melhor. Não quero ser contra ou a favor e nem ficar no muro, quero dizer que o resultado do Brasil está sendo bom agora que reabriu. O Brasil é bom em competência da iniciativa privada e é uma desordem no poder público, no sentido da política. Essa desordem prejudica a iniciativa privada, o investidor.

Sucessão do Governo do Estado

Gostaria que fosse alguém que desse continuidade ao governo do Sartori para frente. São governos da direita. O Heinze é uma boa proposta, o Onyx está na frente das pesquisas, Sartori seria bem-vindo para retornar, até o presidente da Assembleia, o Gabriel Souza, poderia ser um nome, bem como o Roberto Argenta.

Federasul

Entrei para a Federasul representando o Centro da Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Bento em demandas, sugestões e relacionamentos com os demais CICs do estado. Depois, assumi a gestão de dois anos como vice-presidente regional e hoje sou somente diretor. A Federasul se comunica com todo Rio Grande do Sul. É uma oportunidade muito boa de se fazer presente. Desde que estou lá, vejo que a entidade teve avanços e ganhos para toda a sociedade produtiva.

Conselho aos mais jovens

O jovem, para ser empreendedor, deve se preparar, estudar, fazer vivência naquilo que quer e escolher a estrada. Fazer bem feito, crescendo com segurança, persistência e criatividade, não tem como dar errado. Se está no caminho certo não é problema mercado, dinheiro, pessoas. Muitas vezes pode demorar, mas vai dar certo. Na profissão é a mesma coisa: vai, acerta e erra, mas não desiste. A persistência e o trabalho vão ter sucesso do tamanho que ele almeja, porém, sem coragem, sem arriscar, não vai para lugar nenhum. Existe o risco de arriscar e aprender ou perder, mas não é sem fazer a ação que se vai para algum lugar. É da ação que vem a solução.