Ainda pouco conhecida por muitos, carreira é voltada à assistência a gestantes e famílias

O momento de dar à luz é sempre motivo de preocupação para as mulheres. Quem espera um filho idealiza como será o grande o dia, se fará uma cesárea ou um parto normal. Nenhuma mãe quer que esse seja apenas mais um procedimento de rotina, tem que ser um momento especial. Para tornar esse desejo possível, novas profissionais estão conquistando espaço no mercado de trabalho: as doulas. A palavra vem do grego e significa “mulher que serve”. Em 1996, foi definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que a doula é uma prestadora de serviços que recebe um treinamento básico sobre parto e que está familiarizada com uma ampla variedade de procedimentos de assistência.

Normalmente, essas especialistas são médicas, enfermeiras, professoras de educação física, ioga ou pilates, ou de outra área de formação afim. A capacitação para as doulas engloba algumas técnicas, como posições que podem aliviar as dores e massagens. São métodos não farmacológicos que podem tornar o momento menos traumático.

Paula se dedica há quatro anos no acompanhamento às famílias. Foto: Arquivo pessoal, Vitória Santoro

Foi ao perceber essa realidade, ainda durante o curso de graduação, que a bento-gonçalvense Paula Dalla Costa Siqueira, 24 anos, decidiu se tornar doula, na qual é atuante há quatro anos e uma das 33 integrantes na Associação de Doulas do Sul (ADOSUL). Psicóloga, Consultora em Amamentação, idealizadora do Espaço RUAH – Assistência Materno Infantil e mãe do pequeno Gael, de quase oito meses – não necessariamente nessa ordem –, ela conta que resolveu colaborar na mudança daquilo que via nas maternidades. “Antes mesmo de fazer a formação de doula, esse universo do parto me encantava. Iniciei participando de rodas de gestantes, mesmo sem estar grávida, apenas para ouvir as histórias e ficar mais próxima. Mas, o que mais me moveu e me fez decidir, de fato, por essa profissão não foi a parte bela de um nascimento humano, mas as histórias traumáticas e com muitas violências que a maioria das mulheres passam em um dos momentos mais importantes de suas vidas. Comecei a estudar e a entender como se dá a assistência ao parto em nosso país e estado, e percebi o quanto as mulheres merecem uma assistência mais respeitosa, humana e baseada em evidências científicas”, relata Paula.

Temos uma missão de lembrar as famílias o quanto esse momento pode ser uma experiência incrível. Paula Dalla Costa, Doula

Os resultados do apoio da doula vêm trazendo revelações surpreendentes na redução das intervenções e complicações obstétricas, além de facilitar o vínculo entre mãe e bebê no pós-parto. “É um misto de emoções, pois temos o privilégio de vivenciar um dos momentos mais importantes pra maioria das famílias, que é a chegada de um novo ser no mundo. Sinto que temos uma missão de lembrar as famílias o quanto esse momento pode ser uma experiência incrível em suas vidas, mesmo sendo muito desafiadora”, destaca.

Doula na pandemia

Foto: Arquivo pessoal

Mesmo a entrada da doula não sendo permitida nos hospitais por causa do coronavírus, Paula reitera que a atuação na área se tornou ainda mais importante. “O nosso acompanhamento com as famílias acontece ainda na gestação e permanece no pós parto, ajudando a esclarecer muitas dúvidas sobre esse universo da maternidade, parto e puerpério. Chamamos isso de educação perinatal. Nosso trabalho visa auxiliar no processo de empoderamento da mulher para que, independente das circunstâncias, ela acredite no seu corpo e no seu potencial. Em tempos de pandemia, onde as mães estão passando por uma gestação muito solitária, por fazerem parte também de um grupo de risco, a doula vem para suprir essa lacuna que existe na assistência ao parto, de cuidado emocional, psicológico, afetivo e informacional à mulher e família. Acreditar nas mulheres e incentivar a sua autonomia nesse processo de parir e maternar faz parte do nosso serviço”, frisa.

Agosto é um mês dourado

O mês de agosto simboliza a luta pelo incentivo à amamentação, conhecido como Agosto Dourado. Estudos comprovam que a amamentação é capaz de salvar a vida de cerca de 13% das crianças, menores de cinco anos.

Paula também é consultora em amamentação. Ela pontua que assim como o processo de gerar, a amamentação não é apenas um processo fisiológico, mas também cultural, social e emocional. “Ouso dizer que se preparar para amamentação é tão importante quanto se preparar para o parto. Mesmo sabendo que a maioria das mulheres terá plenas condições de amamentar, muitas vezes os palpites, as informações erradas e as inseguranças podem aparecer após o parto e acabam por dificultar muito no processo. Por isso, estudar, ler e se informar com profissionais qualificados e atualizados se faz muito necessário”, sublinha.

A Doula aponta ainda que atualmente a recomendação da OMS é que os bebês sejam amamentados de forma exclusiva até seis meses e por no mínimo dois anos. No entanto, a média de amamentação no Brasil é de 54 dias. “Por isso devemos nos questionar: o que tem acontecido que as mulheres não têm conseguido amamentar seus bebês? Nós, enquanto sociedade, temos sido uma rede de apoio que, de fato, apoia e incentiva a amamentação? Amamentar não é uma tarefa fácil. Envolve rede de apoio, incentivo, persistência, treino, paciência e também auxílio profissional se necessário”, reitera.

Importante

Sucesso no aleitamento:
1 – Postura e pega correta
2 – Amamentação em livre demanda
3 – Evitar o uso de bicos artificiais para não causar confusão de bicos
4 – Apoio
5 – Alimentar-se e hidratar-se
6 – Descansar (dentro do possível)