O parto humanizado – conceito utilizado para o incentivo de nascimento de crianças da forma mais natural possível, com menos interferência médica e respeitando os desejos da gestante – tem sido tema preocupante para os profissionais, quando fala-se em realizar o procedimento distante de um hospital, em casa.
Em Bento Gonçalves, as recomendações médicas tem funcionado. Em 2019, de acordo com dados da Vigilância Epidemiológica do município, quatro crianças nasceram em casa. Nos quase nove meses de 2020, apenas um nascimento ocorreu em domicílio.
Mesmo com a recomendação de sair de casa o mínimo possível em meio à pandemia da Covid-19, de acordo com a obstetra Danielle Fenner, o risco de um nascimento em casa é maior do que o de contaminação dentro do hospital. “O parto tem sido muito tranquilo e humanizado. Não indicamos parto domiciliar e só sabemos dos desfechos com complicações que acabam indo para o hospital”, explica.
Nascimento com menos riscos
Segundo a doula Michele Furlanetto, o parto humanizado é feito para que a gestante possa trazer uma criança ao mundo da melhor forma. “Não tem diferença entre uma cesariana ou um parto normal, das duas formas é possível ter uma humanização no momento do nascimento”, afirma.
Michele destaca também que o parto no hospital é mais seguro, pois lá existem todos os aparatos e preparação médica para proporcionar os cuidados necessários em todas as circunstâncias. “Antigamente era totalmente contra a cesárea, mas, no decorrer desse período como doula, aprendi a respeitar o que é necessário. Por meio de um parto, você vai estar trazendo uma vida ao mundo, e nesse processo existem intercorrências que podem acontecer. Já presenciei vários momentos onde foi necessário ter o auxílio médico no exato momento, na hora certa. Se algumas coisas tivessem acontecido em casa, o desfecho não seria tão bom para a mãe e para o filho”, acredita a terapeuta.
A doula afirma que durante a pandemia, houve mais procura por realizar partos domiciliares. Entretanto, o Conselho Regional de Enfermagem do Rio Grande do Sul (Coren) não tem nenhuma parteira registrada. “Este dado é importante para quem busca atendimento, pois sem registro profissional se configura exercício ilegal de profissão”, orienta.
Para Danielle, é necessário observar todos os prós e contras de um parto domiciliar, pois mesmo com um profissional qualificado, os riscos existem. “É preciso ter pediatra em sala para atender o recém-nascido, imediatamente. Problemas como retenção placentária, atonia uterina, hemorragia por parto e laceração de parto são vistos logo após o nascimento. Os médicos não acompanham o parto domiciliar. Existem urgências em que o bebê precisa nascer em até cinco minutos, isso não torna possível realizar um parto com segurança em casa”, explica a obstetra.
O trabalho de uma doula
Michele lembra que a sua função é estar a serviço da gestante, mas que não faz parto. “Quando atendo um casal, explico como ocorre uma cesariana, um parto normal e suas etapas. E o principal: que a dor de um parto não é sofrimento, mas uma contração a menos. É um sinal que o bebê avisa que está logo aí. Também mostro as possibilidades do melhor momento para ir ao hospital, além de massagens para aliviar as contrações, juntamente com óleos essenciais. Damos o apoio psicológico, emocional, com palavras para que a mulher tenha segurança, confiando em seu corpo”, conclui.
Fotos: Arquivo pessoal