Partidos de Bento relaram dificuldade de inserir mulheres na política
Dados recentes do Tribunal Superior Eleitoral apontam que no Brasil, 52,63% do eleitorado é do sexo feminino, contra 47,34% do masculino. Esse cenário é muito parecido em Bento Gonçalves, onde as eleitoras mulheres representam 52,10% do eleitorado, enquanto 47,90% são homens. Embora os números comprovem que as mulheres compõem a maior parcela do público votante, na Capital do Vinho, a Câmara de Vereadores é composta por 17 parlamentares, todos homens.
Com o fim das coligações, determinada por Emenda Constitucional, a partir do ano que vem, os partidos políticos estão vedados de realizar coligações nas eleições para câmaras municipais. Como consequência, naturalmente deve acontecer um incentivo maior à participação das mulheres nesse meio, uma vez que cada legenda deverá individualmente encaminhar à Justiça Eleitoral a lista de candidatos que vão concorrer ao pleito, respeitando o percentual de cotas que determina o mínimo de 30% para um sexo e o máximo de 70% para outro.
Para descobrir como cada partido político está se articulando para inserir mais representatividade feminina nas eleições de 2020, a reportagem conversou com nove legendas da cidade. Em comum, a maioria citou enfrentar dificuldades para encontrar mulheres dispostas a trabalhar de forma ativa nesse meio, mas garantem que já estão trabalhando para mudar o cenário atual. Confira.
Partido Democrático Trabalhista (PDT)
O Presidente do PDT de Bento Gonçalves, Manuel Nobre, mais conhecido como Ceará, conta que o partido já está fazendo reuniões e visitando lideranças com objetivo de atrair mulheres para a legenda. “Já temos algumas mulheres que se interessam em serem pré-candidatas e estamos trazendo pessoas do segmento da educação, do comércio, da indústria para participar”, adianta.
Ceará destaca que fortalecer a representatividade feminina na política é uma das prioridades do partido, entretanto, relata que existem dificuldades para isso. “É necessária essa preocupação e acreditamos que as mulheres são capazes tanto ou até mais e a gente sente a dificuldade de atrair elas para a política, isso é uma dificuldade do Brasil, as mulheres não querem esse compromisso político, mas nós temos todas as condições de mudar e Bento precisa que todos os partidos olhem para essa questão das mulheres”, acredita.
Partido Progressista (PP)
Carlos Perizzolo, Presidente do PP de Bento Gonçalves, afirma que o partido está buscando mulheres de áreas fortes da cidade, como o moveleiro. “Estamos procurando lideranças de entidades, de setores que o município é forte, para fazer parte do partido, mas muitas delas dizem que agora estão na direção de alguma entidade e que quando deixarem, vão se filiar partidariamente, então a gente encontra realmente essa dificuldade, mas estamos indo bem nesse ponto”, conta.
Entretanto, Perizzolo assume que o partido já está conseguido filiar muitas mulheres que podem ser as candidatas no ano que vem. “Na próxima eleição sem dúvida nenhuma nós vamos eleger uma mulher para a Câmara de Vereadores. A gente tem que reconhecer que as mulheres às vezes têm muitas dificuldades, têm suas atividades, tem que cuidar da família, tem filhos, é muito difícil, mas acho que isso está avançando, tem melhorado muito esse aspecto da mulher participar efetivamente da vida política”, declara.
Partido dos Trabalhadores (PT)
Atualmente, o Legislativo da cidade não conta com nenhum representante do PT, mas, de acordo com Marlene Marsango, eleita presidente do partido para a próxima gestão, “a Câmara de Vereadores de Bento é extremamente machista e estamos trabalhando para que tenha representação feminina do PT na próxima gestão”, declara.
Marlene antecipa que o partido está pontuando mulheres que já estão inseridas e ocupando espaços dentro da cidade. “Estamos conversando com elas, preparando a nominata das possíveis candidatas para 2020 e fazendo todo um trabalho de formação com os candidatos e candidatas”, completa.
Ainda de acordo com Marlene, a intenção do partido é eleger no mínimo dois vereadores, sendo um de cada sexo. “As mulheres precisam realmente cumprir o seu papel dentro da política e não serem usadas dentro dos partidos para cumprir a cota e serem nomes laranjas. Precisamos trabalhar de igual para igual e dar ênfase no comprometimento da mulher, onde ela estiver inserida, seja na família, trabalho, emprego, política. A mulher tem uma sensibilidade maior de observação do que está acontecendo ao seu redor e é nesse sentido que precisamos valorizar muito”, ressalta.
Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB)
A Presidente do Secretariado da Mulher do PSDB, Jandira Kaezala, conta que a estratégia inicial do partido para atrair mais mulheres para a política começou com um levantamento e atualização do cadastrado dos filiados na cidade. Entretanto, revela que menos de 40% dos filiados são do sexo feminino. “Às vezes não temos o cadastro atualizado, o telefone dessas mulheres para fazer o contato e convida-las, então é uma dificuldade que o partido enfrenta com relação a pouca adesão de mulheres”, analisa.
Jandira afirma que o partido está buscando alguma solução para chamar novas integrantes que queiram realmente participar da política. “Já faz aproximadamente três meses que a gente vem se reunindo, conversando, formando algumas ideias, traçando planejamento estratégico para trabalhar, mas aí nos deparamos com essa situação de que ainda temos pouca adesão de mulheres no partido. Queremos mulheres que realmente participem, tenham interesse, não necessariamente em concorrer na próxima eleição, mas que se preparem, que entendam como funciona, até porque quem concorrer tem que estar preparada para assumir o cargo”, afirma.
Movimento Democrático Brasileiro (MDB)
O atual vereador e presidente do MDB em Bento, Idasir Dos Santos, afirma que o partido já abriu tratativas com alguns nomes, mas também revela sentir dificuldades. “Infelizmente a gente vê que algumas ainda têm certo receio de concorrer. Em comparação a vontade de homens, percebemos que ainda é uma minoria e isso é ruim”, diz.
Santos atribui a resistência que os partidos enfrentam em aumentar a representatividade feminina ao ambiente pesado que permeia a política. “As vezes até para nós mesmo se torna difícil, acredito que isso ajuda a fazer com que as mulheres não tenham essa vontade de estar participando”, comenta.
O vereador acredita que o ideal seria que o número de mulheres fosse o mesmo de homens, na Câmara. “Mudaria muito a questão de condução do trabalho, até o comportamento dentro do próprio legislativo porque se formos analisar, estamos pecando muito nessa legislatura, tem dias que é realmente difícil de encarar certas situações que acontecem e tenho certeza de que se tivéssemos um número expressivo de mulheres dentro do legislativo isso tudo seria diferente”, argumenta.
Democratas (DEM)
Adroaldo Dall Mass, Presidente do DEM de Bento Gonçalves, explica que o trabalho do partido no momento é para estimular a candidatura e mostrar a importância das mulheres no processo eleitoral. “É um momento de incentivo para que haja candidaturas efetivas, com potencial, em que as mulheres se sintam valorizadas e incentivadas nesse sentido de poder se eleger”, afirma.
Embora prefira ainda não relevar quem, Dall Mass assume que o partido já tem nomes confirmados para concorrer e que talvez tenha mais mulheres do que o exigido na nominata. “Temos filiações novas e antigas de mulheres que já estavam no partido antes da última eleição, que inclusive concorreram e que agora deverão somar de novo, temos diversos nomes”, conta.
Cidadania
O Presidente do Cidadania de Bento Gonçalves, Volnei Tesser, relata que o partido já está promovendo diversas ações para fomentar a participação feminina, por meio de campanhas, seminários e encontros estaduais. “Já temos o número completo de mulheres para concorrer nessa eleição e com vários segmentos da sociedade”, admite.
Tesser conta que percebe que as mulheres estão ganhando espaço dentro da política no decorrer dos últimos anos. “O Brasil vivenciou uma progressão no debate político em torno dessas questões femininas, como assedio, aborto, maternidade e vem ganhando espaço, então a gente vê que realmente está crescendo essa ideia de fortalecer a mulher para a política”, acredita.
Partido Liberal (PL)
Para a próxima eleição, a intenção do Presidente do PL de Bento, Evandro Speranza, é fazer uma nominata composta por 50% de mulheres. “Tem a dificuldade normal de inserir candidatas a vereadoras mulheres, não é fácil, mas vamos tentar, até porque tem que aumentar a representação feminina”, declara.
Speranza afirma que o partido vai dar possibilidades e direitos iguais para ambos os sexos concorrerem. “Às vezes se prioriza candidatos homens na questão de recursos, de logística, de conduzir o partido. Nossos candidatos vão ter todos os direitos iguais, vamos destinar recursos para quem vai concorrer e vai ser igual tanto para homens quanto para mulheres”, assegura.
Republicanos (RB)
Marcos Barbosa, atual Presidente do RB de Bento, acredita que inicialmente é necessário fazer com a mulher ganhe espaço na política para que possa lutar pelas causas femininas. “A mulher tem que se projetar divulgando suas ideias e falta mulheres que consigam passar essa nova mensagem para a população para que outras também sigam e é isso que o PRB vem trabalhando e buscando”, afirma.
O Presidente do partido também revela sentir que as mulheres têm mais dificuldades em conquistar votos do que os homens. “Por isso às vezes os partidos não valorizam tanto as mulheres, só colocam para que contemplem a cota para colocar os homens que fazem geralmente mais votos”, alega.
Barbosa adianta que o partido está projetando a possibilidade de colocar uma mulher para concorrer ao cargo de prefeita ou vice-prefeita da cidade. “Vai ser um marco importante para os Republicanos e para Bento Gonçalves”, acredita.